A missão multinacional de apoio à segurança (MSS) no Haiti, aprovada pelas Nações Unidas, financiada em grande parte pelos Estados Unidos e liderada por policiais do Quênia, começou a chegar a Porto Príncipe no final de junho. É mais uma ação imperialista na longa história de manobras e conspirações que os EUA usaram para manter seu controle neocolonial sobre o Haiti e aguçar a exploração e a escravidão econômica de seu povo.
A resistência constante e tenaz do povo haitiano à dominação dos EUA tem sido um fator importante nas mudanças de táticas que os EUA tiveram que fazer. “A Revolução Haitiana foi uma grande rebelião liderada por escravos e ex-escravos que ocorreu em São Domingos, atual Haiti, a partir de 1791.Na Revolução Haitiana, escravos e ex-escravos se rebelaram contra o poder colonial da França e contra a escravidão. O colonialismo e imperialismo norte americano nunca perdoou os Haitianos por sua audácia e fervor revolucionário e submete o país a uma dominação , em associação com a burguesia local, a mais gananciosa de todas, cujo objetivo é impedir o desenvolvimento e a soberania do país . A resultante desta dominação sempre foi a destruição de todas as riquezas do país, que chegou a ser uma das colônias mais produtivas da américa latina, sendo a maior produtora de café e açúcar. Esta ação para a destruição do país chegou agora ao seu ápice. As contradições desse processo pode colocar na ordem do dia uma nova revolução social , desta vez contra o imperialismo e o capitalismo em crise.
Como tudo começou
A França realizou, a partir de 1625, a colonização da região, com implantação de grandes plantations de cana-de-açúcar e café baseadas em mão de obra escrava trazida da África. Pouco antes da Revolução Haitiana, o país produzia cerca de 60% de todo o café do mundo e 40% do açúcar consumido pela França no período. A ilha era uma das colônias mais rentáveis da França.
A grande quantidade de escravos no Haiti e a violência por meio da qual essa população era tratada, e a influência da Revolução Francesa em 1789 foram fatores determinantes da Revolução. Em 1794 a Convenção Jacobina francesa aprovou a abolição da escravidão em todas as suas colônias e declarou todos os negros e pardos como cidadãos. A revolução haitiana enfrentou uma guerra contra tropas inglesas que tudo fizeram para derrotar a Revolução Haitiana, usando de grande violência contra os escravos.
Em maio de 1798, os britânicos fizeram um acordo com os revoltosos, deixando a ilha em seguida. Em 1801, Toussaint Louverture, lider da revolução, outorgou uma Constituição para o Haiti na qual ele se declarou governante vitalício do país com total autonomia frente à França. Napoleão Bonaparte considerou esse fato separatismo e enviou tropas para combater o grupo de Toussaint. As tropas francesas, que foram lideradas pelo General Leclerc, cunhado de Napoleão, agiram com extrema violência contra os haitianos.
Em 1803 as tropas de Dessalines, novo líder da revolução, infligiu diversas baixas às tropas francesas, atacadas também pela febre amarela. No final de 1803 as tropas francesas deixaram São Domingos e, em 1 de janeiro de 1804, o país se tornou independente e passou a utilizar o antigo nome indígena da ilha, Haiti, abolindo para sempre a escravidão.
Em 1825, o rei francês Carlos X enviou uma poderosa frota para o Haiti, exigindo indenizações por causa da Revolução Haitiana. Para evitar a guerra, o governo haitiano assinou um tratado no qual se comprometeu a pagar 150 milhões de francos-ouro. O Haiti pagou sua dívida para a França até 1947, quando o Tesouro haitiano faliu. Os imperialistas vingaram a abolição da escravidão escravizando o país.
Os EUA intervém para roubar o Haiti
No início do século 20, os EUA justificaram o envio de fuzileiros navais ao Haiti para “restaurar a ordem” e “manter a estabilidade política e econômica no Caribe”. Durante essa ocupação, que durou de 1915 a 1934 e começou com fuzileiros navais dos EUA roubando as reservas de ouro do Haiti, os Estados Unidos “elegeram” o presidente pró-americano Philippe Sudré Dartiguenave
Depois de algumas manobras e turbulências e com grande apoio dos Estados Unidos, François “Papa Doc” Duvalier assumiu o poder em 1957 e seu filho Jean-Claude “Baby Doc” Duvalier o sucedeu em 1971. Foi o período de uma opressiva ditadura, onde os Tonton Macoute, verdadeira milicia paramilitar , espancava, prendia e torturava os haitianos “rebeldes” . Isso continuou até1986, quando uma rebelião popular, chamada em crioulo de “dechoukaj”, fizeram a Força Aérea dos EUA levar o ditador para fora do país.Na mala ele levou consigo os cerca de 500 milhões de dólares que havia roubado dos fundos públicos do Haiti. Em 2007, o governo suíço declarou que “Baby Doc” Duvalier tinha US $ 6,3 milhões em uma conta bancária congelada pelas autoridades.
Após a queda de Duvalier, manteve-se um regime militar apoiado pelos Estados Unidos, para “garantir a estabilidade política” e favorecer os interesses econômicos norte americanos. Em 1990, houve uma pressão ampla da comunidade internacional para realização de eleições livres e justas no Haiti. Havia uma grave Crise Humanitária no país e as eleições foram vistas como uma forma de estabilizar o país e melhorar as condições de vida da população.
O primeiro governo de Bertrand Aristide se pautou pela defesa e encaminhamento de uma série de reformas no país e implementou várias políticas reformistas durante seu mandato, focadas principalmente em melhorar as condições sociais e econômicas do Haiti como combate à pobreza, educação gratuita e universal, melhora do sistema de saúde pública, Reforma Agrária, combate à Corrupção e Direitos Humanos. Essas políticas enfrentaram resistência da burguesia haitiana e os militares interviram depondo o presidente já em 1991. Em 1994, os EUA lideraram uma intervenção militar para restaurar Aristide ao poder, sob a administração do presidente Bill Clinton. Esta ação foi parte de um acordo que incluía a implementação de reformas econômicas e políticas.
Apesar da aceitação inicial, a relação entre Aristide e os EUA se deteriorou durante seu segundo mandato, levando a tensões e, finalmente, à sua deposição em 2004.
No entanto, nesse segundo mandato Aristide se passou para o lado dos norte americanos, adotando políticas de privatização e implantando o acordo com o FMI. Não foi o bastante para mantê-lo no poder.Após o golpe de Estado que resultou na destituição e exílio do presidente Jean-Bertrand Aristide, Latortue foi escolhido por um “conselho dos sábios” criado por potências internacionais para liderar o governo interino.Boniface Alexandre, Juiz-presidente da Suprema Corte Haitiana assumiu como presidente iinterino até 2006. Em 14 de maio de 2006 foi substituído por René Préval, ganhador nas eleições presidenciais de 7 de fevereiro
Durante seu mandato, Latortue enfrentou muitos desafios, incluindo oposição do partido Fanmi Lavalas de Aristide e violência entre gangues, rebeldes e militantes. Seu governo foi reconhecido por organizações internacionais como as Nações Unidas, mas não por todos os países da região
Intervenção da ONU
Após a deposição de Aristide e por pressão dos EUA , foi criada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) em 10 de setembro de 2004, a “missão de paz” para restaurar a ordem no Haiti, após o período de insurgência pela deposição do presidente Jean-Bertrand Aristide. O CSNU decidiu pelo término da missão em 13 de abril de 2017, num processo gradual de remoção até o esvaziamento do contingente militar encerrado em 15 de outubro do mesmo ano. MINUSTAH gastou no período de atuação cerca de US$ 7 bilhões . Dez anos depois do início da Missão, os haitianos mostravam clara insatisfação diante da longa permanência de tropas da ONU no seu país. Em maio de 2013 – o senado haitiano aprovou, por unanimidade, resoluções exigindo o fim da Minustah. Entretanto, o Conselho de Segurança da ONU decidiu manter as tropas no Haiti até 2016. A Missão foi acusada de agir com violência desproporcional e cometer sérios abusos contra a população civil, milhares de estupros e assassinatos destacando-se a invasão de Cité Soleil em 2005. Foi também acusada de colaborar com a repressão política e de causar a epidemia de cólera de 2010, quando as águas do rio Artibonite foram contaminadas por esgotos provenientes de uma base nepalesa da MINUSTAH – cujos soldados seriam portadores de cólera.
A preparação do caos
A René Préval foi duas vezes presidente do Haiti, do início de 1996 ao início de 2001, e novamente de meados de 2006, após Latortue, a meados de 2011. Préval promoveu a privatização de empresas governamentais, a reforma agrária e investigações de abusos de direitos humanos. Suas presidências foram marcadas por tumultos domésticos e tentativas de estabilização econômica, com seu último mandato vendo a destruição trazida pelo terremoto de 2010 no Haiti.
Em 12 de janeiro de 2010, um terremoto devastador atingiu o Haiti, causando a morte de centenas de milhares de pessoas e deixando milhões desabrigadas A comunidade internacional prometeu bilhões de dólares para a reconstrução, mas os recursos foram roubados pela burguesia e os congressistas haitianos.
Após o terremoto catastrófico, Martelly venceu as eleições gerais haitianas de 2010-11 por seu partido Repons Peyizan (Partido de Resposta dos Agricultores), após um segundo turno contra a candidata Mirlande Manigat. Martelly ficou em terceiro lugar no primeiro turno da eleição, até que a Organização dos Estados Americanos forçou Jude Célestin a se retirar devido a uma suposta fraude. Martelly assumiu o cargo de presidente do Haiti em 14 de maio de 2011, depois que René Préval se aposentou em sua casa em Marmelade. Sua campanha eleitoral incluiu a promessa de restabelecer as forças armadas do país, que haviam sido abolidas na década de 1990 por Jean-Bertrand Aristide. Ele renunciou ao cargo de presidente em fevereiro de 2016.
Jovenel Moïse foi o presidente do Haiti de 2017 até seu assassinato em 2021. Ele assumiu a presidência em fevereiro de 2017, depois de vencer as eleições de novembro de 2016. Durante seu mandato, o Haiti experimentou protestos e distúrbios generalizados. Na madrugada de 7 de julho de 2021, Moïse foi assassinado e sua esposa Martine foi ferida durante um ataque à sua residência particular em Pétion-Ville, por um grupo de 28 mercenários estrangeiros, incluindo soldados colombianos aposentados.
*O artigo continua no número do Diário da Causa Operária da próxima terça-feira, 17/9/2024.