Circulam na Internet vídeos e textos destacando o perigo para a “democracia” que seria o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Entre as publicações recentes, está um vídeo do jornalista Luiz Nassif, editor do GGN, que diz textualmente: “Tarcísio de Freitas é a maior ameaça que se tem hoje à democracia“. Nassif, então, lembra que “Bolsonaro está fora de jogo” – fazendo com que, portanto, Tarcísio de Freitas passasse à sua frente.
De certo modo, é positivo que a esquerda reconheça Tarcísio de Freitas como um perigo. Afinal, isso significa reconhecer que tornar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) inelegível não resolveria os problemas políticos do País. Significa reconhecer que, no final das contas, não é possível vencer uma luta política por meio da polícia. Ou se derrota o bolsonarismo por meio de uma luta real, política; ou a extrema direita continuará crescendo, mesmo com suas lideranças na cadeia.
O que é impreciso, no entanto, é a obsessão da esquerda em encontrar uma única figura como inimigo a ser combatido. Durante o governo Bolsonaro, a formulação de que o então presidente era o que havia de pior no planeta fez com que a esquerda acabasse apoiando verdadeiros inimigos, como a Rede Globo, o PSDB e o Supremo Tribunal Federal (STF). O inimigo, na verdade, nunca foi apenas Bolsonaro – sequer era ele o pior dos inimigos. Muito mais nocivo que ele são aquelas pessoas responsáveis por colocá-lo na Presidência da República: os donos do golpe de Estado de 2016.
Aqui, o fenômeno se repete. Criticar Tarcísio de Freitas isoladamente porque é o atual governador de São Paulo e porque tem levado adiante uma política impopular, altamente repressiva, pode até ser muito bom para a campanha eleitoral que se aproxima. No entanto, é mais que insuficiente para a luta que a esquerda precisa travar.
A ameaça à esquerda e ao conjunto da população não está em indivíduos como Tarcísio de Freitas. Ele sozinho não é capaz de muita coisa. A ameaça está em uma força social muito mais ampla: os capitalistas, que estão sabotando o governo Lula e a população como um todo.
A grande ameaça ao povo brasileiro são os banqueiros, os especuladores, os latifundiários e todos aqueles que defendem uma política de miséria para o País. Que são a favor de colocar militantes na cadeia, a favor de reprimir manifestações, a favor de manter os juros nas alturas, a favor de que as riquezas brasileiras sejam desviadas para os cofres dos países imperialistas.
Neste sentido, é preciso travar uma luta que vá muito além que a luta contra Tarcísio de Freitas, contra Michele Bolsonaro, contra Ronaldo Caiado, contra Nikolas Ferreira ou contra qualquer outro eventual substituto de Jair Bolsonaro. É preciso levar adiante uma luta contra todos aqueles que conspiram dia e noite contra o povo brasileiro. Aqueles que apoiam o genocídio na Faixa de Gaza, aqueles que apoiam a política de Roberto Campos Neto, aqueles que são contra a Petrobrás explorar o petróleo brasileiro.
É preciso, portanto, travar uma luta que se direcione não apenas contra Bolsonaro, mas contra os seus aliados bolsonaristas e, principalmente, contra os representantes do imperialismo no Brasil: o STF, a Polícia Federal, a Rede Globo e o Congresso Nacional.