Neste mês de junho aconteceram as eleições para o Parlamento Europeu (PE). O resultado foi um enorme avanço da extrema direita. Entretanto, após a derrota, setores da esquerda europeia e da própria imprensa burguesa já começam a apresentar a extrema-direita como nem tão fascista assim.
Nesta eleição o Grupo de Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) obteve 83 cadeiras, correspondendo a 11,53% do parlamento. O Grupo Identidade e Democracia (ID) obteve 58 cadeiras, correspondendo a 8,06% dos votos.
Juntos a ECR e ID, grupos abertamente de extrema-direta, obtiveram 19,59% dos votos, um bastante expressivo para a extrema direita declarada.
O Grupo do Partido Popular Europeu (PPE) apresentado, a direita tradicional, com sua 189 cardeiras, obteve 26,25% da representação do parlamento. Já o Grupo Renew Europe (RE) apresentado como “centro”, com 81 cadeiras, obteve 11,25% da representação. Esse é o grupo do presidente da França, Macron.
Após o crescimento da extrema-direita fascista no PE, a esquerda europeia, seguindo a orientação de setores da própria imprensa burguesa, já começam a apresentar essa extrema-direta como nem tão fascista assim. Fazem uma propaganda de que o resultado eleitoral não seria tão ruim, minimizando sua derrota para a extrema-direita.
Essa manobra é natural para a burguesia que manteve na presidente do PE, Roberta Metsola, e como presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ambas do EPP. Denunciando que o crescimento da extrema-direita não é antagônico com a gestão política da burguesia.
Fascista de tradição
Ao contrário da propaganda da burguesia e parte da esquerda, a extrema-direita em ascenso na Europa é fascista, com tradição. As organizações na Itália demonstram bem isso, a primeira Ministra da Itália Giorgia Meloni e seu partido são um exemplo irrefutável.
Meloni é presidente do ECR e do Partido Irmãos de Itália (FDL 2012), subindo na genealogia da organização Povo da Liberdade (PL 2009), Aliança Nacional (AN 1995), Movimento Social Italiano (MSI 1945). O MSI foi fundando pelos ex-membros do Partido Nacional Fascista (1921–1943) e o Partido Republicano Fascista (1943–1945), ambos proscritos.
A própria Meloni chegou a militar na juventude do MSI, seguindo todo o desenvolvimento de organizações até o FDI.
Neste dia 7 de junho, numa noite de domingo, centenas de pessoas foram flagradas realizando a saudações romana na rua Acca Larentia. O endereço foi um local de funcionou de uma sede do antigo MSI.
O ato seria em memória de três militantes de extrema-direita caídos nos anos 1970, com o grupo alinhando em formação, uma liderança comandar “a tutti i camerati caduti”, ou “a todos os camaradas mortos”. Em resposta, os perfilados estendem o braço bradando “presente” três vezes.
A data é celebrada anualmente institucionalmente pela manhã, com autoridades locais e regionais depositando coroas de flores no local. E na clandestinidade, a noite com a saudações, dado que a reverenciar ao fascismo é inconstitucional na Itália.
Para o repórter Paolo Berizzi no jornal La Repubblica, “parece uma cena de cem anos atrás, em plena época fascista”. Em 2019 o mesmo classificou o caso “uma vergonha de Estado”, o que o forçou a vive sob proteção escolta armada deste então, face às ameaças neofascistas.
O que fez a esquerda
A esquerda pequeno-burguesa italiana, não difere muito da brasileira, defrontada com o fascismo, sua iniciativa é solicitar ao Estado burgues que oprima umas das principais forças da burguesia.
Nas palavras da deputada Elly Schlein, do Partido Democrático, em suas rede sociais: “Roma, 7 de janeiro de 2024. Mas parece 1924. As organizações neofascistas devem ser dissolvidas, como diz a Constituição“.
Mas não chamas os trabalhadores a fazê-lo, a política do antigo partido comunista, agora renomeado, é apresentar, tanto na Câmara quanto no Senado, um pedido de explicações ao governo, endereçado à primeira-ministra e aos ministros Matteo Piantedosi (Interior) e Carlo Nordio (Justiça). “Qual a avaliação do governo sobre os acontecimentos ocorridos em Roma e quais iniciativas pretende adotar para esclarecer e pôr fim a atividades ou comportamentos que violam abertamente as disposições constitucionais e as leis do nosso sistema“.
A resposta do Estado burgues tem seu conteúdo expresso pelo vice-presidente da Câmara, Fabio Rampelli (FDI), “São pessoas de várias origens, dissidentes, organizações extraparlamentares. Não têm nada a ver com o Irmãos da Itália“. Negando cinicamente as relações do partido com o fascismo, o mesmo apontar, no momento, não haver interesse da burguesia em reprimir a extrema-direita.
Em nota, o FDI afirmou: “Desde 1978, inclusive com o rito do ‘presente’, os jovens mortos por um comando terrorista de extrema esquerda são homenageados. Um caso que ficou sem justiça. Usar a memória da morte trágica de três jovens assassinados pelo ódio comunista para fazer propaganda é sórdido e covarde“. Demonstrando que o fascismo segue a espreita, apenas esperando as ordens da burguesia.