No artigo O que expressa o embate entre o bilionário de extrema direita Elon Musk e Alexandre de Moraes?, publicado pelo Esquerda Diário e assinado por um tal Sergio Araujo, o Movimento Revolucionário dos Trabalhadores (MRT), que edita o portal, apresentou a sua análise sobre a recente crise entre o dono do X, Elon Musk, e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes. Segundo ele, seria uma crise entre dois bichos papões, entre dois monstros – o que, no final das contas, serve de desculpa para que o MRT não tenha uma posição sobre o ocorrido.
De fato, é uma luta entre dois representantes da burguesia. De um lado, Elon Musk é ele próprio um bilionário, dono de várias empresas, um dos homens mais ricos do mundo. De outro, Alexandre de Moraes atua como se fosse funcionário do Departamento de Estado norte-americano, na medida em que leva adiante um combate contra os interesses do povo brasileiro e mesmo de setores minoritários da burguesia quando entram em contradição com os grandes bancos.
O MRT está certo. Os dois são “maus”. Mas e daí? Qual a importância disso para a crise?
Elon Musk revelou que Alexandre de Moraes age como um ditador, comandando os dois principais tribunais do País e a Polícia Federal para perseguir adversários políticos. Qual a posição do MRT sobre isso? O grupo vai utilizar o vazamento para denunciar as conspirações do STF contra o povo, ou vai simplesmente ignorar o vazamento, uma vez que o responsável por ele é um bicho-papão?
Pelo visto, vai ignorar. Não fosse assim, não seria necessário dedicar parte significativa do artigo para dizer coisas como “Musk, que segundo a última listagem da Forbes aparece como a segunda pessoa mais rica do mundo, é um dos principais representantes do imperialismo estadunidense hoje. É proprietário ou possui participação em várias empresas, com atuação global, em diversos ramos como a Tesla, Space X, OpenAI que controla o chat GTP além do próprio X, antigo Twitter, que diga-se de passagem assumiu colocando milhares de trabalhadores na rua“.
A preocupação do MRT em caracterizar Musk como um “bilionário” só pode ter um único sentido: dizer que a sua denúncia não tem importância. Para o brasileiro, que vive sob uma ditadura, os Arquivos do Twitter não teriam importância. Os brasileiros não deveriam exigir explicações ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do Supremo Tribunal Federal e das autoridades brasileiras. Afinal, tudo não passaria de uma briga entre dois homens “maus”.
Se fôssemos levar a sério essa política, os trabalhadores praticamente nunca poderiam se mobilizar. Não deveriam, por exemplo, utilizar as denúncias da Vaza Jato para uma campanha pela liberdade de Lula, uma vez que nunca ficou esclarecido quem de fato vazou as mensagens trocadas entre o ex-juiz Sergio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol. Pelo mesmo motivo, o povo palestino não deveria celebrar nenhuma decisão que fosse tomada pela Organização das Nações Unidas (ONU), uma vez que é uma organização controlada por profissionais da picaretagem política a serviço do imperialismo.
É uma ideia, como se pode ver, ridícula que serve apenas à classe dominante, que viveria com muito mais tranquilidade se soubesse que o povo só irá se mobilizar contra ela quando houver denúncias que partiram exclusivamente de alguma organização da classe operária.
