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Ric Jones

Médico homeopata e obstetra. Escritor, palestrante da temática da Humanização do Nascimento no Brasil e no exterior.

Coluna

Miko

A luta palestina é de todos nós

 

Não resta dúvida que, para as esquerdas, é fundamental nos aprofundarmos na luta antirracista, na luta por direitos humanos reprodutivos e sexuais (incluindo aí a luta pelo parto humanizado), na conquista da autonomia de corpos, na proteção aos grupos vulneráveis, etc. Modelos sectários baseados em identidades não cabem mais na nossa sociedade e não podem mais ser confundidos com as bandeiras históricas que defendemos. A segmentação artificial engendrara pelos laboratórios e “think-tanks” liberais americanos precisa produzir uma crítica consistente, severa, firme e dura.

Diante dos massacres a que são submetidos os palestinos, no maior ataque contra civis do século XX, é importante lembrar de um dos mais importantes combatentes da causa palestina. Este homem se chama Miko Peled, que provavelmente poucos conhecem, mas é um israelense, por volta dos 60 anos e judeu. É filho do general israelense Matti Peled, herói da guerra do “Yom Kipur“, que assinou a declaração de independência de Israel e participou de ações de limpeza étnica na Palestina em 1948 e 1967, mas que ao se aproximar do fim da vida foi um dos primeiraos sionistas adeptos da aproximação com os representantes da Palestina para estabelecer um diálogo na busca de uma solução pacífica. Quando jovem, ainda vivendo em Jerusalém, Miko viu sua sobrinha morrer em um ataque suicida causado por um homem bomba do Fatá em 1997. No dia seguinte, políticos e jornais israelenses clamavam por vingança e retaliação contra os terroristas árabes. Diante das câmeras, a irmã de Miko, Nurit Peled, mãe da menina morta e uma conhecida professora judia israelense, disse em lágrimas para os jornalistas: “A culpa dessa morte é do governo de Israel, que nunca deu aos palestinos qualquer alternativa para além do terror. Não aceito nenhuma retaliação em meu nome ou de minha família, porque jamais aceitarei que uma mãe Palestina sofra a dor que agora estou sentindo”. Após a tragédia da morte de sua sobrinha de 13 anos, Miko começou sua jornada como ativista contra quem considera o principal responsável por essa violência: o regime racista de Apartheid sionista e o seu contínuo plano de ocupação violenta na Palestina.

Miko, alguns anos depois e já morando em Los Angeles, nos Estados Unidos, e trabalhando já como um profissional de artes marciais, conheceu na Universidade um grupo de ativistas palestinos e, apesar da desconfiança, aceitou escutá-los. Ao inteirar-se pela primeira vez da narrativa dos “inimigos”, dos “terroristas”, dos “bárbaros árabes” com mais de 30 anos de idade ele viu seu mundo de crenças sionistas desabar.

Sim, eles – os sionistas – eram os terroristas, não os palestinos. Pela primeira vez entendeu o Naqba, a expulsão, os massacres, o êxodo e o exílio palestinos. No ano de 2012 escreveu um livro chamado “O Filho do General” e iniciou sua trajetória como palestrante, ativista, defensor dos palestinos, pela paz, na busca de uma solução desarmada, pelo BDS (Boycott, Divestment and Sanctions) e por uma consciência mundial sobre o regime de Apartheid de Israel. A importância de sua história está relacionada ao fato de que Miko não é um palestino árabe; nunca sofreu diretamente na pele a dor de ser estrangeiro em sua própria terra. Também não teve sua família morta ou sequestrada pelo exército de ocupação e sequer foi preso por jogar pedras em quem matou seus vizinhos e primos. Porém, Miko foi convencido por amor e não por oposição.

Um palestino “identitário” o veria como um inimigo de sua identidade árabe, por não ter sua língua e sua pele mais escura. Por ser judeu jamais seria aceito, e suas palavras seriam bloqueadas com o silenciamento do “lugar de fala”. Ora, “como você ousa falar da Palestina, seu judeu opressor?”, poderia ser a reação dos que não enxergam nele a identidade palestina, a única que lhe garantiria direito de falar. Entretanto, Miko sabe que a Palestina é o seu lar também e por isso mesmo não aceitou jamais ser calado. Ao lado de outros ativistas, árabes e judeus, debate abertamente uma solução para a Palestina, sem levar em consideração a cor da pele, a origem, a cultura ou a língua. Ousa discordar em alguns temas com o direito que a paixão pela Palestina lhe confere. Para Miko Peled, o que une todos esses personagens na busca para a paz na Palestina é o que nos faz humanos, o traço que nos une para acima das diferenças étnicas e culturais.

Da mesma forma, muitos homens brancos sabem que um mundo que oprime mulheres, gays, trans e que despreza negros também é o seu mundo e por esta razão desejam falar de sua inconformidade e lutar contra estas injustiças. Porém, muitos são silenciados por um identitarismo sectário que se move por ressentimentos e preconceitos, que apenas afastam muitos dos possíveis aliados. Precisamos de um mundo com mais personagens como Miko Peled e menos revanchismos estéreis.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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