Decorridos quatro dias da Operação Promessa Cumprida, toda a imprensa mundial permanece analisando o impacto da ação militar do Irã e noticiando as reações do imperialismo, de “Israel”, países muçulmanos e demais países oprimidos. Uma demonstração da importância da operação iraniana.
Por parte do Estado sionista, o primeiro-ministro, Benjamin Netaniahu, declarou nesta quarta-feira (17), em comunicado divulgado por seu gabinete, que “‘Israel’ fara tudo o que for necessário para se defender”. Contudo, ainda não realizou nenhum ataque militar contra o Irã em resposta à Operação Promessa Cumprida.
O que vem fazendo, para além dos ataques contra o povo palestino, em Gaza e na Cisjordânia, é atacar o Hesbolá e a população civil do Líbano. O Hesbolá, que é o partido político mais popular do Líbano, é aliado do Irã e vem sendo a principal organização do Eixo da Resistência travando a luta revolucionária em apoio à Palestina contra “Israel”. Contudo, impulsionado pelo sucesso da ação iraniana, o Hesbolá vem respondendo às forças de ocupação da maneira mais intensa desde 7 de outubro de 2023, quando a operação Dilúvio de Al-Aqsa foi deflagrada.
Os Estados Unidos, principal país imperialista, anunciaram que em breve irão impor novas sanções contra o Irã. A declaração foi dada por Jake Sullivan, Conselheiro de Segurança Nacional norte-americano, acrescentando que o presidente Joe Biden está trabalhando nesse sentido com mandatários dos demais países do G7 (grupo de países imperialistas).
Em resumo, nem “Israel”, nem o imperialismo responderam militarmente atacando o território do Irã após a Operação Promessa Cumprida. O que reforça a análise feita por este Diário: o Irã se tornou um poder de dissuasão na região do Oriente Próximo (região que abrange tanto o Oriente Médio quanto a Ásia Central), acabando com o poder ostentado por “Israel” e pelos EUA na região.
Contudo, a Operação Promessa Cumprida consolidou o Irã não apenas como um poder dissuasório, mas como o principal ponto de apoio dos demais países oprimidos da região no enfrentamento contra a ditadura do imperialismo e o sionismo. Aliás, não apenas um ponto de apoio para os Estados, mas para os movimentos de libertação nacional que existem na região, sejam tais movimentos encabeçados por partidos políticos ou apenas milícias populares.
Para entender como a ação militar iraniana do dia 13 confirmou que o Estado persa é o país que encabeça a luta anti-imperialista na região, cumpre, em primeiro lugar, constatar seu poderio militar.
O Irã é o país com o exército mais poderoso da região, dentre os demais países muçulmanos. Segundo o think tank britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (ISS), as Forças Armadas Iranianas (que são compostas pelo Exército da República Islâmica do Irã, pelo Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica e pelo Comando de Aplicação da Lei da República Islâmica do Irã) possuem um efetivo de 610 mil homens. O número de reservistas, por sua vez, é de 350 mil. Deve-se considerar a Basij, ou Força de Mobilização de Resistência, milícia popular sob o comando da Guarda Revolucionária. Não se sabe ao certo o número de seus quadros. A estimativa do ISS é de que seria de 40 mil prontos para o combate. Contudo, em 2022, o líder da organização declarou que o número de reservistas seria de 25 milhões, conforme noticiado pela agência de notícias IRIB. Destes, 600 mil estariam prontos para serem mobilizados.
Mas levemos em consideração os dados informados pelo ISS, constantes do relatório Balanço Militar de 2023. Tais dados fazem do Irã o nono maior poderio militar do mundo em termos absolutos. No que diz respeito ao Oriente Próximo, suas forças armadas seriam menores apenas que as do Paquistão, cujo número absoluto seria de 1.501.000 (em comparação aos aproximados 1.000.000 do Irã, segundo o ISS). Vale ressaltar, contudo, que, por sua posição geográfica, o Paquistão não possui grande influência no que ocorre na Palestina. Ademais disso, o governo do Irã está em direto antagonismo com os EUA, e vem sendo assim pelo menos desde a Revolução de 1979. O governo dos aiatolás é um dos representantes mais radicais do nacionalismo dos países oprimidos. O governo atual do Paquistão, por outro lado, foi colocado no poder através de um golpe imperialista que derrubou e aprisionou Imran Khan, líder nacionalista paquistanês e político mais popular do país. Assim, do ponto de vista numérico, o Irã representa a principal resistência militar ao imperialismo no Oriente Próximo.
Para além do aspecto numérico do poderio humano iraniano, mas ainda permanecendo no aspecto militar, o país persa vem há anos desenvolvendo seu programa nuclear. Em que pese, não se pode afirmar com certeza que o Irã já possui armas nucleares, mas é bem provável que isto já seja uma realidade. E, dado o desenvolvimento de sua indústria militar nas últimas décadas, em especial no que diz respeito à fabricação de mísseis hipersônicos, mísseis balísticos e VANTs (Veículos Aéreos Não-Tripulados, drones, como são conhecidos em inglês), o Irã é uma potência militar não apenas no Oriente Próximo, mas em todo mundo.
Não é coincidência que seus VANTs foram utilizados extensivamente pela Rússia durante sua operação militar especial na Ucrânia. Recentemente, o jornal sionista Jerusalem Post noticiou que a parceria militar entre o Estado persa e o gigante do leste está mais forte do que nunca, algo evidenciado pela visita de delegação iraniana à Federação Russa e às instalações de sua indústria de defesa.
Segundo informado pelo então vice-ministro da Defesa iraniano, o general Seyed Mehdi Farrahi, em 8 de fevereiro de 2023, a exportação de produtos de defesa entre março e dezembro de 2022 havia triplicado em relação ao mesmo período de 2021. Ademais, o crescimento da indústria permitiu ao Irã alcançar autossuficiência militar em 93%. Não bastando, em março deste ano, o ministro da defesa Maomé Raza Ashtiani declarou que as exportações militares do Irã aumentaram entre quatro e cinco vezes, conforme noticiado pela agência de notícias Tasnim.
Dentre os países oprimidos, a indústria militar iraniana é uma das mais avançadas, abrangendo as Indústrias Eletrônicas do Irã, a Organização das Indústrias de Defesa, a Organização das Indústrias Aeroespacial, a Organização das Indústrias de Aviação, a Organização das Indústrias da Marinha e Segurança das Telecomunicações e da Tecnologia da Informação (STI). Não cumpre aqui expor em absoluto tudo o que é produzido pela indústria militar iraniana, apenas mostrar um quadro da potência militar que é o Estado persa.
Vale ressaltar que esse poderio militar foi desenvolvido ao longo das décadas em que o Irã travou a luta contra o imperialismo, especialmente os Estados Unidos, e “Israel”, seja direta ou indiretamente, algo que vem sendo feito desde a Revolução de 1979. Afinal, desde que o povo iraniano triunfou sobre o regime fantoche do Xá do Irã, os Estados Unidos vêm tentando esmagar o país.
Durante essas décadas de enfrentamento ao imperialismo, o Irã foi fundamental em auxiliar ou mesmo organizar a resistência armada aos Estados Unidos e ao sionismo no Oriente Próximo. O exemplo de maior destaque é o Hesbolá, partido político libanês que surgiu durante a Primeira Guerra do Líbano (1975-1990). Esta foi uma guerra de agressão travada por “Israel” e pelo imperialismo para destruir a resistência palestina, cuja principal organização naquela época, a OLP, estava no país dos cedros. Para combater os palestinos e os libaneses que eram seus aliados, “Israel”, além de usar a força direta, recorreu às milícias fascistas dos cristãos maronitas. O Estado sionista eventualmente conseguiu expulsar a OLP do Líbano, mas o povo libanês, em sua resistência, criou o Hesbolá. E a organização desse partido foi auxiliada por revolucionários iranianos enviados para o Líbano, membros da unidade especial que viria a ser atual Força Quds, sobre a qual este Diário já escreveu.
O principal comandante da Força Quds foi o general Qassem Soleimani, assassinado pelos EUA em fevereiro de 2020. O militar iraniano tornou-se alvo do imperialismo após décadas combatendo o imperialismo e o sionismo no Oriente Próximo, seja liderando ações do próprio Exército Iraniano, ou sendo o arquiteto do Eixo de Resistência. Por exemplo, a ação militar do Irã, sob o comando de Soleimani, foi fundamental para que os governos da Síria e do Iraque derrotassem o Estado Islâmico (EI) nos respectivos países, cuja ofensiva foi de 2014 a 2019, aproximadamente. O EI basicamente atuava (e segue atuando, na medida em que ainda existe) a serviço dos EUA e de “Israel”. Ademais, o Irã foi fundamental em auxiliar a vitória da Revolução Iemenita após uma guerra de agressão que durou de 2014 a 2023, em que mais de um milhão de iemenitas foram mortos. Por trás dela esteve os Estados Unidos, que utilizou a Arábia Saudita por procuração para conter a Revolução do Iêmen em sangue. Atualmente, o Ansar Alá (partido revolucionário) governa o Iêmen e faz parte do Eixo da Resistência, prestando valoroso auxílio, impedindo embarcações imperialistas e sionistas de transitarem pelo Mar Vermelho e pelo Golfo de Adém.
Assim, mesmo antes da Operação Promessa Cumprida, isto é, a ação militar do Irã deste último sábado (13) contra “Israel”, o país persa já se configurava, de forma imanente, como um poder dissuasório na região, ao qual os povos oprimidos podem recorrer em sua luta contra o imperialismo e “Israel”. Contudo, a ação do dia 13 de abril deixou isto às claras.
O Irã se propôs a atingir um objetivo e conseguiu. O objetivo era atingir as bases militares de Nevatim e Roman, no deserto do Negueve, de onde partiu o ataque que assassinou os militares no Consulado Iraniano em Damasco, Síria, no dia 1º de abril. Além de tais bases, outro alvo era um centro de inteligência localizado nas Colinas do Golã, especificamente no Monte Hermon. Os mísseis iranianos também atingiram o alvo. Conforme declarado pelo governo do Irã, os alvos jamais foram a população civil, centros políticos ou instalações de energia.
De início, órgãos da imprensa imperialista tentaram minimizar a ação, ou mesmo apontá-la como sendo um fracasso. O argumento é que “Israel” teria abatido 99% dos mísseis e VANTs iranianos. Contudo, esta foi uma informação fornecida pelas forças israelenses de ocupação. E, como toda declaração dada pelos sionistas, era falsa. Mais de 50% dos mísseis iranianos romperam a defesa aérea de “Israel”, sendo que sete mísseis hipersônicos atingiram os alvos pretendidos. Aliás, é preciso ressaltar que foi necessário que três países imperialistas – Estados Unidos, França e Inglaterra – fossem ao socorro de “Israel” para abater os VANTs e mísseis do Irã. Além disso, a Jordânia, traindo o seu povo e todo o povo palestino e muçulmano, também ajudou “Israel”, abatendo mísseis e VANTs. E quanto foi gasto pelo imperialismo e seus lacaios nessa operação? Mais de 1,3 bilhão de dólares. Um gasto diário insustentável até mesmo para os EUA caso entrassem em guerra contra o Irã, que gastou pouco mais de um milhão de dólares. Não é coincidência que o jornal imperialista sionista francês Le Figaro declarou que a Operação Promessa Cumprida foi um sucesso estratégico em todos os níveis.
A admissão de um dos principais jornais imperialistas de que a ação militar iraniana foi um sucesso expõe também a importância de referida ação e a influência do Irã no Oriente Próximo. Essa influência fica ainda mais evidente se observada a reação dos países árabes/muçulmanos mais ligados ao imperialismo, nomeadamente Jordânia e Arábia Saudita.
Conforme já exposto acima, a Jordânia agiu como serviçal do imperialismo e de “Israel”, abatendo mísseis e aeronaves iranianas. Contudo, o governo teve de se justificar para evitar que protestos em defesa da Palestina no país se intensificassem e adquirissem um caráter revolucionário contra a monarquia hachemita. “Alguns objetos que entraram no nosso espaço aéreo ontem à noite foram interceptados porque representavam uma ameaça para o nosso povo e áreas povoadas”, disse o governo jordaniano.
Foi noticiado que a Arábia Saudita teria aberto seu espaço aéreo para que o imperialismo pudesse agir contra o Irã, ou mesmo que tivesse fornecido inteligência sobre a operação a “Israel”. Contudo, segundo fontes informaram à emissora Al Arabiya, o governo saudita teria negado isto. Se realmente fez ou não, ainda deverá ser esclarecido. Contudo, a negativa é uma demonstração da consolidação do Irã como o principal poder regional e do receio que a Arábia Saudita tem de se colocar contra esse poder. Afinal, como o Irã é o país muçulmano mais poderoso à frente da luta anti-imperialista e antissionista, caso a Arábia Saudita vá contra o país persa, entrará em contradição com sua própria população.
O Paquistão, por sua vez, apesar de também ter exortado as partes a evitar a escalada do conflito, condenou a ação da Jordânia. Vale lembrar que o país vem atuando conjuntamente com o Irã para conter desestabilizações do imperialismo na tríplice fronteira entre os dois países, a exemplo da mais recente que ocorreu na região do Balochistão, conforme noticiado por este Diário à época.
Quanto às reações do país imperialista mais poderoso, os Estados Unidos, vale recordar que, logo após a ação iraniana, Biden teria dito a Netaniahu que os EUA não participariam militarmente de eventual reação de “Israel”. Consequentemente, conforme foi informado no início deste artigo, a Casa Branca está planejando, junto dos demais países imperialistas, aumentar as sanções contra o Irã. Isto é, a mesma política fracassada contra a Rússia, que expôs a debilidade do imperialismo contra o gigante do leste.
Ademais, outra notícia expõe a consolidação do poder do Irã. Segundo o portal de notícias The Craddle, um oficial do exército iraniano revelou que “o Irã recebeu mensagens de mediadores [norte-americanos] para permitir que o regime [sionista] fizesse um ataque simbólico para salvar a sua imagem e pediu ao Irã que não retaliasse”. Naturalmente, o país persa “rejeitou abertamente” a proposta absurda e patética.
Segundo noticiado, “a resposta foi entregue diretamente ao enviado suíço em Teerã por funcionários do Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (CGRI) e não pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros”, com a finalidade de enviar uma mensagem forte aos EUA.
Este fato, somado aos demais acontecimentos dos últimos quatro dias, desde a Operação Promessa Cumprida, são uma confirmação de que o Irã é o país que encabeça a luta anti-imperialista no Oriente Próximo e de sua influência sobre os demais países da região.
Não é coincidência que Vladimir Putin, presidente da Federação Russa, disse que o país persa é “um dos principais pilares de estabilidade e segurança na região”.
Rui Costa Pimenta, presidente do Partido da Causa Operária (PCO), foi preciso ao analisar a Operação Promessa Cumprida como o segundo acontecimento político mais importante do século XXI, acontecimento que vem na sequência da expulsão dos Estados Unidos do Afeganistão, da derrota do imperialismo na Ucrânia, dos golpes nacionalistas na África e do 7 de outubro, alterando profundamente a situação internacional.
Nesse sentido, todas as organizações da resistência palestina, do Hamas às Brigadas dos Mártires de al-Aqsa, passando pela Jiade Islâmica, a FPLP e a FDLP, saudaram a ação do Irã. E não apenas organizações palestinas, mas também aquelas que fazem parte do Eixo de Resistência, tais como o Ansar Alá, o Hesbolá, o Hesbolá do Iraque e as milícias xiitas que atuam na Síria.
Vídeos publicados na plataforma Telegram mostram o povo palestino comemorando. E não é à toa: conforme noticiado pela emissora libanesa Al Mayadeen, pela “primeira vez em meses, Gaza dorme em silêncio”.
Este é apenas um efeito da Operação Promessa Cumprida, que consolidou o Irã como país baluarte da luta anti-imperialista e antissionista no Oriente Próximo.
O escopo total da influência do Irã na região não demorará a ser visto. Afinal, agora sendo um claro poder de dissuasão contra os EUA e “Israel”, impulsionará ainda mais as organizações da resistência palestina, do Eixo da Resistência e os países que possuem uma tendência a entrar em conflito com o imperialismo.