O ano de 2023 ficou marcado pela atividade governista voltada para reorganizar parcialmente, até onde suas pernas conseguiu chegar institucionalmente, o aparato federal do Estado Nacional para tentar implementar o programa político vencedor nas urnas em 2022.
Em certo sentido, pode-se até dizer que o governo conseguiu obter um mediano êxito, e que economicamente graças a uma determinada gordura que podia ser queimada, lhe permitindo uma certa margem de manobra e os resultados da safra do agronegócio em 2023, garantindo que o país atingisse pequenos resultados de crescimento da economia e de redução do desemprego.
A reorganização do aparato estatal no nível nacional se deu apenas de maneira institucional, ou seja, a frio e em um terreno empesteado de inimigos e adversidades. O governo e as organização populares entorno do mesmo, tiveram pouca iniciativa para constituir uma alternativa respaldada na ação política fora da institucionalidade.
Toda essa situação tem deixado o governo exposto nos embates institucionais e na própria condição de legitimação ante a sociedade civil, o que tem travado o desenvolvimento do país de maneira geral. Por isso, o Congresso Nacional no terreno das pautas econômicas, o STF nas questões dos direitos democráticos e as Forças Armadas no campo das relações exteriores, tem colocado o governo contra as cordas, deixando-o encurralado e sem conseguir contra-atacar.
Sem ter a carta na manga da mobilização popular, o governo tem sido inclusive levado a tomar medidas anti-populares, com indicações para determinados cargos de figuras que claramente serão uma pedra no sapato, feito campanha institucional e apresentado propostas de supressão dos direitos democráticos, e permitido inclusive que órgãos que deveriam ser submetidos ao controle do governo efetuem perseguições políticas.
Os pequenos avanços econômicos que existiram em 2023 não surtiram absolutamente nenhum efeito na subjetividade coletiva da classe operária. Somente os publicitários e os políticos da base do governo falam de mudança de vida a partir do ano de 2023, mas para o povo, a promessa da picanha continua extremamente distante de se concretizar.
O governo chegou a um estágio onde existem duas alternativas: a primeira é sucumbir as chantagens da burguesia e tornar-se um braço da ordem; a segunda é tomar a iniciativa ou pelo menos estimular que as forças populares tomem essa iniciativa de vanguarda, para garantir o respaldo popular necessário para efetuar verdadeiras mudanças que garantam o sucesso do governo e o desenvolvimento da soberania nacional.
O lastro político da relativa estabilidade do ano de 2023 praticamente já se esvaiu. As ações do governo não foram capazes de comover e a falta de iniciativa do governo e da esquerda não comprometeram no terreno imediato a estabilidade. Mas as circunstâncias agora são outras.
É preciso ficar atento e quanto antes deixar de perder um tempo precioso que deveria ser utilizado para garantir o acumulo político necessário para que hajam verdadeiras vitórias que todos que elegeram esse governo esperam.