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Guerra na Palestina

O Oriente Médio se aproxima de uma ‘nova Primavera Árabe’?

Um ex-membro do Conselho Executivo do FMI cunhou o termo “nova Primavera Árabe” para o que está por vir no Oriente Médio, o que levaria ao fim da presença dos EUA na região

A crise no Oriente Médio, iniciada com a operação Dilúvio de al-Aqsa do Hamas, no dia 7 de outubro de 2023, só cresce. Ela rapidamente saiu do âmbito palestino, alcançado o Líbano em 1 dia, o Iraque, a Síria e o Iêmen em semanas e o Irã em menos de 2 meses. Isso levando em conta apenas a questão militar, pois no quesito popular as manifestações aconteceram no Oriente Médio inteiro na primeira semana. Agora até pessoas ligadas ao mercado financeiro, como Hussein Askari, ex-membro do Conselho Executivo do Fundo Monetário Internacional, falam de uma nova Primavera Árabe.

Ele afirmou: “na minha opinião, podemos testemunhar uma repetição da Primavera Árabe, mas com anabolizantes”.  Enfatizou ainda: “à medida que a situação se agrava, os líderes dos países árabes estarão sob ameaça de derrubada se não lutarem e não apoiarem os palestinos”. E concluiu: “os governos dos países árabes não podem se dar ao luxo de continuar fechando os olhos para a situação desastrosa dos palestinos. Eles terão que adotar uma posição firme em relação aos EUA e romper todos os laços com Israel”.

E no fim ele ainda destacou que os EUA terão de retirar as tropas do Iraque e reduzir a sua presença militar tanto no Barém quanto no Catar, onde se encontram as principais bases norte-americanas na região. E fechou sua fala com uma previsão: “o rosto do Oriente Médio mudará radicalmente”. As colocações de um homem diretamente ligado ao mais alto ramo do capital financeiro são importantes, pois refletem a mentalidade do principal setor da burguesia imperialista. Já está claro que a crise é tão grande que mudará radicalmente a realidade no Oriente Médio.

A Primavera Árabe

Aqui é preciso avaliar o que foi a Primavera Árabe para se compreender o que Askari quer dizer. Os regimes políticos no Oriente Médio eram consideravelmente diferentes antes de 2011. É possível considerar que os últimos 13 anos foram uma grande época de transição. Em 2008 a crise financeira balançou completamente no mundo. Na América Latina ela se reverteu na atual fase de golpes de Estado constantes começando em 2009 com Honduras. No Oriente Médio houve um enorme levante popular contra todos os diferentes regimes políticos.

O imperialismo, em alguns casos, capitalizou em cima, conseguindo manobrar a situação; em outros foi derrotado parcialmente ou totalmente. O país mais destruído foi a Líbia: lá o presidente Gadafi foi derrubado por um golpe e assassinado em um processo orquestrado pelos EUA, de forma que até hoje o país não se recuperou. No Egito houve uma vitória inicial: a ditadura militar de Mubarak foi derrubada e Morsi foi eleito. No entanto, o imperialismo organizou um golpe de Estado em 2013 e impôs uma nova ditadura militar, agora com al-Sisi. No Iêmen a Primavera Árabe venceu, o Ansar Alá (chamados de Hutis) tomou o poder em 2014, 2 anos depois do presidente ter sido derrubado por grandes manifestações. Eles lutaram uma guerra de libertação nacional por 8 anos e estão mais fortes que nunca.

O caso da Síria é o mais importante na crise imperialista. A manobra foi parecida com a da Líbia, mas não funcionou. Ao invés de Assad ser derrubado, iniciou-se uma guerra civil. Com a ajuda da Rússia e do Irã, Assad venceu essa guerra, apesar de não conseguir ainda unificar o país. O Estado Islâmico surgiu no caos da Síria. No entanto, foi derrotado pelos sírios e pelos iraquianos, com fundamental ajuda do Irã. Assim, o país persa ganhou uma enorme influência política em ambos esses países, bem como no Iêmen e no Líbano, onde a relação já existia com o Hesbolá. A Palestina também naturalmente se aliou aos iranianos, assim surgiu o Eixo da Resistência.

Al-Aqsa, o início do dilúvio?

O mais importante é que a primavera árabe, que foi uma gigantesca mobilização popular de características revolucionárias, desestabilizou completamente o controle imperialista da região. Apesar de a revolução ter sido derrotada em quase todos os países, ainda assim desestabilizou todos os regimes políticos, até mesmo o das monarquias. Demonstração disto é a Arábia Saudita e Emirados Árabes terem aderido aos BRICS. O mesmo vale para a ditadura militar do Egito. O imperialismo instaurou o caos, mas no fim quem se fortaleceu? O Eixo da Resistência. E quem se enfraqueceu? O Estado de “Israel”, principal baluarte do imperialismo na região.

Nessas condições de fraqueza, uma nova Primavera Árabe teria uma consequência gigantesca. Como Askari mesmo afirmou, seria uma expulsão de toda a presença militar norte-americana da região, que resultaria n derrubada de regimes reacionários como o do Egito e até a derrubada das monarquias do Golfo Pérsico, que é o que há de mais atrasado na região. Seria um progresso avassalador, que poderia ainda levar ao desaparecimento do Estado de “Israel” e das bases militares dos EUA no Médio Oriente.

Basta pensar na crise gigantesca que existe hoje apenas com ações de poucos governos e grupos armados. Quando o povo entrar em ação, e principalmente a classe operária dos principais países como o Egito, será totalmente impossível para o imperialismo se sustentar. A crise de 2008 até hoje não foi superada. O que significa que todas as condições estão maduras para uma nova Primavera Árabe; resta saber qual será a faísca para esse acontecimento. Da Faixa de Gaza pode muito facilmente surgir essa centelha.

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