Neste domingo, Emmanuel Macron, presidente da França, dissolveu a Assembleia Nacional (o Congresso Nacional francês) e convocou novas eleições para o Legislativo previstas para 30 de junho e 7 de junho — respectivamente, primeiro e segundo turnos.
A decisão de Macron foi tomada em resposta às eleições para o Parlamento Europeu, seu pronunciamento sobre a dissolução foi feito cerca de uma hora após a divulgação dos primeiros resultados, provenientes da boca de urna.
Os dados iniciais indicam uma vitória acachapante do partido de extrema direita Reunião Nacional, de Marine Le Pen, que ficou com 31,5% dos votos em primeiro lugar. Em segundo lugar, está o partido de Macron, Renascimento, com 14,5%, e em terceiro, a coligação do Partido Socialista e do Place Publique, com 14%. A França Insubmissa, partido de Jean-Luc Mélenchon, ficou em quarto lugar, com 10,1% do total. Por fim, os Ecologistas ficaram em quinto lugar (5,5%) e o Reconquista em sexto e último lugar (5,3%).
“Não foi um bom resultado para os partidos que defendem a Europa […] Partidos de ultradireita, que se opuseram nos últimos anos a tantos dos avanços possibilitados pela nossa Europa estão ganhando terreno pelo continente. Não poderia, no fim deste dia, agir como se nada estivesse acontecendo […] É por isso que, depois de ter realizado as consultas previstas no artigo 12.º da nossa Constituição, decidi lhes dar novamente a escolha do nosso futuro parlamentar através da votação”, disse Macron.
Ainda durante seu discurso, no palácio presidencial, o presidente francês afirmou: “a ascensão dos nacionalistas, dos demagogos, é um perigo para a nossa nação, mas também para a nossa Europa, para o lugar da França na Europa e no mundo”.
Marine Le Pen, por sua vez, comemorou o resultado, afirmando que “estas eleições históricas mostram que quando o povo vota, o povo ganha”. “Depois das eleições legislativas de 2022, que permitiram designar a Reunião Nacional como o principal adversário parlamentar [do governo], estas eleições europeias estabelecem o nosso movimento como a grande força de mudança para França”, completou.
Nas eleições citadas por Le Pen, seu grupo ficou em terceiro, conquistando 89 cadeiras. Este resultado mostrou o enorme crescimento da influência do Reunião Nacional diante da falência política do governo Macron e da política neoliberal como um todo. Finalmente, representou um salto de 81 vagas no parlamento francês.
Comentando sobre a crise do governo e os primeiros resultados das eleições, Le Pen ainda afirmou:
“O povo francês mandou uma mensagem clara ao poder macronista, que está se desintegrando: já não querem uma construção europeia tecnocrática que nega a sua história, despreza as suas prerrogativas fundamentais e que resulta na perda de influência, identidade e liberdade.”
Ademais, destacando seu programa, a líder da extrema direita disse que “estamos prontos para governar, estamos prontos para acabar com esta imigração em massa, para tornar o poder de compra uma prioridade, estamos prontos para reanimar a França”.
Ao comentar sobre os resultados das eleições para o Parlamento Europeu, Jordan Bardella, atual líder do Reagrupamento Nacional, apontou que Macron é um “presidente enfraquecido”. “Esta tarde soprou um vento de esperança em França e apenas começou”, comemorou. Diante do resultado, ele pediu que Macron dissolvesse a Assembleia e convocasse novas eleições:
“O presidente da República não pode ficar surdo à mensagem enviada esta noite pelo povo francês […] Pedimos-lhe solenemente que reconheça esta nova realidade política […] e organize novas eleições parlamentares.”
Conforme mencionado pelo próprio Macron, o presidente da França pode, segundo o artigo 12º da Constituição, dissolver a Assembleia Nacional. Ele só deve fazê-lo, entretanto, após consultar o primeiro-ministro e os presidentes das duas assembleias (Assembleia Nacional e Senado). O presidente francês também precisa, de acordo com o artigo, esperar pelo menos um ano após as eleições legislativas seguintes à última dissolução.
Este mecanismo já foi utilizado em outras cinco ocasiões desde o estabelecimento da chamada Quinta República em 1958. Em 1962 e em 1968, Charles de Gaulle o fez, se fortalecendo nas votações que seguiram os decretos em ambas as ocasiões. Em 1981 e em 1988, foi a vez de François Mitterrand. Nos dois casos, os autoproclamados socialistas ganharam espaço no parlamento. Por fim, em 1997, Jacques Chirac determinou a dissolução da Assembleia Nacional, tiro que saiu pela culatra devido à vitória da esquerda chamada “pluralista”, composta pelos socialistas e pela chamada “esquerda radical”.
Não está claro qual a estratégia de Macron ao dissolver o parlamento. Afinal, a extrema direita, cujo crescimento foi justamente o motivo pelo qual invocou o artigo 12º da Constituição francesa, exigiu e comemorou a medida. Nesse sentido, ele pode muito bem sofrer um revês, assim como foi em 1997 com Jacques Chirac, conforme mencionado anteriormente.
Entretanto, uma coisa é certa: a vitória da extrema direita demonstra uma falência cada vez maior da política imperialista de Emmanuel Macron. Afinal, desde o primeiro dia no governo, ele atacou sistematicamente os direitos dos trabalhadores franceses, algo que causou grande revolta conforme visto nos protestos dos “Coletes Amarelos”. Esta revolta, por sua vez, é canalizada para a extrema direita porque a esquerda, ao invés de apresentar uma política independente, uma alternativa revolucionária para os trabalhadores, fica a reboque do imperialismo.
Este fenômeno, no entanto, não ocorre somente na França, mas em toda a Europa, como mostra a vitória da extrema direita em países como Alemanha, Itália e Bélgica. Mais um sinal de que o regime imperialista caminha para uma desintegração total, algo que deve instigar ainda mais o imperialismo a entrar em uma guerra generalizada.