Diz-se que a forma mais rebuscada de empatia é fingir não ter visto algo para não constranger a pessoa. Muito fiz isso, mas acho que esse sentimento merece uma análise mais fria.
Eu questiono que a motivação para essa atitude seja simplesmente a empatia. Muitas vezes fingimos não ver um malfeito apenas para nos livrarmos do enorme constrangimento de compartilhar com alguém algo condenável ou embaraçoso. Ao fingir não ver, você está livrando a ambos da necessidade de reconhecer e debater sobre o que ocorreu. Desta forma, quando fazemos isso é mais para nos livrar da situação embaraçosa do que por empatia ou caridade. Ou seja, há bastante de egoísmo nesta ação, talvez até mais do que bondade.
O mesmo ocorre quando damos um presente. Acredito que há mais desejo de satisfação pelo agradecimento que se segue do que a legítima e desinteressada alegria de presentear. Por isso é que quando damos a alguém um “mimo” e esta pessoa não agradece na medida que esperamos, o chamamos de “ingrato” ou “mal-agradecido”, porque o agradecimento (efusivo e explícito) fazia parte da negociação desde o princípio.
Minha análise se debruça sobre a observação crua e sem condescendência sobre as motivações inconscientes que nos levam a praticar atos de caridade, seja uma ajuda humanitária ou um simples presente oferecido a uma criança. À luz das evidências, sobre estes fatos simples se inserem outras razões, mais profundas e inconscientes. Existe um componente egoístico inerente a todas estas atitudes e comportamentos, mas a vaidade nos impede de enxergar e reconhecer tais motivações.
Entretanto, a senda de crescimento pessoal passa pela necessidade de reconhecer nossas facetas menos nobres, ao mesmo tempo que nos oferece a sabedoria para depurar o quanto de auto exaltação buscamos nestas ofertas.