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Gabriel Araújo

Dirigente Nacional do Movimento Nacional de Luta pela Moradia, Editor da Tribuna do Movimento e do Boletim do Movimento. Militante do Partido dos Trabalhadores e colunista do Voz Operária-Rio de Janeiro.

Coluna

Esquerda acuada

"Os elementos que querem realmente defender os direitos democráticos e os interesses nacionais precisam denunciar essa situação"

Em várias partes do mundo estamos tendo exemplos de sucesso de movimentos progressistas que tem se levantado contra o imperialismo e o conjunto das camadas reacionárias, como, por exemplo, nos casos dos levantes populares no Afeganistão e na Palestina, a guerra da Rússia contra a Ucrânia e a OTAN, as investidas da China contra os EUA em Taiwan, as respostas da Venezuela contra os EUA e o Reino Unido no caso do território de Essequibo.

Por outro lado, os exemplos de fracasso atuais se localizam onde as forças progressistas, ou dita progressistas, estão mais vacilantes ou impossibilitadas (por sua vinculação com a burguesia) em dar respostas concretas e decididas, junto ao povo, que entrem em rota de confronto com o imperialismo. O chamado ocidente imperialista tem uma vasta lista de exemplos, que podemos reduzir em uma avaliação mais generalista, utilizando o caso da ascensão da extrema direita em detrimento da esquerda e da direita neoliberal em diversos países.

Essa situação tem se dado porque a direita neoliberal implementa um programa impopular de retirada de direitos na dimensão doméstica e promove aventuras belicistas internacionalmente que não resultam em resultados concretos para sua própria população, e a esquerda de forma fundamentada meramente em aspectos ideológicos e não em questões concretas, agrupa-se com essa direita e a impopularidade da mesma respinga no respaldo da esquerda diante da população, levando-a a um distanciamento do povo, que corre por sua vez para a demagogia da extrema-direita.

Isso comprova em grande medida o quanto a esquerda se encontra acuada diante da extrema direita, e mais ainda, que ela não crê verdadeiramente na realização de seu próprio programa, que acredita que pode sobreviver por meio de atalhos, firulas e malabarismos políticos. Porém, o quadro atual da esquerda, em que a mesma vem sendo varrida do mapa político junto com a direita neoliberal (também chamada de direita tradicional ou dita democrática), e que apenas as forças progressistas mais decididas tem se mantido firmemente de pé e alçado voos mais altos, revelam a impossibilidade e a falência da implementação dessa tática. 

No Brasil, recentemente tivemos um enorme ato bolsonarista que reuniu na Avenida Paulista, em São Paulo, quase 200 mil pessoas. Nas últimas eleições os bolsonaristas conseguiram metade dos votos válidos. Após a vitória nas eleições e o fracasso na tentativa de golpe, a esquerda pensou que a repressão contra figuras inexpressivas do bolsonarismo, que tem sido tocadas pelo judiciário burguês (por conseguinte, um judiciário que não é controlado pela esquerda), seria algo suficiente para desagregar a capilaridade do bolsonarismo. Pesquisas de opinião da própria burguesia apontam que o cenário político continua quase da mesma maneira que durante o processo eleitoral e que a pequena gordura que o governo havia adquirido durante o primeiro ano, se esvaiu sem nem ao menos completarmos o primeiro trimestre.

Notando, em certo sentido, a insuficiência do que tem sido feito de janeiro de 2023 até os dias atuais, o governo, a esquerda e as forças progressistas, resolveram convocar atos no país para o dia 23, em um sábado, como resposta ao massivo ato de Bolsonaro na Paulista. 

Esse ato em tese seria uma resposta aos atos golpistas que ocorreram após as eleições de 2022. Mas na realidade ele é apenas uma forma de manter as bases da esquerda insatisfeitas com a situação sobre controle através do argumento de que se está tentando dar respostas concretas a circunstância política que nos encontramos. A verdade é que da forma como isso tem sido conduzido, qualquer analista minimamente sério não pode dar nenhum tipo de credibilidade para essa manobra.

O governo fechou acordo com militares e as instituições – capitulando para a direita – para não realizar atividades durante o dia 01 de abril, data em que se completa 60 anos do golpe militar. Os golpistas de 08 de janeiro são os mesmos golpistas de 1964. Se há um combate efetivo aos golpistas de hoje que são herdeiros dos golpistas do passado, por que diabos o ato não vai ocorrer em 01 de abril e a atividade vai acontecer em um sábado?

A grande realidade da questão é que não querem combater efetivamente os golpistas, mas somente agir contra uns gatos-pingados sem caminhar para atacar os problemas na raiz. As apurações do golpe de 08 de janeiro demonstram isso claramente, onde tentam limpar a ficha criminosa das Forças Armadas e da instituições estatais, acenando para prisão de alguns poucos desqualificados e figuras descartáveis, sejam elas do baixo clero ou até mesmo uma meia dúzia do alto escalão.

Os elementos que querem realmente defender os direitos democráticos e os interesses nacionais precisam denunciar essa situação, ficar atentos as manobras que ocorrem na situação política e trabalhar para constituir a força política e o agrupamento de organizações dos trabalhadores necessários, para garantir nossa vitória alicerçados na única ferramenta verdadeiramente efetiva na situação, que é a classe operária e o campesinato mobilizados.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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