Nos últimos dias, o presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (PSD), e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, têm protagonizado um episódio inusitado. Representante da direita nacional e, portanto, da política neoliberal, Pacheco decidiu manter uma alíquota menor do imposto cobrado sobre a folha de pagamento das prefeituras – isto é, reduziu a tributação sobre os municípios. Haddad, por seu turno, representando os interesses do governo, que se vê desesperado diante da necessidade de aumentar a arrecadação, criticou Rodrigo Pacheco e ainda clamou por um “pacto nacional dos Três Poderes” para atingir a meta fiscal.
O curioso desse episódio é que ele coloca um governo de esquerda como defensor de uma política de austeridade, enquanto a direita aparece como defensora de uma política contrária. Puro cinismo, uma vez que essa mesma direita se unificou em 2017 para aprovar o criminoso teto de gastos. A situação comprova que, na medida em que o governo procura acenar para a direita, acaba se desmoralizando, até mesmo perante aqueles que não têm moral alguma.
O episódio também ensina que, por mais que o governo Lula procure acenar para a direita, ele não tem recebido nada em troca. Em outras palavras, quanto mais o governo se desloca para a direita, mais fica desmoralizado e, ao mesmo tempo, não recebe o seu apoio.
O comportamento do governo Lula é característico dos governos nacionalistas latino-americanos. Trata-se de um governo nacionalista burguês, que tende sempre a oscilar entre o capital financeiro e a burguesia nacional. A depender das circunstâncias e da própria luta sendo travada no País, pode adquirir características acentuadamente anti-imperialistas, como o que fez o governo de Lázaro Cárdenas, que nacionalizou o petróleo no México. Pode, contudo, em momentos de grande pressão, ceder à política de seus inimigos, como vergonhosamente fez Evo Morales em 2019 ao entregar o guerrilheiro Cesare Battisti à Justiça italiana.
O governo Lula hoje é, em grande medida, uma repetição do governo Vargas, que oscilava entre a direita e a esquerda, entre a burguesia imperialista e a burguesia nacional, incapaz de levar até o fim uma luta libertadora. Para piorar a situação do atual governo, no Brasil de hoje, o setor fundamental da burguesia é totalmente pró-imperialista. Quer dizer, houve uma modificação na natureza social da burguesia, que hoje se encontra entrelaçada com o imperialismo.
Apesar do cenário negativo, é um erro considerar que a inflexão à direita do governo Lula é uma coisa definitiva. Não é verdade, trata-se de um movimento pendular, de uma oscilação. A depender da evolução da situação política, poderá mudar radicalmente.