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Juca Simonard

Editor da revista Na Zona do Agrião e redator do Dossiê Causa Operária

Coluna

Júnior Santos, herói alvinegro

O Anjo das Pernas Confusas é o melhor jogador do Botafogo na temporada

Júnior Santos aprontou novamente! É unanimidade entre todos os torcedores botafoguenses que o Anjo das Pernas Confusas é nosso melhor jogador na temporada. Com 10 gols em 2024, é o artilheiro entre todos os times que disputarão a Série A do Campeonato Brasileiro.

Ocorreu na noite desta quarta-feira, 6, a primeira partida entre Botafogo x Redbull Bragantino, no Estádio Nilton Santos, pela Terceira Fase da Copa Libertadores. Os dois times buscam uma vaga na Fase de Grupos, quando a luta pelo título de Campeão da América começa oficialmente.

Como era de se esperar, jogo muito difícil. A marcação alta do Bragantino impedia a saída de bola do Glorioso, que jogava na rapidez e no contra-ataque. Jogo tenso, pressão do Bragantino e muitos erros de passe dos jogadores alvinegros, claramente afobados, pressionados pelo recente fracassado do ano passado.

Minhas unhas e meu coração não estavam aguentando. Tive, então, de tomar dois ansitecs para continuar assistindo à partida.

Mas eis que, ao final do primeiro tempo, lateral para o Botafogo. Suarez bate rápido, colocando a bola à frente de Júnior Santos, que, com toda a sua força física e velocidade, dispara como uma bala em direção à área adversária. Limpa um, dribla outro e chuta no cantinho esquerdo do goleiro, sem chance para o arqueiro do time da Redbull:

— GOLAÇO! GOL! GOL! GOL, PORRA!, gritei a plenos pulmões, enquanto pegava João Inácio, meu afilhado de seis anos, nos braços e o jogava para cima, divertindo-o.

As pernas confusas de Santos haviam funcionado novamente, fazendo o diabo na frente defensiva do inimigo.

Mas nem deu tempo de comemorar. No ataque seguinte, falta para o Bragantino: a bola é cruzada da linha lateral para a área e, numa clara falha defensiva do Botafogo, Capixaba, de cabeça, coloca a bola para dentro. 1 × 1 e fim do primeiro tempo.

Como bom botafoguense, tudo de ruim passou na minha cabeça. “Não vamos nos classificar, esses pipoqueiros vão voltar frouxos no segundo tempo”, dizia. “Por que não colocam Danilo Barbosa para jogar e dar solidez defensiva para o time? Ele é titular absoluto!”

A tensão voltou e, no intervalo, fui curtir um samba e tomar uma cachaça na Conselheiro Crispiniano, na República, enquanto esperava a volta da peleja. Os ansitecs (e a cachaça, claro) começavam a fazer efeito e sambei com Joãozinho.

O jogo voltou, transmitido no boteco junto ao samba. Segundo tempo de tensão novamente. João Inácio, cansado, já queria ir embora, mas insisti em ficar. Estava tarde e o pagode finalmente acabou. Conversei um pouco com os músicos quando, no terço final da segunda metade, Júnior Santos recebe a bola na área, limpa um, passa para Suarez, que lhe devolve, sozinho, de costas para o gol; a bola sobe e Santos dá um voleio para colocar o Botafogo novamente na vantagem.

Outro golaço! Não me contive:

— GOLAÇO!, gritei, comemorando com João e os sambistas. Euforia total até o término da partida. “Vitória do Botafogo, graças a Deus!”, pensei aliviado.

O ponta-direita do Botafogo não apenas se tornou o maior artilheiro entre todos os jogadores da Série A, como o maior artilheiro isolado do Botafogo na Copa Libertadores, com 7 gols — marcados em apenas 3 jogos. Infelizmente, os anos crise reduziram a participação do clube na competição, assim como algumas campanhas pífias. Por isso, sete gols foram suficientes para entrar na história.

Mas Júnior Santos está, assim, à frente de nossos antigos artilheiros (empatados com cinco gols): Rodrigo Pimpão, Dirceu e ninguém mais, ninguém menos que Jairzinho, o Furacão, um dos maiores ídolos do Glorioso.

E bem-merecido, pois Santos representa o torcedor alvinegro em campo. Nas redes sociais, após o jogo, vi meu irmão Henrique escrevendo: “EU AMO O JÚNIOR SANTOS”.

Carinhosamente, ganhou o apelido de Anjo das Pernas Confusas, pelas bizarrices que realiza em campo, às vezes se atrapalhando nos seus próprios dribles. Mesmo assim, Júnior Santos é sinônimo de raça e resiliência. Se às vezes atua abaixo numa partida, uma coisa se pode ter certeza: ele entregará 100% de si durante os 90 minutos em campo. Durante a queda histórica do Botafogo no final de 2023, Santos foi um dos poucos que se esforçou e lutou pela vitória até o fim, um dos poucos jogadores que mantiveram o rendimento — e, no caso dele, até melhorou.

Sua resiliência é típica do botafoguense, esse ser perturbado, sofredor, mas que nunca se entrega e cujo grande amor da vida sempre será a Estrela Solitária, por mais ruim que seja a fase ou por mais vexames e sacanagens do clube.

Assim como Júnior Santos, o torcedor do Botafogo jamais se entrega. “O Botafogo é uma fortaleza e sua torcida jamais se renderá”, diz uma tradicional faixa dos torcedores alvinegros. “Ninguém ama como a gente. O maior amor do mundo”, dizem outras.

O Anjo das Pernas Confusas é, portanto, a cara da torcida botafoguense e do próprio Botafogo. Seu apelido, claramente, faz referência ao grande ídolo do Glorioso e da Seleção Brasileira, o ponta-direita Mané Garrincha, o Anjo das Pernas Tortas e a Alegria do Povo.

Aliás, pensei na relação entre os dois, realizada pelos torcedores nas redes sociais. Até comentei sobre isso com Seu Manel, um botafoguense baiano (como Júnior Santos) dono de um boteco que frequento na Miguel Stefano:

— É o novo Garrincha!, disse brincando, no bar onde se vê um desenho realizado pelo filho de Manel onde se vê Pelé, com a camisa do Santos, e Garrincha, com a do Botafogo, abraçados.

Dei uma passada só para conversar, falar sobre a vitória do Fogão. Fiquei, no máximo, cinco minutos. Por acaso, quando estava lá, passou na TV uma reportagem sobre o Botafogo, especialmente sobre Júnior Santos, o herói da partida. É o grande jogador da semana!

É, claro, que a comparação com Garrincha é uma brincadeira entre os torcedores. Júnior Santos jamais chegará perto à qualidade de Garrincha, o maior jogador do mundo, ao lado do Rei do Futebol, Pelé.

Mas existem, sim, coisas que se assemelham entre eles, além da posição.

Os dois são cara do Botafogo, da superação das adversidades e do espírito “anormal” do clube. Como diz o ditado, “tem coisas que só acontecem com o Botafogo”. Como, por exemplo, o primeiro técnico de Garrincha, Gentil Cardoso, teria dito: “parece piada. Só mesmo no Botafogo que torto pega primeiro time”.

Garrincha era um ser ingênuo, talvez o coração mais puro do mundo. Por isso, era chamado de “maluco”, “burro” e, como disse Nilton Santos, “jogava o futebol mais errado do mundo”, mas podia porque era uma “força da natureza”.

Com Júnior Santos, que não é torto, acontece o mesmo. Por mais que não chegue aos pés de Garrincha em recursos, “joga o futebol mais errado do mundo”, toma muitas decisões ruins, é considerado “maluco” e uma “força da natureza”, como diz meu irmão.

Mas de que importa isso se dá resultado?

Assim como Garrincha, Júnior Santos vem do fim do mundo. Na época de Garrincha, sua cidade, Pau Grande, “não constava no mapa”, como diz Nilton Santos. Júnior Santos, por sua vez, vem do esquecido interior da Bahia, da cidade Conceição de Jacuípe, com 30 mil habitantes. Saídos dessas pequenas cidades, onde poucas pessoas saem para ter sucesso fora do cotidiano monótono, Garrincha se tornou o maior jogador da história e Júnior Santos se tornou o maior artilheiro do Glorioso na Libertadores.

Da mesma forma, assim como o Anjo das Pernas Tortas não deveria ser jogador de futebol, e superou as dificuldades, o Anjo das Pernas Confusas também. O primeiro tinha um problema físico, tinhas a pernas, o principal instrumento de trabalho do jogador de futebol, tortas. Mas superou as expectativas médicas e virou um ídolo mundial.

Já Santos é dela época em que todos os jogadores passam por divisões de base e vão sendo incorporados nos times principais. Mas ele começou sua carreira apenas com 23 anos, sem nada disso. Enquanto Garrincha era um operário têxtil que foi jogar no Botafogo, Santos era operário da construção — pedreiro — e saiu totalmente do roteiro para se tornar jogador profissional. E agora está aí, fazendo história com o Glorioso.

Portanto, Júnior Santos merece, sim, a comparação com Garrincha. Não do ponto de vista da qualidade, mas do que os dois representam: a alma “anormal” do Botafogo de Futebol e Regatas.

Viva Júnior Santos, nosso herói alvinegro!

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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