Recentemente, Bassem Naim, membro do birô político do Hamas e representante do partido na Faixa de Gaza informou em entrevista à emissora catarense Al Jazeera que “Israel” tentou atacar o governo eleito do Hamas em Gaza utilizando-se de “clãs e tribos” palestinos do enclave, os quais formaria um novo governo no lugar do Movimento de Resistência Islâmica.
Segundo Naim, contudo, esse plano falhou. Aliás, estava destinado a fracassar, pois, apesar de esses clãs e tribos ainda fazerem parte da sociedade palestina “eles não mais constituem um componente importante da formação da sociedade palestina”, pois “o poder que essas tribos e clãs possuem é limitado, de forma que não seria possível a eles governar a larga comunidade de Gaza, de 2,3 milhões de pessoas”, conforme relatado pelo portal de notícias The Palestine Chronicle.
O membro do birô político do Hamas denuncia que o plano sionista estaria relacionado com a distribuição de ajuda humanitária, pois a própria imprensa sionista havia noticiado a respeito de um “plano que inclui a divisão da Faixa de Gaza em áreas governadas por tribos e é responsável pela distribuição de ajuda humanitária”.
Isto foi noticiado em janeiro pelo jornal israelense The Times of Israel em matéria que anunciava que “os chefes de segurança israelenses deverão propor um plano pelo qual os clãs palestinos na Faixa de Gaza administrarão temporariamente o enclave costeiro após o fim da guerra em curso para remover o Hamas, com cada clã administrando a ajuda humanitária e os recursos para as suas regiões locais”.
Expandindo essas informações, o Times deixava claro que a “as Forças de Defesa de Israel e o serviço de segurança Shin Bet querem dividir Gaza em regiões e sub-regiões, com a administração civil e a distribuição de ajuda humanitária em cada área confiada a um clã local”.
Destaca-se ainda que, conforme o plano sionista, “somente clãs que são familiares às autoridades de segurança israelenses serão encarregados de administrar a ajuda que entrará na Faixa devastada pela guerra vinda do Egito e de Israel”.
Segundo o Times, essas informações foram fornecidas pela emissora pública israelense Kan.
A denúncia do plano sionista, de tentar remover o Hamas e substituí-lo por clãs e tribos palestinos, utilizando a distribuição da ajuda humanitária para este fim, é corroborada pelo fato de que as forças israelenses de ocupação vêm assassinando sistematicamente autoridades policiais do governo de Gaza responsáveis por coordenarem a distribuição de ajuda humanitária.
Foram os casos do Brigadeiro General Fayeq Al-Mabhouh, diretor da polícia de Gaza; o Tenente-Coronel Raed Al-Banna, Diretor de Investigações do norte de Gaza; e Mohammed Al-Bayoumi, chefe de polícia em Nusseirat, recentemente noticiado por este Diário:
Contudo, conforme apontado pelo dirigente do Hamas, o plano falhou. E não apenas por falta de poder político dos clãs e tribos. Mas também por tais grupos palestinos se recusaram a se colocar contra o Hamas. Nesse sentido, a própria Assembleia Nacional das Tribos, Clãs e Famílias publicou declaração denunciando a tentativa de “Israel” de jogá-los contra o Hamas, o conjunto da resistência e todo o povo palestino. Na mesma nota, denunciou o assassinato das autoridades policiais como parte da manobra espúria. Leia na íntegra:
“A Assembleia Nacional das Tribos, Clãs e Famílias Palestinas:
A ocupação persiste em suas tentativas fúteis de espalhar o caos, visando nossa polícia palestina e os comitês populares de proteção, que formam o escudo de proteção e segurança para nosso povo contra a ocupação e seus agentes que perturbam a paz societal e se desviam dos valores, costumes e tradições nacionais de nosso povo.
Condenamos veementemente as tentativas da ocupação de atingir o sistema policial e os comitês populares de proteção para afirmar que nós, com todas as nossas tribos, clãs e famílias na Faixa de Gaza, apoiamos nossa polícia nacional palestina e os comitês de proteção. Pedimos ao nosso povo na Faixa de Gaza que apoie todos os esforços abençoados feitos pelo Ministério do Interior e pelos comitês populares de proteção nesse contexto, para preservar nossa segurança interna e paz societal.
Lamentamos nossos filhos mártires que ascenderam, de nossa polícia nacional e dos bravos comitês populares de proteção em toda a Faixa de Gaza, que fizeram esforços incansáveis nas últimas semanas para proteger os comboios de ajuda e socorro ao nosso povo em todas as províncias da Faixa e manter a situação de segurança. Isso confundiu e frustrou os planos e cálculos da ocupação em espalhar o caos e a falta de lei. Afirmamos que nosso povo, em todas as suas componentes, está unido em proteger as costas da resistência e o front interno de nosso povo.
Em conclusão: Os clãs permanecerão a fortaleza inexpugnável e o apoio para nosso povo, nosso governo e nossa resistência em proteger o front interno e fortalecê-lo contra as tentativas fúteis da ocupação e seus peões.”
Em retaliação ao fato de que os clãs, tribos e famílias não capitularam perante os sionistas, “Israel” bombardeou novamente a rotatória do Cuaite (o mesmo local onde ocorreu vários “Massacres da Farinha”), mas desta vez tendo como alvo membros do comitê tribal.
Neste ataque, pelos menos 23 palestinos foram assassinados, tendo a emissora catarense Al Jazeera confirmado que o alvo deste crime foram, de fato, os membros do comitê tribal. Eles vinham trabalhando junto com a resistência na distribuição de ajuda humanitária depois que “Israel” passou a assassinar os policiais responsáveis por coordenar essas atividades:
“Os comitês estavam num ponto pertencente à UNRWA e localizados dentro das áreas classificadas pela ocupação como ‘seguras’”, informou a Al Jazeera, acrescentando que “estavam à espera da chegada da ajuda para a distribuir à população”.
O Hamas prontamente repudiou o ataque, declarando esse massacre como “mais uma prova do sadismo da criminosa ocupação sionista, que ataca deliberadamente quaisquer estruturas tribais locais ou nacionais que organizam e distribuem ajuda com o objetivo de espalhar o caos e desordem de segurança“.
Ademais, diante do apoio incondicional que os clãs, tribos e famílias palestinas demonstraram ao Hamas e demais organizações da resistência, o próprio Movimento de Resistência Islâmica, através de Osama Hamdam, membro do birô político do partido, emitiu declaração durante conferência de imprensa em Beirute (Líbano), agradecendo e cumprimentando a Assembleia dos Clãs por seu compromisso com o povo palestino:
“Nós saudamos a postura nacional responsável das famílias e tribos de Gaza, que se recusaram a responder aos planos maliciosos da ocupação sionista, destinados a criar órgãos de coordenação alheios à linha nacional palestina. Isso confirma o apoio das famílias e tribos à resistência, ao governo, à sua polícia e forças de segurança, e sua rejeição às tentativas de ocupação de manipular a linha nacional palestina.”
No mesmo sentido se posicionou a Jiade Islâmica, através de seu vice-secretário-geral, Mohammed Al-Hindi:
“O exército de ocupação não alcançou nenhum de seus objetivos na Faixa de Gaza.
Em 165 dias, Netaniahu não conseguiu alcançar nenhum feito em Gaza, o que aumentou a pressão interna e externa sobre ele.
A ocupação tentou negociar com as tribos e famílias de Gaza na tentativa de encontrar uma alternativa à resistência, mas foi rejeitada porque se recusam a ser cúmplices da agressão, sendo um ambiente de apoio à resistência.”
O líder da resistência foi preciso: estamos diante de mais um fracasso de “Israel”. E mais uma prova de que há uma Revolução Palestina em curso, e de que essa revolução se fortalece a cada dia.