Neste fim de semana, Israel protagonizou mais um ataque bárbaro contra a população palestina, em Rafah, já no extremo sul da Faixa da Gaza. Isso quer dizer que não há mais lugar seguro para os palestinos, sequer considerando as declarações de Israel, de que os locais deveriam dirigir-se ao sul se quisessem estar seguros diante das ações militares contra a região. Ainda não se sabe quantas centenas de pessoas, no mínimo, morreram. Tudo para que, ao fim, Israel apresentasse como resultado da carnificina a justificativa de que, usando-se desse recurso, resgatou dois reféns. De uma centena que ainda está com os grupos guerrilheiros.
O que vem acontecendo, como resposta de Israel aos ataques do Hamas de 7 de outubro de 2023, é bárbaro se considerados quaisquer critérios. Inclusive se admitida a suposta ideia de que o Estado de Israel tem o direito à defesa, já que isso não poderia previr a morte de dezenas de milhares de palestinos, imaginando que a guerra atinja esses números. Sem chegar a quaisquer objetivos, seja capturando líderes dos grupos guerrilheiros e contribuindo para desintegrá-los, seja recuperando reféns sem necessitar de negociações com os inimigos, os israelenses seguem com seus ataques sanguinários contra os palestinos, angariando cada vez mais ojeriza da população de todos os países, o que deteriora o lastro moral sobre o qual se funda este Estado de Israel fundado em 1948 sobre bases extremamente frágeis.
Com um território já povoado que foi escolhido para, majoritariamente, abrigar um povo que há séculos vivia fora dele, criou-se um problema aparentemente insolucionável. Esta sequer seria a solução objetiva para o sionismo como movimento político, uma vez que a ideia de um Estado para autodeterminação do povo judeu, a síntese do pensamento dos primeiros sionistas, não prevê que ele seja naquela região (chegou-se a pensar em patagônia chinela, por exemplo), ou que se crie um Estado que não compartilhe seus princípios democráticos com outros grupos étnicos que ali estão. No entanto, a solução foi a ocupação da região, com apoio dos países imperialistas, para a criação de um Israel excludente, Estado de direito para os judeus, mas que mantém como párias suas minorias étnicas (disso, seria possível citar exemplos de regime de terras ou burocracia para casamentos, que beneficiam a população judaica, em detrimento das demais).
Diante disso, e também pelo fato de que há milhares, senão milhão, de judeus vivendo em território palestino nos chamados “assentamentos”, o que tornaria impossível o desalojamento da comunidade judaica num eventual Estado Palestino (visto que, obviamente, essa população não aceitaria se tornar “judia palestina”), como implementar a tão propalada política de “dois Estados”, uma espécie de tábua de salvação de Israel, frequentemente argumentada pelos sionistas de esquerda, mas recentemente até admitida por setores sionistas mais conservadores?
Igualmente, a solução dos dois Estados encontraria problemas, também, em lidar com um Estado Palestino livre para dispor de suas forças armadas segundo as leis internacionais, agora podendo contar com Força Aérea, Marinha e Exército com armamento pesado. Se não teria imediatamente recursos financeiros para tal, poderia firmar acordo de cooperação com países islâmicos como Irã e Paquistão. Eventualmente, se esse aparato cai em mão de grupos fundamentalistas islâmicos ainda dispostos a varrer Israel do mapa e criar a Palestina “do rio ao mar”, o país dos sionistas estaria em pior situação do que está agora.
Portanto, o que fazer com Israel? A solução de 1948 está moribunda, tal como a África do Sul do apartheid. A solução de dois Estados, possível quando dos acordos de Oslo, em 1993, faliu após o assassinato de Ytzhak Rabin, a Segunda Intifada, a criação dos assentamentos judaicos na Cisjordânia, a eleição do Hamas em Gaza e a guerra atual. Qual seria a próxima? Possivelmente, a dissolução da atual Israel para criação de um novo Estado, uma democracia binacional, contemplando princípios sionistas de direito à autodeterminação judaica, mas em conjunto com o outro povo de origem semita, que ali está. Porém, tal como na África do Sul, isso implicaria mudança de símbolos nacionais, hino, bandeira e, ao fim, o nome. O sentimento, entre os judeus, seria o de um novo desterro, causando mais dor e animosidade.
Se nenhuma das soluções servirem, não haverá mais que devastação, tristeza e ódio nos territórios de Israel e Palestina.