Faleceu, neste domingo (29), aos 100 anos, em sua residência em Plains, Geórgia, o ex-presidente dos Estados Unidos Jimmy Carter.
Em fevereiro de 2023, o Centro Carter revelou que o ex-presidente enfrentava um câncer agressivo de pele. Carter passou seus últimos anos sob cuidados paliativos em sua casa, tornando-se o ex-presidente norte-americano mais longevo. Seu filho, James E. Carter III, o descreveu como “um herói para todos que acreditam na paz e nos direitos humanos”, mas sua trajetória mostra outra realidade.
A máquina imperialista no Oriente Médio
Apesar de ser lembrado pela imprensa imperialista como um defensor da paz e dos direitos humanos, Carter foi responsável por uma série de políticas e medidas importantes no âmbito da intervenção dos Estados Unidos no Oriente Médio e na América Latina.
O governo Carter teve papel central no financiamento e treinamento dos mujahidin no Afeganistão, em uma operação conduzida pela CIA para combater a presença soviética no país. Essa política, que inaugurou o apoio norte-americano a grupos islâmicos e árabes, abriu caminho para o surgimento, posteriormente, do Talibã e da Al-Qaeda. O objetivo do imperialismo, como se vê hoje no caso da Síria, era de comprar esses grupos para que eles levassem adiante a política dos EUA no Oriente Médio
Além disso, Carter reforçou as sanções econômicas contra a União Soviética e liderou o boicote às Olimpíadas de Moscou em 1980, escalando as tensões da Guerra Fria e utilizando o Afeganistão como campo de batalha indireto.
Os Acordos de Camp David
Durante seu governo (1977-1981), Carter intermediou os chamados Acordos de Camp David, entre Egito e “Israel”. Eles foram firmados em 17 de setembro de 1978, tendo como partes signatárias o Egito e “Israel”, cujos mandatários a época eram, respectivamente, Anway Sadat (presidente egípcio) e Menachem Begin (primeiro-ministro israelense).
Os Acordos de Camp David foram uma capitulação do Egito perante “Israel”. Uma capitulação do nacionalismo egípcio (movimento que à época havia atingido seu ápice com Gamal Abdel Nasser, do qual Sadat era sucessor direto) perante o sionismo, inimigo do mundo muçulmano.
Graças ao tratado, “Israel” se fortaleceu na sua posição de não negociar a ocupação da Cisjordânia e da Faixa de Gaza em favor de um Estado palestino: o acordo de Camp David quebrava a frente única dos países árabes, removendo as possibilidades do Egito, maior potência militar árabe, situar-se como parte de uma eventual aliança militar contra o Estado sionista.
Para o Egito, a paz com os israelenses significou seu isolamento da comunidade árabe e muçulmana. Os estados árabes romperam relações com Egito, suspendendo o país, inclusive, da Liga Árabe (o que perdurou até o final da década de 1980) e transferindo a sede da Liga para a Tunísia.
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Acordos de Camp David: quando o Egito capitulou perante ‘Israel’
Biografia
Nascido em 1924, Carter foi eleito governador da Geórgia em 1971 e, posteriormente, presidente dos Estados Unidos em 1976, apresentando-se como um político “outsider” em meio às crises que abalaram o país. No entanto, seu governo esteve longe de romper com a política imperialista norte-americana, reforçando a influência dos EUA sobre o chamado “Terceiro Mundo”.
Após deixar a Casa Branca, Carter fundou o Centro Carter, uma organização que promoveu ações humanitárias e “democráticas” em países da periferia, frequentemente servindo como braço auxiliar da política externa dos EUA. Em 2002, ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz, em mais um exemplo da hipocrisia do imperialismo ao premiar seus próprios operadores como “pacifistas”.