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Parlamento europeu

Dominação imperialista sobre a Europa se esfacela

Avanço da extrema direita mostra a crise total do sistema montado há 45 anos

Ainda que não tenha sido uma surpresa para os mais atentos analistas da política internacional, o resultado das eleições para o parlamento europeu causou um enorme impacto. Refletindo a tendência já expressa nas últimas eleições, ocorridas em 2019, a extrema direita teve uma vitória de grande envergadura. O resultado foi tão impressionante que levou o presidente francês Emmanuel Macron a dissolver o parlamento de seu país.

Criado em 1979, o parlamento europeu tem ocupado cada vez mais um papel de destaque na política mundial diante do aumento da polarização política. O objetivo do parlamento, que é, por sua vez, parte do grande bloco conhecido como União Europeia, sempre foi o de estabelecer um regime estável para a dominação imperialista sobre o continente, buscando submeter as contradições dos diversos países a uma ditadura comandada sobretudo pelos norte-americanos. Na medida em que a dominação imperialista entra em uma profunda crise, a União Europeia vai perdendo sua capacidade manter a unidade entre os interesses conflitantes do bloco, de modo que a luta política em torno do parlamento europeu se acentua, pondo em lados opostos os setores mais ligados ao bloco dominante do imperialismo e os setores mais insatisfeitos com a ditadura imperialista.

Os eurodeputados são eleitos nos próprios países-membro da União Europeia. Em cada país, a depender dos critérios estabelecidos pelo bloco econômico, uma determinada quantidade de parlamentares são eleitos para atuar no parlamento europeu. Esses parlamentares, por sua vez, além de integrarem partidos políticos em seus países, normalmente integram alguma coalizão continental. As mais importantes coalizões são:

  • O Grupo do Partido Popular Europeu (EPP), da direita conservadora, dirigido pela União Social Cristã da Alemanha;
  • A Aliança Progressista de Socialistas e Democratas (S&D), da chamada social-democracia, que inclui o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), o Partido Social Democrata da Alemanha (SPD) e o Partido Democrático (PD), da Itália;
  • O Renovar Europa (RE), dos que se dizem “liberais”, dirigido pelo partido do francês Emmanuel Macron
  • O Identidade e Democracia (ID), da extrema direita, dirigido pelo Reagrupamento Nacional Francês, de Marine Le Pen, e pela Liga do Norte, da Itália;
  • A Esquerda, da esquerda pequeno-burguesa, liderado pela França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, e Die Linke, da Alemanha;
  • Os Verdes/Aliança Livre Europeia, dos chamados “ambientalistas”, dirigidos pelo Partido Verde da Alemanha
  • Os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), também de extrema direita, que inclui o Lei e Justiça, da Polônia, e o Vox, da Espanha
  • Os não-afiliados, que decidiram não se juntar a um dos grupos existentes no parlamento europeu e que tem, entre seus membros mais destacados, o partido de direita Fidesz, da Hungria, bem como o Movimento Cinco Estrelas, da Itália.

Os eurodeputados decidem sobre uma série de questões com influência direta sobre os países-membro, como a legislação ambiental, a saúde pública e o aparato repressivo. O parlamento também ajuda a definir o orçamento do bloco e pode bloquear acordos comerciais, além de supervisionar outras instituições, como a Comissão Europeia, o poderoso braço executivo da UE. A importância das eleições, no entanto, vai além. Diante da crise da dominação imperialista, o parlamento europeu também tem sido utilizado como um termômetro para as disputas nacionais. Às vésperas da votação, assim a revista britânica The Economist tratava a eleição na Europa, mostrando não apenas que havia a expectativa de uma vitória da extrema direita, mas também que o resultado poderia apresentar um sério entrave aos planos do imperialismo para o continente:

“Líderes em ambos os países aguardam os resultados com apreensão: em cada um, o principal partido de oposição está confortavelmente liderando a corrida, de acordo com nosso rastreador de pesquisas. Se a união mudar para a direita, haverá outras consequências também. A Ucrânia depende de seus aliados europeus para dinheiro e armas, cuja escala pode ser reduzida. A direita radical também quer enfraquecer os ambiciosos planos de corte de carbono da UE. Os dois grupos centristas provavelmente ainda ficarão em primeiro e segundo lugar. Mas o grupo de Identidade & Democracia de extrema-direita pode se tornar a terceira maior facção na câmara pela primeira vez.”

A correlação de forças entre a direita e a extrema direita nos países europeus é justamente a chave para entender a preocupação com o avanço da extrema direita. Afinal, à primeira vista, a votação da extrema direita teria sido muito pequena em comparação aos blocos vencedores. O resultado parcial, apurado até o fechamento desta edição, apontava que:

⁩1) PPE
Elegeu 186 cadeiras
Ganhou 10 cadeiras em relação à disputa anterior

2) S&D
Elegeu 135 cadeiras
Perdeu quatro cadeiras em relação à disputa anterior

3) RE
Elegeu 79 cadeiras
Perdeu 23 cadeiras em relação à disputa anterior

4) ECR
Elegeu 73 cadeiras
Ganhou quatro cadeiras em relação à disputa anterior

5) ID
Elegeu 58 cadeiras
Ganhou nove cadeiras em relação à disputa anterior

6) Verdes/ALE
Elegeu 53 cadeiras
Perdeu 18 cadeiras em relação à disputa anterior

7) Não afiliados
Elegeu 45 cadeiras
Perdeu 17 cadeiras em relação à disputa anterior

8) Esquerda
Elegeu 36 cadeiras
Perdeu uma cadeira em relação à disputa anterior

Os blocos, no entanto, não são suficientes para demonstrar a força da extrema direita. Segundo levantamento do Poder360, ⁩quando levado em consideração o espectro político dos partidos vencedores, o resultado teria sido o seguinte: direita – 131 votos; centro-direita – 264 votos; centro-esquerda – 191. Ainda que sejam critérios pouco precisos, mostram que a “direita” – que, normalmente, é como a imprensa burguesa chama a extrema direita – se consolidou como a terceira maior força da União Europeia, aproximando-se da social-democracia. Mas não é apenas esse o problema: em França, Itália, Áustria e Hungria, partidos da extrema direita devem eleger as maiores bancadas. Em Alemanha, Polônia, Holanda, Bélgica e Suécia, serão pelo menos a segunda ou terceira maior força. Se a eleição fosse realizada apenas nos países mais centrais para a dominação imperialista, portanto, talvez o resultado tivesse sido ainda mais favorável para a extrema direita.

A vitória do Reagrupamento Nacional Francês foi o mais impactante: Le Pen teve mais que o dobro dos votos que o presidente Emmanuel Macron na disputa pelo parlamento europeu. Giorgia Melioni, do Fratelli D’italia, também teve uma vitória incontestável. Mesmo na Alemanha, onde a Alternativa para a Alemanha (AfD) não foi a primeira colocada, o partido de extrema direita ficou na frente do partido do atual primeiro-ministro do país. Em 15 anos, a extrema direita saltou de 5% para cerca de 25% do total do parlamento europeu.

A extrema direita que saiu vitoriosa não constitui um bloco homogêneo. A imprensa imperialista tem dividido suas lideranças e seus partidos em três grandes grupos: os “radicais linha-dura”, a exemplo da AFD; os “governantes pragmáticos”, liderados por Giorgia Meloni, da Itália; e os “eurocéticos de extrema direita”, a exemplo de Marine Le Pen. Independentemente das diferenças ideológicas e do grau de comprometimento de cada um desses grupos com o imperialismo, eles são, por sua vez, a reação a dois problemas políticos fundamentais: a crise mundial da dominação imperialista, que tem conduzido a burguesia de diversos países a enormes catástrofes políticas e econômicas, e a incapacidade da esquerda de organizar os trabalhadores para uma revolta contra a dominação imperialista. O fenômeno, ao mesmo tempo em que é grave, pois demonstra o avanço de grupos que possuem vínculos com o fascismo e o nazismo, expressa um esfacelamento da ordem mundial.

Alguns dados interessantes demonstraram, inclusive, que a vitória da extrema direita, mais que um problema puramente ideológico, está diretamente relacionada às questões políticas imediatas. O primeiro dado é o fato de que, em países no qual a extrema direita governa, mas cuja posição é muito próxima à da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), como o caso da Polônia e da Suécia, a extrema direita perdeu a eleição. Isso mostra que não há exatamente um apoio da população europeia à ideologia da extrema direita, mas sim uma simpatia com suas organizações que apresentam, ainda que de maneira demagógica, uma tendência à ruptura com a ordem mundial. O segundo dado interessante é o fato de que a Rússia, que está levando adiante uma luta pela “desnazificação” da Ucrânia, aproveitou o resultado para criticar abertamente os governantes “civilizados”.

Um artigo da Russia Today ironizou o fato de que, mesmo após uma intensa perseguição aos órgãos de comunicação russos, o imperialismo não conseguiu impedir a vitória de vários partidos que se opõem à política do imperialismo na questão da guerra da Ucrânia. Já o presidente da Duma russa, Vyacheslav Volodin, disse:

“Macron e Scholz estão agarrados ao poder com o que lhes resta de suas forças. A coisa certa a fazer seria renunciar e parar de vitimizar os cidadãos dos seus países.”

A relação entre a derrota de Macron e de Scholz, especialmente do primeiro, e a guerra da Ucrânia tem sido ressaltada por vários órgãos de imprensa.

“Recentemente, Macron se tornou uma locomotiva política das iniciativas pró-Ucrânia, e seria uma pena se sua influência diminuísse”, disse Oleksandr Merezhko, membro do parlamento ucraniano e presidente do comitê de Relações Exteriores do órgão à revista norte-americana Newsweek. A revista ainda afirmou que, na vizinha Alemanha, “o chanceler Olaf Scholz e seu Partido Social Democrata (SPD) também foram humilhados pela AfD” e que “membros proeminentes” do partido de extrema direita alemão “são publicamente simpáticos à visão de mundo de Moscou”.

O cenário poderá, inclusive, afetar a votação para o cargo de presidente da Comissão Europeia, atualmente ocupado por Ursula von der Leyen, uma grande aliada da OTAN na questão da Ucrânia. Segundo algumas análises, ela talvez precise apelar para Giorgia Meloni para conseguir se reeleger. Segundo Pawel Zerka, pesquisador sênior do Conselho Europeu de Relações Exteriores, o avanço da extrema direita ainda “ameaça a unidade europeia e a capacidade de alcançar compromissos, tão necessários hoje, dada a guerra na Ucrânia e o potencial de uma nova presidência de Donald Trump”.

A crise na União Europeia é a crise em um dos setores fundamentais do imperialismo mundial. Ainda que os Estados Unidos sejam o país mais poderoso do bloco imperialista, é na Europa que está a maior população entre os países imperialista, e é também na Europa onde se desenvolveram, em primeiro lugar, as tendências imperialistas que dominam o mundo. A importância da Europa ficou clara quando, depois da Segunda Guerra Mundial, os países europeus, estando numa situação falimentar, receberam ajuda dos Estados Unidos, pois os norte-aericanos reconheceram que seria impossível manter o capitalismo mundial sem o apoio do continente europeu.

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