Nesse dia 13 de maio, o povo brasileiro comemorou mais um aniversário da Abolição da Escravidão. A Lei Áurea foi assinada em 1888. Um artigo do jornal Hora do Povo chamado O 13 de Maio e a luta por um Brasil brasileiro ao menos não traz a visão totalmente antinacional e revisionista defendida pelo identitarismo que afirma que a Abolição não mudou nada para o povo negro.
Nesse sentido, o objetivo dessa polêmica não é debater as ideias do artigo sobre o 13 de maio, mas as conclusões políticas presentes no texto. Segundo o autor, Irapuan Santos, o caminho para defender os direitos dos negros, e de todo o povo, é uma frente ampla com setores da burguesia. Vejamos como ele entende tal proposta:
“A união das forças nacionais conquistada com muito esforço levou à derrocada da ditadura e desaguou na conquista da Constituição Cidadã de 1988 que se constituiu num novo marco civilizatório para o País. Hoje a frente ampla continua na ordem-do-dia. É preciso varrer todo o entulho econômico, preconceituoso e anti-cultural deixado pelos homúnculos bolsonaristas”.
A comparação com o episódio da Constituição de 1988 mostra a concepção equivocada do colunista. Ele não sabe ou não leva em consideração que os acontecimentos que culminaram na Constituição foram um estrangulamento de um amplo movimento de massas que estava nas ruas contra a ditadura. O movimento das diretas acabou sendo canalizado primeiro para o parlamento e posteriormente, quando ele já havia sido derrotado, para um Constituição que mantinha os principais privilégios da burguesia.
A ditadura foi apenas parcialmente derrotada, ou, melhor dizendo, foi apenas formalmente derrotada. Os elementos direitistas que faziam parte e apoiavam os governos militares se mantiveram no poder, adaptando-se ao novo regime.
Essa manobra foi bem sucedida justamente porque a esquerda ingressou numa frente ampla com os setores da burguesia ligados à própria ditadura e ao imperialismo. As organizações populares e a esquerda acabaram ficando a reboque dessa direita que se apresentava como “democrática”, mas não era.
É isso o que está em jogo quando se defende uma frente ampla atualmente. É colocar a esquerda e as organizações populares a reboque da direita tradicional, pró-imperialista. Essa direita tucana, essa direita que deu o golpe de Estado e que foi e é responsável pelo bolsonarismo.
A conclusão do texto é: “Unir as forças nacionais numa frente cada vez mais ampla!”
Uma frente ampla não resolverá os problemas dos negros e dos trabalhadores ou livrará o país do bolsonarismo. É preciso uma frente única com os setores que verdadeiramente defendam os direitos do povo. A direita pró-imperialista não defende os interesses do povo nem os interesses nacionais. Na verdade, como já ficou claro, essa direita é a responsável por todas as mazelas que o Brasil enfrenta.
A ideia de uma frente ampla com a direita é tão absurda quanto dizer que a conquista jurídica da Abolição foi produto de uma frente entre os abolicionistas e os escravagistas. A direita atual é apenas o setor mais poderoso do escravagismo atual.
A Abolição foi canalizada para uma solução parlamentar. Mas ela foi produto de uma luta revolucionária dos negros e abolicionistas e foi essa luta que obrigou a assinatura da Lei.
