Na madrugada do último domingo, 27 de outubro, dois ônibus que traziam torcedores da torcida Máfia Azul, do Cruzeiro, foram interceptados na rodovia Fernão Dias, em Mairiporã. Os torcedores voltavam de Curitiba, onde o Cruzeiro havia jogado no dia anterior contra o Athletico Paranaense.
A derrota por 3 x 0, que contou com a bizarra expulsão do atacante Rafa Silva no primeiro minuto de jogo, foi eclipsada pelo saldo da emboscada na madrugada seguinte. Há relatos de que a emboscada contou com armadilha para furar os pneus dos ônibus e até abordagem com fuzis.
Fotos e vídeos que circularam nas redes sociais mostram integrantes da Mafia Azul sendo espancados, muitos com as calças abaixadas e sangrando. Cartuchos de munição de fuzil foram encontrados no local. O torcedor José Victor Miranda estava dentro de um dos ônibus, que foi incendiado, e morreu vítima das queimaduras.
Um cenário horrível e criminoso, sem dúvidas. Segundo matérias veiculadas na imprensa burguesa, o ataque seria uma retaliação a uma briga entre integrantes das duas torcidas ocorrido em 2022 em Minas Gerais.
Porém, como é de praxe na abordagem judicial envolvendo organizações populares, ao invés da polícia investigar e prender as pessoas envolvidas, o alvo principal foi justamente a torcida Mancha Alviverde, torcida palmeirense que já precisou mudar de nome pela perseguição judicial ainda no final dos anos 1990, quando o Ministério Público de São Paulo decretou o fim da antiga Mancha Verde. Chegou a ser veiculado, e depois desmentido, que o Palmeiras poderia ser punido com a perda de 50 pontos, o que potencialmente rebaixaria o clube paulista no Campeonato Brasileiro.
Um boato que serve claramente para jogar um grande número de palmeirenses contra as torcidas organizadas do clube. Colunistas do UOL, como Leonardo Sakamoto e Tales Faria, aproveitaram para estimular essa discussão defendendo a perda de pontos para times cujas torcidas se envolverem em episódios de violência.
Diante desse nível da discussão, o banimento de toda a Marcha Verde, que conta com dezenas de milhares de associados, parece até algo “leve”. No entanto, a manobra de punir dezenas de milhares pela ação de dezenas de indivíduos tem como finalidade desarticular as organizações populares.
A burguesia atua neste sentido constantemente. Obviamente, isso não tem nada a ver com inibir a violência entre as torcidas, mas sim desorganizar a população. Para quem foi saturado com a propaganda da imprensa contra as torcidas organizadas, esse fato pode parecer algo secundário, mas na verdade é o ponto central do problema.
Como discutido na Análise Política da 3ª no canal da Rádio Causa Operária, a organização só poderia ser penalizada se, enquanto organização, tivesse se reunido e decidido cometer aquele ato. Como exposto por Rui Costa Pimenta na análise, o ocorrido é “lamentável e estúpido”, mas quem deve responder pelo que aconteceu são as pessoas que estavam lá e cometeram os atos.
Não é normal punir quem não estava no local e nem teve qualquer envolvimento com os atos de violência. Impedir a atuação das torcidas nos estádios é uma medida extrema e antidemocrática. Sem contar que a emboscada ocorreu fora do contexto de jogo entre os clubes.
Os companheiros discutiram o fato das torcidas organizadas serem parte fundamental do futebol e que essa criminalização generalizada atua contra o próprio esporte. Lembraram que a discussão sobre a extinção das organizadas é discutida na imprensa burguesa há anos e que esse problema é muito sério. Após as torcidas organizadas, por que não criminalizar sindicatos e partidos políticos a partir de acusações individuais?
Abaixo a repressão às torcidas, por um futebol sem polícia!