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Ric Jones

Médico homeopata e obstetra. Escritor, palestrante da temática da Humanização do Nascimento no Brasil e no exterior.

Coluna

Jornalismo Isento

"A responsabilidade do jornalista ocorrerá sempre que ele foi fonte ou veículo de uma notícia, ou opinião"

Uma conhecida jornalista, da maior rede de televisão brasileira, ao prestar homenagem ao dia das mulheres, apontou solenemente seus dedos para as “mortes de mulheres israelenses cometidas pelo Hamas”, sem que uma palavra sequer fosse dita sobre as milhares de mulheres mortas pela fúria assassina sionista que ocorre agora em Gaza, no primeiro genocídio televisionado pela humanidade. Também não fez referência ao fato de que as mulheres palestinas são executadas há décadas, e números de mortes seriam ainda mais tétricos se acrescentarmos aquelas que pereceram nos 75 anos de ocupação brutal de Israel, que se iniciou no Nakba e perdura até hoje. Mas é claro que sabemos o quanto de blindagem se produz sobre jornalistas de grandes emissoras. Não há como criticá-las publicamente sem pagar um alto preço, pois é fácil ser acusado de misoginia e/ou racismo – pelo menos na perspectiva dos identitários. Aliás, está é uma das razões (além da qualidade profissional) para as empresas jornalísticas apostarem no identitarismo, pois esta estratégia cria uma barreira bem sólida contra as notícias enviesadas que veiculam.

A mesma estratégia ocorre na representatividade política onde as ações mais brutais e destrutivas do imperialismo são comunicadas por negros (ou “afro-americanos”), basta lembrar a recente negativa de cessar-fogo comunicada pela embaixadora americana na ONU, Linda Thomas-Greenfield, uma diplomata negra que afirmou que o veto americano à proposta ocorreu por este não citar o “direito de Israel de se defender”, sem explicar que, pelas leis internacionais, apenas o país ocupado tem o direito de se defender das agressões dos invasores. É evidente que esta desculpa esfarrapada tem o claro intuito de manter viva a guerra, levando adiante a limpeza étnica sobre a Palestina e tornando realidade a “solução final” que a mesma diplomata acabou citando – em um curioso e horrendo “lapso” – algumas semanas depois.

“Ahhh, mas eles apenas cumprem ordens. Eles somente reproduzem o que os seus superiores lhes determinam”. Estes argumentos que isentam de culpa os jornalistas que oferecem seu rosto às notícias ou os representantes políticos que comunicam atrocidades se baseiam, por um lado, na tese da neutralidade da imprensa, que seria apenas um veículo imparcial dos fatos e, por outro lado, na cadeia de responsabilidades que coloca os representantes como apenas aqueles que comunicam as decisões. Sabemos da impossibilidade de uma imprensa positivista, baseada em fatos concretos e sem qualquer viés; não existe jornalista sem lado que apenas “cumpre ordens”. Também não há embaixadores sem opinião e sem valores morais. Usar como defesa a impossibilidade de se insubordinarem às determinações dos seus superiores é inaceitável. Os jornalistas que representam uma empresa francamente engajada nos interesses americanos e com evidentes interesses de proteger Israel, o sionismo e o apartheid na Palestina, assim como os representantes legais deste poder transnacional são responsáveis pelas atrocidades que escondem e pelas ações de terror que disseminam.

Ora, essa desculpa não pode mais ser aceita. Um policial que só prendesse negros dizendo estar cumprindo ordens também é responsável pelo racismo de suas ações. Ninguém é obrigado a cumprir ordens ilegais ou que ferem a decência. Qualquer sujeito a quem fosse exigido veicular mentiras ou narrativas sectárias poderia se negar a cumprir estas ordens, por um mecanismo de “escusa de consciência”. Sua condição de empregados não pode levar ao extremo aceitar e reproduzir qualquer mentira ou desinformação como se não fosse dono de sua consciência, como que transformado em um mero megafone humano das ideias de quem representa.

Aliás, “eu só cumpria ordens” foi o que mais se ouviu em Nuremberg, mas ninguém se tornou inocente usando esta estratégia. Caso um oficial alemão oferecesse como justificativa as ordens recebidas de seus superiores, ficando sem alternativa para desobedecê-las, não foi aceita a possibilidade de absolvição, mas apenas de redução de pena. Da mesma forma, um jornalista que aceita narrativas enviesadas na condução de um noticiário torna-se responsável pelos danos a que elas estiverem vinculadas. A responsabilidade do jornalista ocorrerá sempre que ele foi fonte ou veículo de uma notícia, ou opinião.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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