Política nacional

O bolsonarismo cresce porque não é combatido

Setores da esquerda pequeno burguesa, diante do crescimento do bolsonarismo, fazem de tudo para não chegar a conclusão de que é preciso lutar nas ruas contra a direita

A força do bolsonarismo está hoje evidente para toda a esquerda. As análises de que o bolsonarismo estava sendo derrotado pela “democracia” (nome fantasia de Alexandre de Moraes) estão caindo por terra. Agora, os setores da esquerda pequeno burguesa que, até ontem, já davam o bolsonarismo como um fenômeno ultrapassado, começam a levantar as teses sobre o que está por detrás do ressurgimento do movimento de extrema direita. Um dos comentadores é Valério Arcary, dirigente da corrente Resistência/PSOL. No artigo Bolsonarismo pode voltar ao poder? Por quê?, Arcary fala muito e não fala nada. Ignora as bases reais do bolsonarismo e assim não aponta o caminho para combatê-lo.

Ele começa dizendo que “o bolsonarismo pode voltar ao poder em 2026? Sim, pode. Devemos considerar a existência de poderosos fatores objetivos e subjetivos para explicar a resiliência da extrema direita, mesmo depois da derrota da semi-insurreição de janeiro de 2023. Mas, em primeiro lugar, é lúcido reconhecer o contexto internacional do fenômeno, no qual a extrema-direita cumpre uma papel instrumental: (a) a turbulência no sistema de Estados com o fortalecimento da China e a estratégia do imperialismo norte-americano de preservação da supremacia da Troika, para a qual uma orientação protecionista mais dura é útil”.

A afirmação de que o fenômeno é internacional é correta. No entanto, ele começa a escapar na realidade na lista de questões. O fortalecimento da China não é a questão crucial, mas sim o enfraquecimento geral do imperialismo. Diante disso, é preciso reorganizar o “quintal”, ou seja, a América Latina. Fica claro pelos casos do Peru, Argentina e Equador que a política do imperialismo é o fortalecimento da direita e da extrema direita, em geral, uma frente entre ambos os setores.

Depois afirma: “(c) o giro de frações burguesas para a defesa de regimes autoritários que enfrentem o protesto popular e abracem uma linha nacional-imperialista”. Aqui o autor usa um termo extravagante, “nacional-imperialista”. A confusão aqui é ruim, pois essa é a questão crucial. Falar em regime autoritário é cair na terminologia da imprensa burguesa. Autoritário pode ser Javier Milei, mas também Nicolás Maduro, pode ser Emmanuel Macron ou Vladimir Putin. A questão crucial é se o país está sob a dominação do imperialismo. Essa dominação pode se expressar como Michel Temer ou como Jair Bolsonaro. Mas a Argentina deixa claro que o imperialismo está disposto até mesmo a algo pior que Bolsonaro.

Arcary segue dizendo que: “(d) a tendência à estagnação econômica e o empobrecimento e deslocamento à direita das camadas médias; (e) a assombrosa crise da esquerda, entre outros”. Esses dois estão ligados. Mas a questão é que o empobrecimento leva ao deslocamento à direita? O ponto crucial é justamente a crise da esquerda que não consegue aglutinar os setores oprimidos, algo que o bolsonarismo está conseguindo fazer. Isso acontece internacionalmente. Trump, por exemplo, é um exemplo claro disso. Mas ao contrário dos EUA, no Brasil, há uma esquerda forte. Tão forte que foi capaz de derrotar Bolsonaro em 2022. Então qual seria a crise após Lula ser eleito?

O autor foge completamente dessa questão e inicia uma análise sociológica do Brasil. “Há peculiaridades brasileiras na fragmentação política do país. Elas são, essencialmente, cinco: (a) a hegemonia entre militares e policiais; (b) a gravitação da imensa maioria do evangelismo pentecostal em torno da extrema-direita; (c) o peso do bolsonarismo nas regiões mais desenvolvidas, o Sudeste e o Sul do país, em especial entre a nova classe média proprietária, ou de altíssima escolaridade que cumpre funções executivas no setor privado e público; (d) a liderança da corrente neofascista dentro da extrema-direita; (e) a audiência da extrema-direita entre as camadas médias assalariadas entre três e cinco, ou até sete salários-mínimos. As quatro primeiras singularidades têm sido muito investigadas, mas a última, menos”.

São todos sintomas do bolsonarismo, feições de onde ele cresce na sociedade, mas nada de importante. O relevante é compreender porque os militares e policiais têm força política, porque os evangélicos têm tanta força, porque no Sudeste há tanto bolsonarismo, porque as “camadas médias assalariadas” têm tanta influência da extrema direita. A resposta é simples, porque a esquerda não está atuando de forma combativa para enfraquecer a direta, e assim ela cresce em todos os âmbitos.

E qual é a principal falha da esquerda? Não combater de frente o bolsonarismo, se aliar com a direita tradicional por meio da frente ampla e do Judiciário, achando que isso terá algum resultado. Durante um ano e meio de governo Lula, a política da frente ampla deu margem para o amplo crescimento do bolsonarismo. Lula precisaria realizar grandes políticas sociais para ganhar um amplo apoio popular e assim acabar com as bases bolsonaristas entre os trabalhadores. Quem impede isso são justamente os “aliados”.

A esquerda pequeno burguesa, não comprando a briga contra a direita tradicional, está paralisada diante dessa tarefa. A esquerda deveria ter a obrigação de combater a direita que impede que Lula atue em defesa dos trabalhadores. De lutar pelo crescimento real do salário mínimo, pela revogação das reformas golpistas, pelo fim do teto de gastos, pela estatização das grandes empresas privatização por FHC, Temer e Bolsonaro. Esse movimento, e suas consequências, seriam um enfrentamento direto com o bolsonarismo e com o imperialismo.

Era isso que os trabalhadores acreditavam que seria a presidência de Lula e foi justamente por isso que o bolsonarismo foi derrotado em 2022. Enquanto a esquerda não atuar nesse sentido, novamente ela continuará cedendo terreno ao bolsonarismo, que agora aparenta ser a força “antissistema”, ou seja, a força que trará mudanças. A esquerda adaptada ao “sistema” está fadada a afundar com ele.

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