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Mandato Britânico

O impasse dos ingleses após a Revolução Palestina de 1936

O sionismo enfrentava seu maior desafio desde que a Palestina se tornou uma colônia dos ingleses, em 1939 uma conferência em Londres debatia qual seria a política do imperialismo

Quanto a Revolução Palestina de 1936 estava sendo derrotada, o imperialismo britânico começou a redefinir como seria o seu domínio da Palestina. O Partido Comunista da Grã-Bretanha analisou os acontecimentos em seu jornal Labour Monthly. Foi organizada uma conferência entre os sionistas e lideranças palestinas com o governo inglês em Londres. O plano estabelecido não era exatamente o que foi implementado em 1948, com a criação do Estado de “Israel”, mas aponta na direção do que estava sendo implementado.

O artigo a intitulado a “Conferência Árabe-Judaico” começa: “o Relatório Woodhead, no qual três diferentes esquemas de partição foram examinados, provou com uma abundância de fatos e números que a partição era impossível. ‘Dissemos que, em nossa opinião, há uma hostilidade profundamente enraizada à partição em qualquer forma entre a população árabe da Palestina, e estamos convencidos de que o plano recomendado pela Comissão Real levaria a um surto de rebelião geral que só poderia ser suprimido por medidas militares rigorosas e possivelmente prolongadas’”.

Naquele momento de divisão do imperialismo, o governo inglês ainda considerava impossível o plano da partição. A Palestina acabava de sair de uma revolução, o que também aumentava o medo de fazer um plano tão violento no país. Mas após a Segunda Guerra Mundial o imperialismo se sentia mais seguro a implementar o plano da partição.

Então ele destaca: “qual será a futura política da Grã-Bretanha? Já foi dada uma indicação disso. Esta é a Conferência de líderes judeus e árabes que o Governo Nacional pretende convocar em breve. Em sua declaração de política, declarou que os representantes judeus que serão convidados serão da Agência Judaica e os representantes árabes que serão convidados serão aqueles árabes da Palestina e dos Estados árabes vizinhos que são ‘moderados’ em sua opinião. O Grão-Mufti, ou seus seguidores, serão excluídos, já que todos são alegadamente ‘responsáveis’ pela ‘organização’ do ‘terror’ e da ‘violência’”.

Aqui dois pontos se sobressaem. Primeiro que os árabes já são acusados de terrorismo naquele momento. Segundo que o imperialismo ainda estava utilizando os líderes árabes aliados dos britânicos para manter o seu controle. Foi assim na Jordânia, no Iraque, no Egito e nos países do golfo. Na Palestina isso também era feito, com a diferença de que os sionistas também eram aliados dos ingleses e mudaram muito a equação. Tanto é que a revolução na Palestina aconteceu ainda na década de 1930, nos demais países árabes ele aconteceria na década de 1950.

O texto segue: “quem são os árabes ‘moderados’? São aqueles nacionalistas árabes que se opõem à política anti-imperialista e de independência nacional total do agora suprimido Comitê Superior Árabe liderado pelo Grão-Mufti, e estão dispostos a comprometer-se com o governo britânico e os sionistas”. Ou seja, não falsos nacionalistas. Se dizem nacionalistas mas não lutam contra o imperialismo ingles.

Ele explica: “eles estão, principalmente, organizados no Partido de Defesa Nacional, liderado por Ragheb Bey Nashashibi. Muitas pessoas pensam que a divisão básica entre a facção Nashashibi e a facção do Grão-Mufti é uma de rivalidade tradicional familiar. Esse não é o caso. Essas duas tendências na política nacionalista árabe refletem, em geral, a transformação da economia árabe sob o impacto da penetração sionista, e em particular refletem os interesses de agrupamentos sociais dentro da classe burguesa e proprietária de terras árabe e sua relação com o Imperialismo Britânico. Reduzir a oposição Nashashibi ao Grão-Mufti a uma mera rivalidade familiar é obscurecer toda a questão”.

Além de explicar como se da a luta de classes entre os árabes, com um setor da classe dominante se aliando aos ingleses e outro lutando contra eles há também a participação dos sionistas: “a penetração sionista teve repercussões em todas as camadas da população árabe. As compras de terras judias de proprietários de terras árabes contribuíram em certa medida para a falta de terras que existe entre grandes seções do campesinato árabe. Esses proletários árabes recém-criados, desorganizados, mal pagos e sem qualquer ajuda e proteção estatal, enfrentam a política chauvinista da Histadrut (Federação do Trabalho da Palestina), que defende a ‘limpeza’ de todas as empresas judias de trabalhadores árabes que são obrigados a procurar trabalho nessas empresas para sobreviver. O comerciante árabe e os elementos de ‘colarinhos brancos’ também foram adversamente afetados pela concorrência de imigrantes judeus. Assim, essas camadas são as forças motrizes mais importantes por trás do movimento árabe”.

Ou seja, o sionismo naquele momento dominava organizações operárias na Palestina e gerava uma opressão da população operária árabe por meio de uma espécie de Apartheid, algo que existe até hoje em “Israel” e na Palestina. Esse tipo de luta social existia apenas na Palestina. Nos demais países árabes nunca se criou uma grande comunidade de brancos europeus que disputavam com a população local pelos empregos mais qualificados.

E por fim, ele afirma: “a Grã-Bretanha espera que uma conferência entre os ‘moderados’ possa tornar desnecessária a partição e abrir o caminho para alguma solução de ‘domínio’ árabe e judeu. Não há dúvida de que a Grã-Bretanha desejaria substituir o Mandato por um governo do tipo Estado Livre Iraquiano, com Haifa e Acre sob ‘defesa’ britânica permanente. O motivo disso é claro. O Mandato não pode mais ser sustentado, pois a experiência demonstrou que ele não pode mais proteger os interesses britânicos contra a crescente resistência e hostilidade das massas árabes e judaicas. Assim, a Grã-Bretanha não quer mais se comprometer diretamente com a administração política da Palestina. Uma ‘dominação’ árabe ‘moderada’ (ou um governo árabe sob a máscara do Mandato), uma dominação dependente e marionete, teria a tarefa de suprimir a luta das massas árabes por liberdade, tal como Nuri-es-Said e seus lacaios no Iraque têm feito. A Grã-Bretanha poderia então proteger seus interesses estratégicos vitais na Palestina com a manutenção de guarnições ‘defensivas’ em Haifa e Acre e com a ‘ajuda’ de um ‘Estado’ judeu aliado na Palestina”.

É muito interessante ver as perspectivas que existiam naquele momento antes da criação do Estado de “Israel”. De fato, no Oriente Médio a única colonia que existia era a da Palestina, fora isso todos eram regimes semi-colonias com governantes locais servindo aos britânicos. No entanto, o projeto sionista era a opção número um do imperialismo. Ele enfrentou o seu maior desafia em 1936, quando estourou a Revolução Palestina. Isso abalou os britânicos, mas a derrota da revolução permitiu a reorganização dos sionistas.

O regime estabelecido com o fim da revolução foi transitório. Logo após a guerra, 6 anos depois da conferência, o imperialismo iria pôr o plano da partição em ação. A sociedade palestina ainda não havia se recuperado da derrota da revolução. Foi somente por isso, e pelo apoio direto da União Soviética dirigida por Stalin, que foi possível a criação do Estado de “Israel”.

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