A crise do futebol brasileiro e suas organizações, como a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), possuem uma saída especial apresentada pela imprensa capitalista e seus lacaios. Resumidamente, neste e em outros aspectos, o brasileiro é ruim e corrupto, ou seja, precisamos dos europeus.
Uma das principais forças do imperialismo, que quer toda a riqueza do futebol brasileiro, é a imprensa, que, sempre que possível, critica o nosso futebol, nossos clubes, nossos dirigentes. Claro, todos fortemente criticáveis, mas sob a ótica da imprensa burguesa a saída é entregar tudo para os gringos administrarem.
Se funciona assim para as estatais nacionais, para a Amazônia e para outras tantas riquezas do povo, por qual razão não funcionaria com o futebol brasileiro? E enquanto se debatem os problemas aí existentes, a Sociedade Anônima do futebol já comporta quase metade dos clubes da Série A. De associações civis sem fins lucrativos, os clubes de futebol estão virando, aos poucos, empresas que nada tem a ver com o povo.
A esquerda se perdeu neste caminho, e hoje em dia é capaz de encontrarmos pessoas ditas de esquerda favoráveis à privatização do futebol. A CBF é quem tem dado a maior brecha para isso, diante da bagunça que se tornou a confederação, as propostas são para que ela acabe, e que o Brasil fique submetido diretamente às leis da Fifa.
“Hoje entronizada na condição de símbolo nacional da ineficiência, da incompetência e da corrupção, a CBF faz o futebol brasileiro descer ladeira abaixo de forma jamais vista. Exemplo de esculhambação, a confederação conseguiu a proeza de reduzir a pó a paixão dos brasileiros pela seleção canarinho”, afirma Bepe Damasco, jornalista redator do Brasil247.
Após apontar todos os problemas da Confederação, já de conhecimento de todos, o redator afirma que: “não há saída possível para a CBF. Ela tem que acabar. Chegou a um ponto de não retorno em termos de degradação esportiva, administrativa, moral e ética. Já passou da hora de os clubes tomaram as rédeas de seus destinos e deixarem a CBF morrer por inanição”.
Embora não dito expressamente no texto, a campanha de fundo é a de sempre: tudo que é de fora é melhor. Os cartolas europeus, os times, os jogadores, as federações, etc. Por um motivo inexplicável somente o Brasil teria uma confederação cheia de problemas e jogadores supostamente imprestáveis.
“Tem que acabar com a CBF” é uma frase de efeito e não tem efeito prático algum. Seria apenas a entrega quase que direta do futebol brasileiro para a FIFA, onde residem pessoas muito mais corruptas e mal intencionadas que em qualquer outra confederação ou federação de futebol.
Ele mesmo, o redator do texto, diz: “Não resta dúvida de que jogadores milionários e alienados, que vivem fora do país e se lixam para os nossos problemas, também fazem sua parte no processo de descrédito da nossa seleção”. Embora não dito, a crítica aí é contra Neymar, quem mais seria?
É de se pensar, então, que Lionel Messi é um militante marxista e pertence à uma confederação de futebol controlada por um partido revolucionário. Ou o Cristiano Ronaldo, além de benfeitor da humanidade, coordena, agora, a distribuição de casas e alimentos no Oriente Médio, além de participar de campanhas de libertação nacional, e adotou 732 crianças africanas. Um santo.
É realmente vergonhoso o nível de rebaixamento da imprensa nacional, de esquerda e de direita, diante dos interesses internacionais.
Apesar do altíssimo grau de moralismo da esquerda-pequeno burguesa quando essa se arrisca a falar de futebol, o problema reside, em grande medida, no fato de que seu principal interessado, o torcedor, não pode fazer absolutamente nada, não tem poder nenhum. Ele, o torcedor, não define os rumos de seu time, não administra os problemas do futebol, como os estádios e contratações, e, por consequência, não define os rumos das confederações que seu time participa.
Em grande medida a CBF está nesta crise em razão deste fato.
Em primeiro lugar, os clubes precisam estar sob controle direto dos torcedores e de suas torcidas organizadas. Grande parte das campanhas desastrosas que assistimos no último período se deve aos desmandos dos que controlam os clubes de futebol. E isso não quer dizer, em segundo lugar, que eles, os clubes de futebol, devem ser entregues à iniciativa privada. Privatizar um clube é decretar o seu fim, em curto ou médio prazo. Nisso os capitalistas nunca falharam.
A pressão imperialista, dos capitalistas internacionais do futebol, está em cima da CBF para que esta, de fato, desapareça, ou fique sob intervenção internacional direta. O plano é que deixe de ser um obstáculo para os interesses deles no Brasil. Não que no momento a CBF faça qualquer oposição à Fifa, mas o fato é que sua existência, ou melhor, a existência de qualquer entidade representativa do futebol nacional é um problema para os poderosos.