Continuando a série de artigos sobre a história dos campos de refugiados que foram surgindo na Palestina a medida que a ocupação sionista foi expulsando, de maneira sanguinolenta, os palestinos de suas terras, vamos falar sobre o campo de refugiados de Al-Shati.
Localizado na parte norte da Faixa de Gaza, na Cidade de Gaza, ao longo da costa do Mar Mediterrâneo, o campo de Al-Shati foi criado em 1948 para comportar cerca de 23.000 palestinos que foram expulsos das cidades de Jafa, Lode e Bercheba, bem como de vilarejos na mesma região; durante a terrível Nakba (catástrofe, em árabe).
Em 1971, soldados da ocupação sionista demoliram 2.000 casas no campo Al-Shati, deixando milhares de palestinos sem abrigo para que pudessem ampliar suas estradas. Com isso, cerca de 8.000 refugiados foram expulsos novamente, sendo forçados a ir para o campo de Sheikh Radwan, também na Cidade de Gaza.
Um dos fatos mais importantes sobre o campo de Al-Shati é que ninguém mais, ninguém menos que Ismail Hanié, líder do birô político do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe), nasceu lá. Seus pais chegaram até Al-Shati após se refugiarem lá durante a Nakba.
Sobre Hanié, cabe também destacar que, em fevereiro de 2024, Rui Costa Pimenta, presidente nacional do Partido da Causa Operária (PCO), se reuniu com o líder palestino no Catar. Na ocasião, Hanié aceitou gravar uma declaração exclusiva ao povo brasileiro, a qual pode ser lida na íntegra por meio deste link.
Outra figura notável que, apesar de ter nascido no campo de refugiados de Jafa, cresceu em Al-Shati, é Rashid Masharawi, um cineasta palestino. Atualmente, ele vive e trabalha em Ramala, onde fundou o Centro de Produção e Distribuição Cinematográfica em 1996 com o objetivo de promover a produção cinematográfica local.
Dentre seus filmes, destaca-se Toque de recolher (Curfew), de 1994, o qual conta a história de 24 horas de uma família após o exército sionista impor um toque de recolher em um campo de refugiados palestinos na Faixa de Gaza em 1993. Por Toque de recolher, Masharawi recebeu o Prêmio Unesco de Cinema no Festival Internacional de Cinema de Cannes e o prêmio do público e da crítica de melhor filme no Festival de Cinema de Montpellier.
Segundo dados de organizações de ajuda humanitária na Palestina e da ONU, antes do ano 2000, quando “Israel” fechou suas fronteiras com a Faixa de Gaza durante a Segunda Intifada, a maioria dos palestinos no campo Al-Shati trabalhavam em “Israel” ou na agricultura. Atualmente – e antes do início da atual fase do conflito entre a ocupação sionista e o povo palestino -, parte da população trabalha em oficinas e em fábricas de tecidos. Além disso, boa parte das famílias residentes em Al-Shati dependem da pesca.
Atualmente, Al-Shati possui uma área de cerca de 520.000 metros quadrados, ou pouco menos de 50 campos de futebol. Segundo o Escritório Central de Estatística Palestino (PCBS, na sigla em inglês), em 2017, o campo possuia uma população de 40.734 palestinos.
Entretanto, a UNRWA dá conta de que, em 2023, esse número já era de 90.173, sendo o terceiro maior campo de refugiados em território palestino. Com isso, 1.803 palestinos são comportados no equivalente a um campo de futebol.
Ainda segundo a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês), antes de 7 de outubro de 2023, o campo de Al-Shati possui um sistema de esgoto, um centro médico e 23 escolas, sendo 17 primárias e seis secundárias. Tudo isso, entretanto, foi devastado pelos criminosos ataques do Estado nazista de “Israel”.
Desde que a atual fase do conflito começou, “Israel” tem bombardeado o campo Al-Shati de maneira implacável. Ainda em novembro de 2023, a emissora catarense Al Jazeera conversou com residentes do campo, dentre eles, Zak Hania.
Hania afirmou que ela e sua família decidiram sair de casa mesmo não sabendo para onde iriam. “Estamos saindo de casa, não podemos ficar. Estávamos muito assustados, ontem à noite houve muitos bombardeios. Muitas casas foram atacadas no campo de al-Shati”, disse.
“Estamos saindo de casa. Estamos procurando abrigo agora, podemos ir para o hospital al-Shifa. Por favor, faça alguma coisa. Não sabemos o que vai acontecer a seguir. Por favor, faça alguma coisa”, afirmou em seu relato comovente.
Além disso, “Israel” lançou fósforo branco, arma química banida pelas leis internacionais, contra uma das escolas que a associação de refugiados da ONU mantinha em Al-Shati em 2 de novembro de 2023. O fósforo branco, diga-se de passagem, tem um efeito de reagir com gordura, fazendo a combustão. Isto é, com a gordura do corpo humano! Por isso ele não queima as vítimas de forma normal: ele queima até atingir os ossos.