No último dia 23, o portal Esquerda Online, órgão da corrente Resistência, do PSOL, publicou artigo chamado E se tivesse dado certo? O plano de golpe “punhal verde amarelo” e o risco que corremos, assinado por Taís Roldão.
A matéria trata das acusações contra bolsonaristas que supostamente, teriam planejado um golpe de Estado, tramando inclusive o assassinato do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e também do vice-presidente Geraldo Alckmin e do ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.
À parte das considerações sobre o plano em si, vamos nos deter, aqui, nas considerações feitas pela autora sobre como se deve combater a extrema direita. Ela diz:
“O fascismo não se derrota com uma vitória eleitoral. É necessária a defesa a quente da democracia e do governo eleito democraticamente, de forma independente das instituições e entendendo suas limitações, mas as defendendo e exigindo que cumpram seu papel – a não ser que queiramos nos aproximar da política bolsonarista, deslegitimando aqueles que agora têm em suas mãos a possibilidade de punir da forma devida Bolsonaro e os golpistas, ainda que com suas contradições. Na atual conjuntura de fortalecimento da extrema-direita e avanço do fascismo, é necessário ter claro quem são nossos inimigos.”
No mesmo parágrafo, a autora consegue se contradizer. Ela começa dizendo que a eleição não vai derrotar o fascismo, o que está certo. Diz que é preciso defender a “democracia” e o governo eleito de forma independente das instituições, exceto pela formulação um tanto abstrata “defender a democracia”, também está correto, mas a partir daí a coisa fica mais confusa.
Roldão quer “defender e exigir” que as instituições “cumpram seu papel”. Quais são essas instituições que devem ser defendidas? A julgar pelo texto, entre elas estriam o STF e a Polícia Federal.
“Pela primeira vez”, afirma o texto, “a Polícia Federal está conseguindo prender generais de alta e baixa patente, mas é preciso ir além de prisões de seus líderes, com medidas efetivas entendendo o nível do enraizamento do golpismo nos militares e na extrema-direita.” Portanto, devemos defender a PF e exigir que ela atue.
Segundo essa ideia, a esquerda deveria aplaudir a PF, uma ideia bastante extravagante para um grupo que se diz trotskista, como é o caso do Resistência. Até ontem, a esquerda defendia o fim dessa instituição chamada polícia, ou seja, o fim do aparato repressivo do Estado burguês.
Não sabemos se a autora do texto acredita que, agora que a PF “conseguiu prender alguns gerais”, ela se transformou numa instituição progressista. A julgar por acontecimentos recentes, como a perseguição a ativistas pró-palestina, fica difícil de acreditar nisso.
“É necessário ter claro quem são nossos inimigos”, diz a autora, que parece não ter claro quem são os inimigos da esquerda e do povo.
O bolsonarismo é inimigo? Com certeza. Seria o único e também mais poderoso inimigo? Com certeza não.
Quem está perseguindo os bolsonaristas são inimigos apenas circunstanciais. O STF e a PF, não faz muito tempo, ajudou inclusive a eleger Bolsonaro.
O Judiciário e a PF ajudaram a colocar os bolsonaristas nas ruas quando um golpe real, não uma simples ideia de golpe, aconteceu e derrubou o governo eleito. Ou seja, o Judiciário e a PF são inimigos do povo.
A autora, que pediu atuação independente da esquerda na defesa da democracia, se coloca totalmente a reboque das instituições “limitadas”, segundo ela, do Estado burguês.
A PF e o STF não são instituições limitadas. São instituições fascistas, anti-democráticas, inimigas do povo. “Limitadas” são as instituições normais, como o Congresso Nacional e o poder Executivo, por exemplo.
Quem está investigando, julgando e prendendo não é a esquerda, não é o povo, são os inimigos do povo. Ao ficar a reboque da PF e do STF, como quer a autora do texto, a esquerda está fortalecendo seu principal inimigo.
Não é difícil de entender por que essas são os principais inimigos. A PF e o STF são controlados por um setor da direita pró-imperialista. São instituições que servem aos interesses mais poderosos do imperialismo, as mesmas que prenderam Lula e ajudaram no golpe contra Dilma.
O fato de conseguirem perseguir alguns bolsonaristas é prova de que são mais poderosos do que estes últimos. Estão colocando em marcha seu aparato repressivo para perseguir alguns, apenas alguns.
Não há de fato uma perseguição ao alto comando das Forças Armadas, mas a setores inferiores. Acreditar que a perseguição judicial conterá o bolsonarismo é uma ilusão.
A esquerda pequeno-burguesa, como revela o artigo do Esquerda Online, perdeu totalmente orientação política e decidiu entregar para os principais inimigos do povo a tarefa de conter a extrema direita. Isso não só não vai dar certo como é muito perigoso já que estão fortalecendo ainda mais o aparato repressivo e anti-democrático do Estado burguês, o que vai se voltar contra o povo.