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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Coluna

O banquete de Luciano Huck e o leite derramado

Governos de sanguessugas neoliberais – tanto os de extrema direita como os da direita de sapatênis – são orientados para favorecer bancos e investidores internacionais

Enquanto o governador do Rio Grande do Sul, na tentativa de eximir-se das responsabilidades pela catástrofe por que passa o estado que administra em segundo mandato, adicionava gafes à sua coleção, o apresentador da Globo Luciano Huck oferecia um jantar a um grupo de 15 empresários, com a presença “ilustre” de Campos Neto, presidente do Banco Central, e Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo.

O anfitrião jura que a “reunião de amigos” nada tinha a ver com política, mas, deixando de parte a “boutade”, convenhamos que a notícia em si nem merecia todo o alvoroço que causou na imprensa de esquerda. Afinal, qual é a surpresa de ver reunidos golpistas de 2016, como o próprio Huck, e bolsonaristas, que, como sabemos – ou deveríamos saber –, são farinha do mesmo saco? Eduardo Leite, o BolsoGay, é, aliás, a prova concreta disso.

Para não apoiar um “bolsonarista” na última eleição, o PT acabou apoiando, em segundo turno, a candidatura do governador gay, que usou sua orientação sexual, devidamente declarada em programa da Rede Globo, para angariar a simpatia de identitários bobocas em busca de “representatividade em cargos de poder”. Entre seis e meia dúzia, teria sido melhor abster-se, mas essa é outra história.

O fato é que governos de sanguessugas neoliberais – tanto os de extrema direita como os da direita de sapatênis – são orientados para favorecer bancos e investidores internacionais, o que só é possível mediante o sequestro da riqueza do país e dos frutos do trabalho. Eduardo Leite não esconde que sabia dos riscos climáticos, pois havia sido alertado sobre eles, mas, segundo ele mesmo, sua administração tinha outras prioridades, como ajuste fiscal e coisas desse tipo.

Assim, Leite imagina livrar-se da pecha de incompetente ou da acusação de “negacionismo climático”. Bem, segundo ele, deixar de fazer manutenção nas bombas de água e nas comportas e não avisar a população de que havia risco de nova enchente foram decisões administrativas, certo? Se não vejamos.

No ano de 2023, ocorreram no estado três enchentes (em junho, em setembro e em novembro), deixando (as três) um total de 75 mortos, fora todos os outros problemas (desalojamento, doenças, perda de bens etc.). Como os eventos atingiram sobretudo populações mais pobres, que vivem em locais mais perigosos, certamente o sinal de alerta que Leite recebeu neste ano tinha os motivos de sempre para ser ignorado.

Feito um moleque mimado, que nunca teve responsabilidade na vida, o governador do Rio Grande do Sul, em sua primeira entrevista ao Jornal Nacional, que deslocou seu principal âncora para o local da catástrofe, não sabia responder quais eram as necessidades mais urgentes no momento. Como a imprensa toda já estava divulgando que as pessoas precisavam de água, foi o jornalista que “ajudou” o entrevistado, sugerindo: “Precisam de água, né?”.

Em outra demonstração de incompetência e insensibilidade, Leite chegou a reclamar do excesso de doações, que atrapalharia o comércio local. Fazendo inveja a Ludwig von Mises, esqueceu-se de que muitos comerciantes, com suas lojas e estoques alagados, perderam tudo o que tinham, de que produtores rurais perderam safra e de que a população, em grande parte desalojada e sem recursos, não tem condições de ir às compras.

Choramingando sobre o leite derramado, o governador do Rio Grande do Sul anunciou a compra de jet-skis e de um helicóptero, que seriam usados para resgatar mortos. Sem comentários. A imprensa burguesa tenta blindar o sujeito, replicando a ideia de que não é o momento de “politizar a tragédia”, não raro atribuída às “mudanças climáticas”. O próprio Leite pegou carona no discurso ambientalista, afirmando que o desmatamento da Amazônia seria o responsável pela enchente no Rio Grande do Sul, portanto, feitos os cálculos, a responsabilidade seria do governo federal.

Como fica cada dia mais claro, o discurso ambientalista é muito mais uma peça no jogo político do que a voz da ciência. Diga-se, aliás, que a verdadeira ciência estimula o debate e a revisão constante de suas conclusões, o que parece impossível quando o assunto são as tais “mudanças climáticas”, tratadas como uma espécie de axioma ou, pior, como um dogma. Qualquer um que tente discutir seriamente o tema é visto como “negacionista” e automaticamente posto em descrédito.

De todo modo, a politização da catástrofe, obviamente necessária, deveria partir do mais elementar, afinal o governo e as prefeituras não tomaram providências para evitar um desastre, mesmo em face dos eventos do ano passado e de um novo alerta. Se há mudanças climáticas em curso, cabe aos governantes investir em projetos de adaptação da vida das cidades aos eventos. Países que estão sujeitos a terremotos, como o Japão e Taiwan, aprenderam a construir prédios mais seguros, usando amortecedores sísmicos.

Não adianta pôr a culpa na natureza ou defender que o Brasil abra mão de seu desenvolvimento para que a Terra não se derreta. É preciso, isto sim, governar para o povo, não para o mercado financeiro. Eduardo Leite e a turma do jantar de Luciano Huck, para os quais o país não passa de um balcão de negócios, desprezam o povo brasileiro e são capazes de qualquer coisa para auferir vantagens.

Se o povo deixar, vão vender o Brasil, como Tarcísio de Freitas já está fazendo com a privatização da Sabesp e de outras 44 autarquias que estão na sua mira. Qual seria mesmo o assunto dos convivas na mansão do cara que explora a boa-fé de gente humilde, oferecendo conserto de carro velho e reforma de casa?

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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