Durante a Segunda Guerra Mundial, a Palestina era uma colônia dos ingleses. O imperialismo havia acabado de esmagar a Revolução Palestina de 1936 e, logo depois, começou a guerra entre a Inglaterra e a Alemanha nazista. Isso, obviamente, teve um impacto direto em todas as colônias inglesas, a Palestina foi uma delas. Na época, o jornal inglês de esquerda Labour Monthly publicou um interessante relato dos impactos da guerra no país árabe. A situação descrita é de tragédia.
O artigo começa: “passar o dia fora dos prédios públicos de Jerusalém é ver todos os tipos de delegações, delegações de desempregados das indústrias de citrus e construção que ficaram desempregados devido à guerra, delegações de imigrantes recém-chegados incapazes de encontrar trabalho, delegações de comerciantes muito pressionados pela perda dos mercados de exportação, delegações de industriais sobre os quais as restrições de crédito estão tendo um efeito catastrófico, muitas outras delegações de caráter semelhante vêm e vão praticamente todos os dias. Essas linhas, escritas pelo correspondente de Jerusalém do London Jewish Times (23 de novembro de 1939), resumem em poucas palavras os efeitos catastróficos da guerra sobre os povos da Palestina”.
Ou seja, do ponto de vista dos sionistas que estavam imigrando em massa para a Palestina, a guerra criou uma gigantesca crise econômica. Um aspecto interessante disso é que essas laranjas, importantíssimas para a economia do país, eram exportadas em grande parte para a Alemanha Nazista. Uma produção totalmente controlada pelos sionistas. O artigo comenta: “a indústria de citros, a espinha dorsal da economia da Palestina, está em um estado crítico. Mais da metade da colheita não pode ser comercializada no exterior. Os bancos estão restringindo muito os créditos, enquanto os produtores de citros árabes e judeus enfrentam a ruína. A Jewish Telegraphic Agency (28 de novembro de 1939) relata que ‘não há praticamente nenhum produtor de citros no país que esteja financeiramente estável”.
O imperialismo britânico, mesmo com a crise econômica, fez questão de transformar a sua colônia em uma ferramenta na guerra contra o imperialismo alemão: “esse método é fazer dos árabes e judeus novamente seus peões no Oriente Próximo, a fim de promover seus objetivos de guerra imperialistas. Nessa tarefa, estão sendo assistidos pelos líderes árabes e judeus reacionários. Quatro fatores apontam nessa direção: (a) o apoio dado à guerra pelos governos egípcio e iraquiano; (b) a nova orientação pró-britânica da liderança dominante árabe palestina; (c) o pacto anglo-turco recentemente concluído; e (d) a promessa sionista de apoiar os objetivos de guerra britânicos”.
Os britânicos fizeram uma ampla campanha para criar uma classe dominante palestina que fosse subserviente aos seus interesses, tais quais os monarcas dos demais países árabes. O artigo destaca: “entre os líderes árabes palestinos, a Grã-Bretanha há muito tem seus agentes e apoiadores de confiança. Os árabes ‘moderados, os pró-britânicos Nashashibis, prometeram seu apoio à Grã-Bretanha dentro de uma semana após a declaração da guerra. Mas o Comitê Superior Árabe, que ainda é reconhecido como a liderança dominante dos árabes palestinos, teve que ser fortemente persuadido a abandonar sua posição anti-britânica. Falastin e Ad Difa, os órgãos do Comitê Superior Árabe, podem ter publicado longos artigos principais conclamando os árabes a apoiar a Grã-Bretanha. Mas Whitehall, até agora, ainda desconfia do astuto e intrigante Mufti que foi exilado da Palestina”.
Amin al-Husseini era o mufti que havia se tornado uma importante liderança palestina na luta contra os britânicos. Ele é caluniado até hoje por ter tentado uma aliança com a Alemanha. O acusam de ser um nazista ideológico. Mas aqui há duas questões importantes. Primeiro, os sionistas eram aliados dos nazistas até o início da guerra, haviam feito o Acordo de Haavara até 1933. E a segunda é que os ingleses se comportaram como verdadeiros nazistas para esmagar a Revolução Palestina. Já a Alemanha prometia liberdade para a colônia inglesa por ser justamente inimiga da Inglaterra.
O artigo aborda esse momento: “há algum tempo se sabe que existia um acordo secreto entre o Mufti e o governo nazista pelo qual o primeiro seria feito, com o apoio nazista, chefe de um Estado unido Palestina-Síria, ligado ao Terceiro Reich. Agora parece que Von Papen, o embaixador alemão na Turquia, ‘ofereceu’ a Palestina, a Síria, os campos petrolíferos de Mosul e até o Irã à Turquia em troca do apoio turco aos objetivos imperialistas nazistas. Portanto, o Mufti pode ter chegado à conclusão de que hoje, na situação atual da guerra, ele pode esperar muito pouco de seus aliados nazistas; e que, em equilíbrio, os interesses daquela seção das classes de proprietários de terras e capitalistas árabes representados pelo Comitê Superior Árabe podem ser melhor servidos por alcançar um compromisso com o imperialismo britânico”.
Ou seja, a campanha sionista contra o Mufti ainda é uma campanha de calúnias, pois, na prática, os alemães tentaram achar aliados mais fortes do que os palestinos, um pequeno país árabe em comparação aos vizinhos. Segundo o Labour Monthly, inclusive, o Mufti se torna um importante aliado dos ingleses ao ser escanteado pelo imperialismo alemão.