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Rio Grande do Sul

‘Em nome do clima, sacrificar até o último gaúcho’

O sociólogo Aldo Fornazieri, em coluna no Brasil 247, defende um dilúvio bíblico sobre todas as vítimas do neoliberalismo, mas não sobre os beneficiados pela rapina

Nesta segunda-feira, 20 de maio, o portal esquerdista Brasil 247 publicou uma coluna de nome “Chora por ti, Rio Grande”, escrito pelo sociólogo Aldo Fornazieri. O artigo aborda a destruição no Rio Grande do Sul, e atribui sua causa ao estado do RS, de maneira abstrata, numa culpabilização da própria população, esmagada pela política neoliberal, e agora pelas chuvas e pela destruição destas, permitida e intensificada pela política do governo estadual. De maneira pedante, o autor aponta:

“Nesses momentos em que a dor lacerante pelas mortes se transformar em saudosa dor da alma, em que as tuas perdas materiais se transformar em tristeza, em que começarão brotar sementinhas de esperança, cessa o teu choro e começa a reflitir [sic] acerca do que fizeste a ti mesmo.”

Logicamente, como dá a entender este início, o argumento é uma limpa na reputação dos verdadeiros responsáveis pelo que ora ocorre: o governador do estado, Eduardo Leite (PSDB), seus patrões, os banqueiros, e sua política, o neoliberalismo. Ou seja, o corte nas despesas estatais destinadas originalmente para atender a população, e a transferência destes gastos para as mãos do capital especulativo, dos bancos. Apesar de o parágrafo anterior parecer apenas tangenciar tal ponto, Fornazieri faz questão de reforçar o ponto:

“Então lembra-te que desnudaste a [sic] serras e os pampas, transformaste em cinzas árvores e vegetação, invadiste as margens dos rios e os estrangulaste para construir cidades e estradas. Lembra-te que assassinastes os passarinhos e dizimastes os animais silvestres que viviam livres e felizes. Destruíste as nascentes e envenenaste os rios, provocando a morte dos peixes e da vida aquática.”

Ora, quem “destruis-te”? Quem “desnudas-te”? Esse aparente detalhe não será abordado, e a coisa piora:

“Lembra-te, Rio Grande, do genocídio que praticaste contras os povos originários, os indígenas, e o desprezo que teu povo nutre por eles até hoje. Invadiste as suas terras, derrubaste as suas matas e roubaste os seus direitos.”

Temos aqui um argumento de tipo fascista. Existe uma culpa coletiva (do ponto de vista do autor) de toda a população do Rio Grande do Sul sobre uma série de fatos que, portanto, merece ser caracterizada como um todo de genocida e, logo, passar por um verdadeiro dilúvio. Segue então outra aberração:

“Quando tu estiveres andando pelos pampas, lembra-te, Rio Grande, da tua irresponsabilidade ao deixar que as pessoas construíssem as suas casas em áreas que deveriam ser protegidas, da pobreza, da desigualdade e das injustiças sociais que deixaste vicejar sob o teu céu azul.”

Os pobres não se salvam também, do fervor quase divino do deus clima de Fornazieri. Afinal, na grande coletividade de “genocidas” e “desmatadores” que é a população do RS, aqueles que construíram suas casas em áreas de risco por falta de opção, frente às condições materiais individuais de que dispunham e ao abandono do poder público, desmataram também, também são pecadores, e também devem pagar, na opinião do sociólogo. E ele justifica tal posição fascista:

“Reflita sobre a irresponsabilidade criminosa dos teus políticos negacionistas e oportunistas que não cuidaram do meio ambiente.”

São pecadores duplamente os gaúchos. Pois ainda tiveram a audácia de “eleger”, desconsiderada a legitimidade de fato da eleição, um governo neoliberal, um governo negacionista, talvez da divindade a que adora o colunista. Um governo oportunista. Fica no ar um alerta àqueles que vivem em estados com governos oportunistas, ou seja, a todos os brasileiros.

“Onde estão as tuas virtudes, Rio Grande? As sufocaste pela ambição dos gananciosos. A valentia dos que lutaram pela liberdade no passado se transformou em grotesca agressão e destruição da natureza, em egoísmo desmedido pelo ganho, em desrespeito pela vida.”

O problema seria a “ambição dos gananciosos”, mas a conta, para o autor, é de todos. E Aldo Fornazieri ainda tem a coragem em falar em respeito pela vida, quando exalta uma hecatombe neoliberal, que atinge gravemente centenas de milhares, se não milhões, de pessoas. Nosso ângulo bíblico anterior pode ter parecido exagerado, porém Fornazieri o evoca diretamente:

“Foste imprudente, Rio Grande. O que viste descer dos céus foram lágrimas diluvianas que choraram a dor da natureza por todos os males, por todas as violências e por todas as violações que ela vem sofrendo. A natureza te mostrou Rio Grande que, nós humanos, não somos nada quando ela se encoleriza para punir a nossa arrogância. Nem cidades, nem pontes, nem aeroportos, nem comunicações, nem estádios, nem palácios, nem rede elétrica, nem as muralhas são suficientemente fortes para aplacar a fúria da natureza.”

E que dizer de obras de infraestrutura? Do contingenciamento do investimento na área? Dos cortes para a defesa civil? Ora, para que apontar politicamente o problema, se podemos culpar toda a população pela desgraça que se abate sobre ela própria? Porque apontar a catástrofe como neoliberal, se o clima, essa entidade espiritual, é tão mais conveniente, e tão convenientemente livra aqueles responsáveis inclusive pelos problemas que o próprio autor apontou?

“O que te aconteceu, Rio Grande, foi uma dura advertência para todos nós, para toda a humanidade. Se não mudarmos os modos de produzir e de consumir, as formas de nos relacionar com a natureza, se não regenerarmos o que destruímos, a própria vida, a civilização humana e todas as espécies estão ameaçadas.

“Agora, na tua reconstrução, Rio Grande, tens a chance de ser modelo, farol, de não fazer mais o que não deve ser feito para fazer o que deve ser feito. Caso contrário, nem tudo o que se planta crescerá e no lugar do amor florescerá a dor. Cuidado, Rio Grande, para não mostrar para quem quiser ver que és um lugar para se viver e chorar. Reflita sobre a herança que deixarás para os teus netos e bisnetos, para as tuas gerações futuras.

“Respeita, Rio Grande a tua maltratada Mãe, aquela que dá a vida a todos os seres, aquela que te dá a uva e o vinho, aquela que te dá os grãos, aquela que te dá as maçãs e os frutos, aquela que te dá as azeitonas e os óleos. Respeita Rio Grande aquela que te permite viver.”

É interessante que o texto apresentado por Fornazieri aponta um caminho para a continuidade do que está posto. Generalidades enroladas, a responsabilização das vítimas e uma disposição em sacrificar toda a população do Rio Grande do Sul em nome da servidão ao deus clima.

Como conclusão, e para demonstrar a absoluta estupidez do artigo, uma breve pesquisa nos mostrou que Fornazieri é professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). O governador de São Paulo é Tarcísio de Freitas, um bolsonarista, reacionário até a medula e completamente oportunista. Seria Aldo, portanto, um forte merecedor para receber, sobre sua cabeça, um dilúvio?

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