A esquerda brasileira, pressionada e influenciada pela própria burguesia, não conseguiu ver os acontecimentos do Rio Grande do Sul como de fato eles foram: de responsabilidade total do governo atual e dos anteriores. Não tem absolutamente nada a ver com chuva ou meio ambiente, ou mesmo o tão falado aquecimento global.
Em recente texto, redigido por um sociólogo, Danilo Paris, publicado pelo jornal Esquerda Diário, ao analisar a tragédia no Sul do País é dito que “as mudanças climáticas provocadas pela relação predatória com o meio ambiente colocam dúvidas sobre o futuro da humanidade” e que “nunca antes na história da humanidade, a sensação da proximidade do “fim do mundo” se tornou tão tangível”.
“A destruição de diferentes modos de sociabilidade e de interação com o meio ambiente devido a condições cada vez mais adversas”, segundo o texto, seria outra forma de “fim do mundo”.
O ser humano lida com a chuva desde sempre, e governos dos estados, também. É realmente incrível ver cidades inteiras debaixo de água em razão de chuvas fortes. E a conclusão desse problema deveria ser óbvia, de que os governos não ligam a mínima para a situação das cidades e do povo, e apenas torcem para que não aconteça nada. Vez ou outra acontece, como no caso do Rio Grande do Sul, e rapidamente surgem os especialistas de uma área, o clima, no caso, para tentar emplacar teses que visam somente esconder os verdadeiros responsáveis pela tragédia.
Mas não é assim que esquerda tem visto a questão, como no caso do texto em debate. O problema é a proximidade do fim do mundo, e mais, “refugiados climáticos há muito tempo deixaram de ser um conceito “exótico” e tendem a ser uma tendência nos próximos anos”. Chegamos ao ponto dos “refugiados climáticos”, quando, na verdade, tudo que precisava ser feito era gastar o dinheiro do estado na prevenção de desastres como os do Rio Grande do Sul.
“As alterações dos índices globais de temperatura no mundo, da temperatura da superfície dos oceanos, as alterações no movimento das massas de ar, entre inúmeras outras variações, irão modificar os padrões de vida e presença humana na Terra de forma cada vez mais significativa”. Mais uma vez, as alterações de temperaturas, que, mesmo se fossem realmente significativas, é de se esperar de autoridades públicas alguma medida para conter seus efeitos. Tudo hoje, em matéria de clima, tem previsão. É possível prever o clima dias, meses e até anos antes de uma determinada data. E, diante disso, tomar medidas. Ocorre que os governos não fazem nenhuma questão de gastar dinheiro com isso quando se pode gastar dinheiro com os bancos. Bancos que, por sinal, estão eles mesmos fazendo campanha de arrecadação, quando, na verdade, deveriam ser expropriados e sua verba destinada à reconstrução das cidades destruídas.
“O mundo cada vez alimentado por toneladas de gases produzidos por uma economia irracional superaquecem o planeta, o que gera mais calor. Mais calor é sinônimo de mais energia e daí se desdobram eventos climáticos cada vez mais dramáticos. Isso sem considerar os efeitos na biosfera, com alteração em ecossistemas inteiros”. O pior dessa tese é a acusação genérica, “o mundo”, o que torna todas as pessoas, do desempregado da praça da Sé ao industrial norte-americano, responsáveis pelas desgraças supostamente naturais.
O texto ainda diz: “no Brasil não é diferente. Comemora-se a redução do desmatamento, como se ‘pouco’ desmatamento fosse uma notícia a ser celebrada. Considerando a devastação já causada, as metas não deveriam ser a partir dos percentuais de redução do desmatamento, mas os percentuais de reflorestamento”.
Do abandono das políticas de defesa civil realizado pelo governo do Rio Grande do Sul ao desmatamento. Essa é uma das melhoras formas de ocultar os marginais que estão no comando do estado e das prefeituras do Rio Grande do Sul, que afundaram cidades inteiras, mas que, para a direita e para boa parte da esquerda, não devem ser responsabilizados.
O autor afirma que foi o agronegócio, ao promover o desmatamento, que facilitou para que a situação no sul chegasse onde chegou. Isso é falso. Não tem nada a ver a política agrícola com o que aconteceu no Sul. Outra vez, outro vilão para esconder o verdadeiro responsável pela tragédia no Sul. Agora é a vez do agronegócio servir de escudo para que o governador do Rio Grande do Sul não seja responsabilizado pelo atual estado de coisas.
“O neoliberalismo dos governos que não só não investiram na prevenção das alterações climáticas, mas que também privatizaram e precarizaram serviços de água e esgoto é poupado como um agente “esquecido”. Leite, Melo e os que vieram antes deles carregam esse programa econômico de ecocídio e massacre social. Para não falar do plano Safra de Lula, o maior da história, de 364 bilhões: uma injeção de verbas públicas nas colheitadeiras que percorrem as regiões que deveriam estar sendo preservadas e reflorestadas”.
Aqui outra parte interessante: Quando resolve dar nome aos bois responsáveis pela tragédia do Sul, o autor não se contém e joga o nome de Lula na questão. Como Lula é o presidente da república, a colocação do autor, na realidade, isenta Leite do que aconteceu e deixa para Lula a responsabilidade do problema.
“O fim do mundo que precisa ser decretado é de um modo de produção específico. Da relação predatória com o meio ambiente. Da expansão irrefreável do capital”. Os países que não se desenvolveram, paciência, não poderão fazê-lo, sob pena de destruição do meio ambiente. Os que destruíram tudo que tinha para destruir e se desenvolveram, tudo bem, permaneçam como estão.
Ocorre que essa é a justa tese da opressão imperialista sobre os países atrasados, e é por isso que a discussão ambiental se apresenta rapidamente: é preciso conter os países atrasados, impedir seu desenvolvimento, colocar áreas naturais sob o controle internacional, tudo isso sob o pretexto da defesa do meio ambiente.