Na histórica Análise Política da Semana deste domingo (25), o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, contou o primeiro relato sobre sua viagem ao Catar e suas reuniões com a direção do Hamas. Um dos pontos mais interessantes foi quando ele abordou o tamanho da organização. Muito longe de ser um pequeno grupo escondido em cavernas, como alguns órgãos de imprensa tentam pintar, o Hamas é quase um governo exilado da Palestina no Catar. São possivelmente milhares de pessoas atuando só no Catar com diversos cargos importantes. Isso é apenas uma das demonstrações do tamanho da organização.
O maior problema relacionado a essa percepção do Hamas é a política da esquerda pequeno-burguesa em geral. Desde o início da atual guerra, em outubro de 2023, a esmagadora maioria da esquerda se coloca contra a defesa do Hamas. No entanto, dada a realidade concreta, isso se torna uma oposição à própria luta do povo palestino. O Hamas é uma organização tão generalizada na sociedade palestina que é impossível defender os palestinos sem ao menos considerar o Hamas como algo de primeira importância, mesmo que se defenda outra força política como a da FPLP ou do Fatá.
A comparação já foi feita outras vezes com os vietnamitas ou com o MPLA em Angola, mas o Hamas é possivelmente ainda mais relevante para o povo palestino que ambos estes casos e as respectivas populações. Ele é de fato a maior organização em toda a sociedade palestina, até mesmo mais importante que a própria Autoridade Nacional Palestina. Aqui vale um comentário sobre esse “governo” que foi estabelecido pelos Acordos de Oslo. Outra revelação da viagem e Rui Costa Pimenta ao Catar foi a percepção de repulsa total à Autoridade Palestina, ela é na prática considerada um inimigo dos palestinos. O principal motivo disso é que ela não é de fato uma organização palestina, mas sim uma sucursal do sionismo que impõe a sua ditadura sobre os palestinos.
O Hamas assim é sem sombra de dúvida a maior organização do povo palestino, em todos os âmbitos. Ele possui três principais braços, o político, que envolve inclusive o parlamento palestino, o braço religioso e de assistência social, que é o mais antigo e também gigantesco, e o militar, que também é uma força enorme. A ação política é diminuída pela ditadura israelense que impõe a luta clandestina e armada ao Hamas, mas ainda assim agrupa uma grande parte da população palestina. Mas basta imaginar o tamanho do setor que cuida da assistência social na Faixa de Gaza, ela é provavelmente a região com mais auxílios desse tipo em todo o planeta.
As Brigadas al-Qassam possuem cerca de 40 mil combatentes, é um grupo armado gigantesco. Basta pensar na escala do Brasil, um país com 100 vezes mais pessoas que a Faixa de Gaza. Em nosso País uma milícia armada de 40 mil pessoas já representaria uma força política muito grandiosa. A diferença é que a luta armada no Oriente Médio é muito mais difundida que no Brasil. Mas há outra comparação interessante, com o Hesbolá do Líbano.
O Hesbolá é a maior milícia armada, o maior exército irregular do planeta, são 100 mil combatentes agora que eles estão em seu auge. O Hamas consegue se aproximar da metade desse número com uma população semelhante, mas em condições muito mais difíceis de organização. A Faixa de Gaza é talvez a pior ditadura do planeta, é afinal um campo de concentração dos israelenses. Mesmo assim, o Hamas tem a capacidade de criar uma milícia na escala do Hesbolá, que já libertou o país há 24 anos. Um feito desse tamanho só pode ser realizado com um gigantesco apoio popular.
Além disso, é preciso levar em consideração toda a estrutura no entorno das Brigadas al-Qassam. Os combatentes precisam de todo tipo de apoio, possivelmente três vezes mais pessoas do que os próprios soldados que pegam em armas. Só essa estrutura envolveria quase 200 mil pessoas, é um contingente enorme para a Palestina. Na Faixa de Gaza são cerca de 2,3 milhões de palestinos, onde se concentra a maior parte das brigadas al-Qassam. Só em revoluções se forma um exército popular tão gigantesco em comparação a população.
Sendo assim, colocar-se contra uma organização dessas proporções e ainda defender o povo palestino é uma contradição gigantesca, uma contradição que apenas enfraquece a luta em defesa da Palestina. Isso se comprova também pela prática. Quem são os setores que mais defendem a palestina no mundo? Aqueles que defendem o Hamas. O Hesbolá, o Irã, o Iêmen, as Forças de Mobilização Popular no Iraque e no Brasil o próprio Partido da Causa Operária. Dentre os setores da esquerda fora do PCO, os que mais defendem o Hamas são também os mais ativos.
Fica claro que a campanha contra o Hamas é uma campanha contra a Palestina e, portanto, a capitulação ante a defesa do Hamas é a capitulação diante do sionismo. Aqueles que de fato querem levar a luta em defesa de uma Palestina livre até as últimas consequências, a luta pela destruição do Estado de “Israel” e a libertação da Palestina não podem desconsiderar aquela que é não só a mais importante organização de luta da Palestina, é também a maior organização em toda a Palestina.