Na última semana, o identitarismo foi usado uma vez mais como pretexto para uma guerra aos direitos democráticos do povo brasileiro. Daniel Alves e Robinho, dois ex-jogadores, foram acusados de terem cometido crimes e a esquerda aplaudiu a prisão de ambos, condenando inclusive que a acusação fosse respondida em liberdade por meio de pagamento de fiança – um direito legal.
Sob a bandeira de defender as mulheres, defendem o esmagamento dos direitos dos cidadãos que forem acusados de cometerem crimes. Por pressão da esquerda pequeno-burguesa, o próprio presidente Lula veio a público criticar o fato de Daniel Alves, condenado por estupro, ter saído do cárcere para responder ao processo em liberdade.
À medida que um cidadão for acusado de ter cometido um crime, independente de quem for ou qual crime for, há duas questões asseguradas por qualquer legislação minimamente democrática: o indivíduo não é culpado enquanto não houver trânsito em julgado e, consequentemente, você tem o direito de contestar uma decisão e elevá-la às instâncias superiores, tendo novas chances de se defender perante o tribunal. Portanto, salvo casos excepcionais, o indivíduo pode responder em liberdade. A esquerda, no entanto, abandonou qualquer luta por direitos por uma luta por repressão.
O problema não se trata de Daniel Alves, mas do Brasil. Se ele não possuir o direito de responder em liberdade, é crível acreditar que, para o sistema judiciário burguês, o trabalhador terá esse direito? Luis Inácio Lula da Silva não teve seus plenos direitos durante o processo de sua prisão, sendo encarcerado injustamente por crimes cujas supostas provas eram “com base na literatura”, como afirmou a própria ministra da Suprema Corte brasileira. É crível acreditar que Lula, uma vez condenado sem provas, terá o direito pleno de responder em liberdade quando for acusado novamente de outro crime? Existem direitos que devem ser defendidos pela esquerda, deixando de lado as posições identitárias que, em nome de uma falsa defesa de grupos verdadeiramente oprimidos, visam minar os direitos democráticos. O direito à fiança, o direito do Habeas Corpus e o direito do trânsito em julgado, por exemplo, são direitos políticos que não podem e não devem ser cassados.
A defesa do Estado de direito deve se fazer não por questões morais ou de ideologia, mas por questões práticas e objetivas. É no Estado de direito que alguns, ainda que poucos, direitos são defendidos, como os supracitados de responder em liberdade, fiança e habeas corpus. Sem tais direitos, não é sequer um sistema judicial democrático, controlado pela burguesia da forma que o é, mas um sistema judicial medieval.
Esse assunto é mais um que revela o quão pernicioso é o identitarismo, sendo a linha de frente e o braço da censura do imperialismo. Por meios práticos, agem como se fossem o bolsonarismo da esquerda, travando lutas não políticas, mas com a chave da cadeia em suas mãos.
Foi o identitarismo o braço de ferro responsável por estabelecer a censura e cassar vários direitos, começando pela liberdade de expressão. Tal qual o sionismo, o identitarismo é um movimento altamente contrarrevolucionário, reacionário e pernicioso. O direito de falar o que se pensa já foi cassado por meio de uma ampla guerra travada pelos identitários. Mas, afinal, o que são vozes perigosas? Vozes de quem não gostamos? Pode-se defender privatizações de bens nacionais, mas não pode xingar um juiz de futebol dentro de um estádio de um apelido com base em sua orientação sexual.
É pauta antiga da esquerda a luta contra o chamado encarceramento em massa, devendo assim continuar. A esquerda não deve lutar pela prisão. Deve lutar por condições humanas para os presos. Penas mais leves. Prisão só em casos realmente necessários. Contra as ideias sádicas dos bolsonaristas de que o direito existe para punir as pessoas.