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Teologia e política

O fim está próximo, o fim do capitalismo

A esquerda pequeno-burguesa, capitulando diante do imperialismo, fala cada vez mais em fim do mundo e cada vez menos em fim do capitalismo

A esquerda pequeno-burguesa aderiu à política do imperialismo de “fim dos tempos”. Isso se manifesta, em geral, na questão ambiental, do aquecimento global. Mas essa tese se encaixa perfeitamente em uma ideologia religiosa e, por isso, Leonardo Boff a adaptou com facilidade. O teólogo publicou no Brasil 247 o texto Tempos apocalípticos, os nossos?, em que aborda justamente essa questão. É a mesma tese do imperialismo: acredite em qualquer coisa, até no fim do mundo, só não pense no (e não lute pelo) fim do capitalismo.

O texto começa: “não sou apocalíptico. Os tempos é que são apocalípticos. O acúmulo de tragédias ocorrendo na natureza, as guerras de grande devastação com genocídio de milhares de crianças inocentes, o colapso da ética, a sufocação da decência nas relações políticas, a asfixia dos valores humanos fundamentais, a oficialização da mentira nos meios de comunicação virtual, a ditadura da cultura materialista do capital com o consequente exílio da dimensão espiritual, inerente ao ser humano, nos induzem a pensar: será que os profetas bíblicos não têm razão quando escrevem sobre os tempos apocalípticos? Sabemos exegeticamente que as profecias não pretendem antecipar as desgraças futuras. Visam a apontar as tendências que, se não forem freadas, trarão as desgraças anunciadas”.

Essa descrição dos acontecimentos não é muito diferente daquilo que acontecia na Primeira ou na Segunda Guerra Mundial. E qual foi o resultado desses grandes acontecimentos? A Revolução Russa, a Revolução Chinesa, a independência das colonias do mundo, a Revolução da Iugoslávia e tantas outras revoluções que tiveram sucesso ou foram derrotadas. As contradições do imperialismo que levam a essa violência brutal que Boff comenta são também de onde surgiram as revoluções. Mas, ao invés de pensar de forma positiva, ele apela para a ideologia cristã do apocalipse.

Ele cita diversos versículos da Bíblia sobre o apocalipse e então comenta: “hoje não precisamos da intervenção de Deus para pôr fim a esta história sinistra. Nós mesmos criamos o princípio da autodestruição com armas químicas, biológicas e nucleares que dizimam toda a humanidade e também a natureza com seus animais, répteis e aves do céu. E não sobrará ninguém para contar a história”. Isso é verdade, as armas se tornam cada vez mais poderosas conforme avança a tecnologia, mas isso ignora completamente o lado positivo.

O desenvolvimento da tecnologia, isto é, das forças produtivas, também é o que permitirá libertar toda a humanidade do reino da escassez. Como disse Friedrich Engels, saltar do reino da necessidade para o reino da liberdade. A política do imperialismo é a política da destruição total, a política da classe operária é a da construção, da construção de um novo mundo. Até com uma ideologia religiosa é possível pensar dessa forma, o socialismo cristão já foi um fenômeno grande. Ele é muito mais progressista que a tese do apocalipse.

Boff, então, adentra questões mais concretas: “além da ameaça nuclear que alguns consideram iminente, dada a guerra da Rússia contra a Ucrânia, com a ameaça de Putin de usar armas nucleares táticas, vigora ainda a emergência das mudanças climáticas. Entre nós no Rio Grande do Sul, na Europa, no Afeganistão e em outros lugares se verificaram enchentes devastadores, além de eliminarem do mapa, cidades inteiras. Anota um cientista da Nova Zelândia, James Renwick, da Universidade de Victoria: ‘a mudança climática é a maior ameaça que a humanidade enfrentou, com o potencial de arruinar nosso tecido social e modo de vida. Tem o potencial de matar bilhões, através da fome, da guerra por recursos e pelo deslocamento de afetados’”.

Aqui, os exemplos já demonstram como essa é uma tese do neoliberalismo e não do cristianismo. O primeiro deles é uma campanha contra a Rússia, ou seja, da OTAN. Quem ameaça o mundo de guerra nuclear é o imperialismo, os russos estão apenas se defendendo. Eles tentaram a paz diversas vezes, mas a OTAN não aceitou e, assim, tiveram de partir para a tática militar. Agora, a OTAN escala a guerra, provoca os russos expandindo as fronteiras, cedendo armas de capacidade nuclear para a Ucrânia. Os russos não têm outra escolha senão testar as suas armas nucleares. Sem contar no fato de que os EUA também estão fazendo testes.

O segundo argumento é ainda pior. É tirar a culpa do neoliberalismo pelas catástrofes ambientais e culpar o clima. Isso ficou claro no Rio Grande do Sul, toda a culpa das enchentes foi dos governos neoliberais, que não investiram na infraestrutura de prevenção. Todos sabiam que uma chuva poderia causar a catástrofe que causou, mas escolheram não investir nada. O mesmo vale para o Afeganistão. Após 20 anos de guerra imperialista, o país não conseguiu se preparar para as chuvas. A destruição mundial realizada pelo imperialismo é o que transformas os desastres naturais em desastres sociais.

Ele segue: “os cristãos são otimistas: creem nesta mensagem do Apocalipse: ‘Vi um novo céu novo e uma terra nova, porque o primeiro céu e a primeira terra haviam desaparecido e o inferno já não existia… Ouvi uma grande voz que dizia: eis a tenda de Deus entre os seres humanos. Ele levantará sua morada entre eles e eles serão o seu povo e o próprio Deus com-eles será o seu Deus. Enxugará as lágrimas de seus olhos e a morte já não existirá nem haverá luto nem pranto, nem fadiga, porque tudo isso já passou (21, 1-4)’”. E conclui: “devemos ser como Abraão que ‘contra toda a esperança teve fé na esperança’ (São Paulo aos Romanos, 4, 18), pois ‘a esperança não nos defrauda’ (Romanos, 5, 4). É o que nos resta: a esperança esperante e, positivamente, o esperançar”.

A conclusão da chegada do apocalipse é um tanto vaga. Se o fim do mundo vem, por que ter esperança? No fim, é uma tese que leva à paralisia, o extremo oposto do que é necessário: a luta, não contra o apocalipse, mas sim contra o imperialismo. O que existe, na realidade, não é o fim do mundo, mas sim uma gigantesca crise imperialista e, portanto, é melhor seguir as teses de alguém que entende disso. Ao invés de citar Abraão, é melhor citar o homem que liderou a classe operária a superar a gigantesca crise que existia em sua época, Vladimir Lênin. O fim está próximo, o fim do capitalismo.

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