O Capitão Planeta tomou conta da esquerda. Leonardo Boff afirmou, em texto publicado no Brasil 247, que “como continuamos arrancando a pele da Terra e agravando a mudança climática, o potencial de esperança está chegando ao limite”. E inventou um raio de “princípio-esperança”, que sabe Deus o que significa.
Novamente, a razão do da demagogia ambiental de Boff é a catástrofe do Rio Grande do Sul, que, com muito esforço dos jornais imperialistas e seus especialistas, estão tentando retirar a responsabilidade de Eduardo Leite (PSDB) para atribui-la à ação humana contra o meio ambiente.
“A grande enchente que está assolando o Rio Grande do Sul é um dos sinais mais inequívocos, dado pela Mãe Terra, dos efeitos extremamente danosos da mudança climática. Já estamos dentro dela. Não adianta os negacionistas se recusarem a aceitar esse dado. Os fatos falam por si. Dentro de pouco chegarão na vida de todas as pessoas, ricos e pobres, como chegou a todos na maioria das cidades ribeirinhas daquele estado”.
É claro que em 2024 já existem especialistas que podem prever uma desgraça. Não estamos na idade das trevas, onde o sol e a chuva eram deuses a serem louvados. No caso do Rio Grande do Sul, o governo foi avisado de que eram necessárias reformas para evitar que o alagamento se concretizasse, e que fortes chuvas cairiam no estado. Além disso, as verbas para a Defesa Civil foram cortadas quase a zero, o que explica o resultado trágico no Rio Grande do Sul. Essas são as verdadeiras causas da tragédia, a política neoliberal do tucano Leite, e não a chuva ou os efeitos danosos de uma suposta mudança climática.
Mas Boff insiste: “a temperatura de nosso corpo está por volta de 36,5ºC. Imaginem se pela noite a temperatura ambiente se mantiver por volta de 38ºC? Muitos, entre os idosos e crianças, não aguentarão e poderão até morrer. E para todos será uma grande agonia. Sem falar da perda da biodiversidade e das safras de alimentos, necessários para a sobrevivência”. O esforço para livrar a cara de Eduardo Leite é gigantesco.
Ele então cita um índio, que teria dita: “a Terra é nossa mãe e sofre há muito tempo. Como um ser humano que sente dor, ela sente quando invasores, o agronegócio, mineradoras e petroleiras derrubam milhares de árvores e cavam fundo no solo, no mar. Ela está pedindo ajuda e dando avisos para que os não indígenas parem de arrancar a pele da Terra”.
Fato é que o ser humano lida com as chuvas desde quando se entende por gente. Daí que criaram os telhados, calhas, sistemas pluviais, guarda-chuvas, barragens, tubos e conexões Tigre, enfim, existem milhares de formas de lidar com a água, e com proveito. O PSDB não liga para isso, é o partido da destruição total, basta ver o legado de Fernando Henrique Cardoso, cuja capacidade destrutiva é maior que qualquer aquecimento global e os pequenos estagiários da destruição em massa, como Eduardo Leite.
Boff, já descrente de qualquer análise concreta do problema, que conduza o povo a lutar, vai para a conclusão de que “o que ocorreu no Sul do Brasil é apenas o começo. Os desastres ecológicos vão se repetir com mais frequência e de forma cada vez mais grave em todas as partes do planeta”. Isso não é uma frase de abertura de um filme como O Dia Depois de Amanhã?
Se é assim, uma rota catastrófica inevitável, não teria outra pergunta a fazer: “onde vamos buscar energias para ainda crer e esperar? Como foi dito com sabedoria: ‘quando não há mais razão para crer, então começa a fé; quando não há mais razão para esperar, então começa a esperança'”. Ou seja, vamos rezar e ter fé que tudo vai correr bem, apesar de Eduardo Leite e o PSDB.
Para a alegria da esquerda acadêmica pacifista e louca, Boff, um pouco velho para isso, dispara: “o princípio-esperança é o nicho de todas as utopias. Ele permite continuamente projetar novas visões, novos caminhos ainda não trilhados e sonhos viáveis. O sentido da utopia é sempre nos fazer andar (Eduardo Galeano), sempre superar dificuldades e melhorar a realidade. Como humanos, somos seres utópicos. É o princípio-esperança que nos poderá salvar e abrir uma direção nova para a Terra e seus filhos e filhas”. Essa é para qualquer um ir para casa e esperar a morte. O efeito que Boff espera ter com uma colocação dessas é o exato oposto. É a depressão ambiental. Quem lê isso morre antes de qualquer catástrofe mundial, de pura tristeza. É ler o que é o “princípio-esperança” e daí torcer para um cometa acertar a Terra.
Outras tantas passagens trazem mais e mais tristeza aos leitores. Não dá para saber se é da esquerda ou de uma igreja moderna. É impossível citá-las sob pena de aumentarmos a depressão global.
Ficamos com o final triunfante: “Temos que regressar à nossa própria natureza de onde viemos e que contém as indicações para onde vamos: àqueles valores acima enunciados que poderão nos tirar desta dramática situação. No meio de tanto abatimento e melancolia pela situação grave do mundo, nisso cremos e esperamos”. Com certeza. Eduardo Leite, tucanos, neoliberais, ecologistas da Globo, todos estão contigo, Boff.
Boff aceita que está tudo acabado, que é preciso uma esperança, é preciso fé. A escapatória religiosa serve para conforto espiritual particular, e, claro, se não houver luta, as coisas só vão piorar mesmo, o que, por sua vez, pode aumentar a fé. É a nova igreja do Princípio-Esperança de Leonardo Boff.