A política do chamado negacionismo surgiu na época da pandemia de COVID-19 e, desde então, a palavra não saiu do vocabulário da direita dita civilizada e da esquerda que compartilha da mesma política. Pelo mesmo motivo que as acusações de negacionismo serviram na época, hoje também se aplicam: desviar a atenção da falência da política neoliberal.
No período, não era permitido questionar qualquer política imposta pela direita “civilizada”: a eficácia da vacina não era passível de discussão, havia a obrigação de simplesmente aceitá-la, a política de isolamento, que servia apenas à burguesia e à classe média, expondo a classe trabalhadora aos riscos da doença, também não se questionava.
A punição para aqueles que ousavam levantar qualquer ressalva sobre essas imposições era a acusação de ser um negacionista. O sujeito passava a ser tratado como um lunático que ignorava a existência do vírus.
Porém, a situação só chegou a tal nível porque a política neoliberal de desmonte dos serviços públicos, nesse caso, evidenciou a precariedade dos serviços de saúde. Outra situação escancarada foi a falta de investimentos em prevenção de propagação de doenças, afinal, uma variante de um vírus da gripe causou toda essa situação.
Era necessário então culpar a população, impor regras muitas vezes inviáveis e aqueles que ousaram desobedecer deveriam ser condenados. Surge então a figura do negacionista.
A moda agora, com a situação do Rio Grande do Sul, é o chamado negacionismo ambiental, ou seja, as supostas mudanças climáticas são o fator que desencadeou todo o problema, qualquer questionamento político a respeito da calamidade sofrida pelo povo gaúcho é acusado de politicagem barata e desvio do real problema: o clima e a ação humana que provoca suas mudanças.
O argumento se apoia no já conhecido conceito do aquecimento global, ideia que serve principalmente para frear o desenvolvimento econômico de países pobres, que são os verdadeiros culpados por qualquer tragédia natural ocorrida em qualquer parte do mundo. Ignora-se toda a ação do grande capital e seu descaso em proteger a população de situações conhecidas, como é o caso de uma enchente no Rio Grande do Sul.
Em uma recente coluna, O Estadão, órgão da grande imprensa e defensor dos interesses imperialistas no Brasil, critica a politicagem em torno da tragédia do Rio Grande do Sul e cita a falta de “preocupação ambiental” dos políticos em geral.
“Vozes lulopetistas e bolsonaristas se apressaram em colocar o dedo em riste contra o governador Eduardo Leite (PSDB), acusando-o de favorecer a alteração de 450 pontos do código florestal gaúcho. Não faltou oportunismo na crítica, afinal, decerto tais mudanças não provocaram a enchente”, diz a coluna. Dessa maneira, vemos o favorecimento daquele que justamente tem enormes responsabilidades no ocorrido e critica aqueles que apontam corretamente o problema. Mais uma vez, a grande imprensa pretende ressuscitar a falida direita tradicional.
O problema do ambientalismo trazido novamente à tona com o problema das enchentes vai servir somente para impedir a exploração de petróleo e minérios ou qualquer outra coisa que sirva para desenvolver a economia nacional. O povo continuará sofrendo com esses supostos desastres que têm como principal causa a falência da política neoliberal