Durante o ato do Dia da Mulher Trabalhadora na Avenida Paulista, em São Paulo, este Diário publicou uma série de denúncias contra a esquerda pequeno-burguesa que, além de impedir militantes do Partido da Causa Operária e do coletivo de mulheres Rosa Luxemburgo, chamou a polícia para reprimi-los.
Desde então, esses setores pequeno-burgueses começaram a divulgar uma série de calúnias sobre o que aconteceu no dia 8 de março deste ano e sobre o PCO como um todo.
Para desmentir todas essas acusações, a Causa Operária TV entrevistou Izadora Dias. Coordenadora do coletivo Rosa Luxemburgo, Dias esteve na manifestação na Paulista e, enquanto dirigente do PCO e do coletivo, teve contato direto com a autoproclamada organização do ato, que afirmou, conforme a militante denuncia, que “todos os partidos vão falar, menos o PCO”.
Nas próximas edições deste Diário, publicaremos mais entrevistas exclusivas relatando exatamente o que aconteceu no último dia 8 de março.
Confira, abaixo, a transcrição da entrevista que, logo mais, estará disponível no YouTube na Causa Operária TV:
O que aconteceu no 8 de março? Nós, do coletivo de mulheres Rosa Luxemburgo, o coletivo de mulheres do Partido da Causa Operária [PCO], estávamos participando do ato, sempre estamos nas ruas panfletando e, principalmente, nas manifestações. Eu fui como representante do coletivo inscrever o coletivo no carro de som. Quando eu cheguei lá, fomos impedidas de nos inscrever.
O que a pessoa que estava responsável pelas inscrições disse para você? Quando eu falei que era o coletivo Rosa Luxemburgo, me parecia que ela já sabia que eu era do coletivo do PCO, e ela falou “não, vocês não participaram da reunião”. Aí eu falei “é, mas ninguém nos chamou para a reunião”. Então ela disse “vocês não participaram, vocês não vão se inscrever”.
Falei que gostaria de me inscrever enquanto Partido, enquanto PCO, ela estava com a prancheta das inscrições e eu vi que vários partidos estavam inscritos, até me chamou atenção que o Partido Verde [PV] estava inscrito. Mas ela disse “não, vocês não participaram da reunião”. Então eu falei “todos os partidos vão falar menos o PCO?”. Ela disse “sim, todos os partidos vão falar, menos o PCO”. Eu olhei assustada e ela disse “sim, pode fazer notinha de repúdio”. Quer dizer, a conversa foi, desde o começo, nada agradável, foi uma arrogância extrema.
Tentamos entender a situação, conversamos, argumentamos que ninguém nos chamou para a reunião, mas, finalmente, somos um Partido, temos um grupo de mulheres, estamos fazendo a campanha em defesa da Palestina. Eu já estava com os cartazes porque estava distribuindo os cartazes que fizemos para o dia 8. Tentei entender a situação.
Tinha duas coordenadoras representando [a coordenação do ato] nesse momento, e essa que respondeu primeiro foi uma representante do MNU [Movimento Negro Unificado] e tinha uma outra da UJS [juventude do PCdoB]. Elas, em todos os momentos, foram muito rudes com a gente, muito.
Sabemos que, no geral, o pessoal é muito antidemocrático com essas inscrições, então sempre tínhamos que insistir um pouco mais. Mas me admirou, dessa vez, a arrogância contra a gente, elas foram bem claras. Depois a outra moça, quando eu estava tentando entender o que estava acontecendo, ela falou a mesma frase novamente, que todos os partidos iriam falar, menos o PCO. Até falei “nossa, vocês até ensaiaram”.
Esquerda pequeno-burguesa tenta censurar PCO à força durante ato
Tem muita gente falando que o PCO seria agressivo. O que aconteceu depois desse seu relato? Fiquei um tempo conversando com elas para entender se era assim mesmo, se seríamos censuradas dessa maneira. Até brinquei que eles precisariam melhorar o golpe porque, como disse, sempre temos essa dificuldade de nos inscrevermos, mas, no geral, eles nos colocam no final, depois de todos os partidos, todos os grupos políticos, depois que o ato andou bastante, eles nos chamam para falar um minuto. Tentam dar uma canseira na gente, mas, dessa vez, elas estavam bem determinadas em não deixar o PCO falar.
Então, as meninas começaram a protestar, as mulheres do Coletivo começaram a chegar e começaram a falar “por que não podemos falar? Somos um coletivo organizado, temos atividade política, temos uma imprensa”. E nisso começou um protesto, vimos que estávamos sendo censuradas e que a campanha em defesa da mulher Palestina – porque essa era a nossa campanha para esse ato – estava sendo censurada e as mulheres começaram a protestar.
Começaram com o grito “sem censura”, começaram a avisar às pessoas que estavam em volta o que estava acontecendo, que estavam censurando as mulheres do PCO. Tinha gente que vinha perguntar “como assim vocês não vão falar?”. Começou uma manifestação nesse sentido, de protestar que estávamos sendo censurados.
Diante desse protesto, qual foi a reação dos pretensos organizadores do ato? Foram chegando outras mulheres da organização, teve uma que até falou “inscreve elas no final” […], mas outra olhou para ela e disse “não”, como se falasse “não se meta, elas não vão falar”. Outras mulheres meio desavisadas também [falaram] “por quê? Coloca elas no final”.
Então, elas começaram a formar um bloqueio em volta da entrada para o carro de som, e começou a aumentar esse bloqueio. Chamaram uma mulher negra bem alta, começaram a chamar outras mulheres da organização para impedir que a gente falasse com a organização. Teve até um momento que eu conversei com uma moça da JPT [Juventude do PT] – e aí você vê que o PT até que tem um caráter mais democrático – e ela até tentou negociar com a gente. Disse que ia pegar o meu telefone, para nos chamar para a próxima reunião no ano que vem, mas que nesse ano não daria para falarmos.
Tinha duas companheiras do coletivo que ouviram, elas estavam ali perto, e elas [disseram] “não, a gente não vai falar ano que vem, queremos falar esse ano, queremos defender a campanha das mulheres palestinas nesse ato”. Então, quer dizer, não tinha um acordo de que aceitássemos ser censuradas.
Parece que isso já tinha sido decidido nessa reunião de organização que, por algum motivo, nós não fomos convidadas.
As mulheres do PCO continuaram o protesto e, depois, chegou a polícia. Como se deu isso? Começamos a agrupar mais pessoas, nossa bateria veio também, e começamos, enquanto Partido, a denunciar, protestar que as mulheres do PCO estavam sendo censuradas. Então, começaram a chamar a polícia no carro de som, falaram “está tendo uma confusão aqui, polícia, vem cá!”. Aí veio uma policial feminina e um masculino que olharam meio assim [como se dissessem] “se virem aí”. Eles conversaram alguma coisa com as organizadoras e foram embora, parece que não estavam vendo motivo [para reprimir].
Nós estávamos batucando, gritando, escrevemos cartazes avisando que estavam nos censurando, cartazes com “querem calar as mulheres do PCO”, “abaixo a censura”. Quer dizer, era um protesto. A polícia deve ter olhado e pensado “mas isso não é uma manifestação? Elas estão ali manifestando, estão com cartazes”. Então a própria polícia olhou e não tinha muito o que fazer.
Mas aí a manifestação aumentou porque as pessoas que estavam vendo o que estava acontecendo se integraram, inclusive pessoas que estavam com nosso panfleto na mão, panfleto em relação à defesa da mulher palestina. Mais pessoas começaram a se juntar, então começou a tomar uma proporção maior.
Já nesse momento, elas [da organização] tentaram incluir um cordão, chamaram umas mulheres com umas faixas, mas percebemos que essas mulheres ficaram constrangidas, então não deu certo, em um primeiro momento, esse bloqueio. Então, elas chamaram novamente a polícia e, nesse momento, vieram quatro policiais femininas. Mas estávamos manifestando, então eles não interferiram.
Começamos a denunciar, começamos a gritar que estavam chamando a polícia contra as mulheres do PCO, a polícia do PSDB, a polícia do Tarcísio. Mas também, a polícia não tinha o que fazer ali, era uma manifestação, estávamos só gritando, “sem censura” etc.
Mas aí a coisa se agravou porque eles andaram com o carro de som e, nesse momento, conseguiram formar melhor um cordão.
E esse cordão tinha homens e mulheres ou só mulheres? Então, vieram homens para cima das mulheres do Partido, tanto que tem vídeo. Eles estão tentando justificar a ação deles como se fosse justificável a organização de uma manifestação que se diz de esquerda chamar a polícia para dentro da manifestação, prender manifestantes. Mas tudo que eles mostram, não justifica.
Tanto que aquele Ponte Jornalismo mostrou alguns vídeos e, no vídeo, dá para ver claramente que vêm dois homens, dois machões para cima da nossa companheira Natália Pimenta, puxando seus panfletos – ela estava com cartazes da Palestina -, empurrando ela. Se não fosse os próprios companheiros do Partido que estavam vindo para dar um apoio para as mulheres, ela tinha caído.
Então, começou essa confusão porque eles vieram para cima das mulheres, deu abertura para ter aquela confusão e aí, sim, a polícia entrou no ato. Mas nisso, elas já estavam gritando, várias vezes elas ficaram gritando para a polícia. Logo no começo, quando só estavam as mulheres do Partido, mulheres que estavam agrupando [o protesto], elas começaram a falar “venham aqui, tem homens agredindo mulheres aqui atrás do carro”, querendo criar uma situação justificável para a polícia vir. Mas, quando eles vieram, viram que não tinha nada.
Nesse momento, teve essa confusão, e aí a polícia fez um cordão – a polícia fez um cordão – impedindo que as mulheres do Partido continuassem na manifestação. Nesse momento, empurraram a companheira Fernanda, que bateu o joelho no chão – a polícia empurrou ela – e, depois do ato, foi no hospital, ficou a madrugada toda no hospital, tomou injeção, tomou soro porque o joelho dela inchou na hora; detiveram um militante negro do Partido, roubaram nossa faixa, a polícia pegou o faixão do PCO; e, depois de um tempo, conseguimos resolver a situação, continuamos na marcha.
Então, a esquerda fez cordão e a polícia ficou em cima, de guarda do ato deles, como se as mulheres do PCO, as manifestantes do Partido da Causa Operária fossem infiltradas. Quando, na verdade, começamos uma manifestação contra a censura do coletivo de mulheres Rosa Luxemburgo.
A pedido da esquerda pequeno-burguesa, PM rouba faixão e detém militante do PCO