Um tal Fábio Bosco, articulista do Opinião Socialista, jornal do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU), publicou, no dia 2 de dezembro, um artigo que diz: “ofensiva rebelde surpreende a ditadura síria e toma Aleppo”. Que os países do Eixo da Resistência, que estão há anos lutando contra o imperialismo e o sionismo, tenham de fato se surpreendido com a “ofensiva”, é pouco provável. Afinal, o governo de Bashar Al-Assad, por mais que não seja um governo de um partido marxista, é bastante consciente de que está em uma luta de longo prazo contra o imperialismo. O que é menos surpreendente ainda é que o PSTU, que se tornou uma espécie de líder de torcida brasileira das falcatruas praticadas pelo imperialismo em todo o mundo, tenha saído em defesa da investida organizada pelos mesmos criminosos de guerra responsáveis pelo genocídio na Faixa de Gaza.
O que pode ser surpreendente para alguns é que, no artigo de Fábio Bosco, o PSTU demonstra compreender que os tais “rebeldes” que neste momento estão fracassando em sua tentativa de desestabilizar o governo sírio nada mais são que mercenários contratados pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). O próprio PSTU diz, no artigo de Fábio Bosco, que a Síria estaria dividida, desde a guerra civil, por cinco forças militares estrangeiras: 1) as milícias apoiadas por Irã e Rússia, que são, na realidade, as forças que apoiam o governo Assad e dominam a maior parte do país; 2) as forças apoiadas pelos Estados Unidos; 3) as forças apoiadas pela Turquia; 4) o controle israelense das Colinas de Golã; 5) o grupo Daesh, ou “Estado Islâmico”, na fronteira com o Iraque. Nestas circunstâncias, a insurreição contra o regime sírio estaria baseada em quem?
Nem o PSTU sabe responder. Ao tratar da organização que dirige os “rebeldes”, o PSTU diz: “nenhuma confiança no HTS!”. Confie o PSTU ou não, são essas as possibilidades que estão colocadas sobre a mesa. Ou o regime sírio se mantém, com o apoio do Irã e da Rússia, ou ele é derrubado não pelo PSTU, mas por forças que estão no bolso da OTAN (e que o PSTU sabe que estão no bolso da OTAN).
Essa posição grotesca apenas revela o quanto o PSTU, ao longo dos anos, adotou uma política profundamente pró-imperialista. A agremiação está ideologicamente tão vinculada aos donos do mundo que sequer se importa de fazer uma frente única com quem está abertamente a soldo dos grandes monopólios.
A vinculação do PSTU com o imperialismo também esclarece a farsa da sua dita defesa da Palestina. Ao apoiar a derrubada do regime sírio, o PSTU está apoiando a derrubada de um dos principais pilares do Eixo da Resistência. Conforme admitido pelas lideranças do Eixo, o regime de Assad sempre foi um aliado dos palestinos – mesmo quando a sua vanguarda revolucionária, o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe) erroneamente rompeu relações no passado com a Síria. Os próprios combatentes palestinos hoje reconhecem o erro e retomaram relações estreitas com Assad.
É o apoio logístico de Assad que permite que armas, munições e outros suprimentos importantes cheguem a dezenas de destacamentos que lutam contra o sionismo. A Síria é, portanto, uma peça-chave na luta contra “Israel”, e é justamente por isso que o imperialismo organizou uma ofensiva contra o país, justamente no momento em que a ocupação sionista foi humilhada no Líbano.
O PSTU precisa tomar uma decisão: ou defende a Palestina, ou defende os criminosos de guerra que promovem o genocídio na Palestina e estão tentando desmantelar a ampla rede de resistência contra o sionismo. Não é possível apoiar os dois.