A derrota dos democratas, grupo político principal do imperialismo norte-americano, foi avassaladora: Donald Trump venceu as eleições do país com o voto popular e o voto eleitoral, e já controla o Senado, estando a seis cadeiras de obter a maioria na Câmara. Trump, candidato do Partido Republicano, alcançou 34 pontos percentuais a mais que sua oponente, a democrata Kamala Harris. É preciso destacar o amplo movimento de rejeição dos eleitores norte-americanos ao governo democrata de Biden-Harris, pois muitos votos obtidos por Trump não advêm de sua campanha e propostas. Eleitores negros, latinos e árabes, que historicamente votaram nos democratas, desta vez votaram em Trump, em nítido protesto contra a política de Biden em relação aos negros, latinos e, especialmente, aos árabes, devido ao patrocínio do genocídio em Gaza. A máquina de propaganda dos democratas levou-os a acreditar que a eleição estava empatada e que seria fácil tirar a diferença na reta final. Se tivessem percebido esse movimento de “ele, não” ou “ela, não,” talvez os democratas tivessem usado de violência e fraude para vencer, como fazem ao redor do mundo quando resultados não lhes interessam.
Considerando as pesquisas como medidoras do pulso político, os democratas supuseram que elas refletiam fielmente as correlações de forças, mas não conseguiram reverter a tendência real em jogo. Ignoraram a indignação, a raiva, a humilhação e o desapontamento que levaram os eleitores a se sentirem vítimas do sistema político. Um exemplo foi a crença dos democratas nas políticas de igualdade de gênero como forma de apelo eleitoral, rejeitadas ao apresentarem uma candidata feminina totalmente despreparada. Essa visão superficial e artificial — na qual eleitores negros votariam mecanicamente em candidatos negros, mulheres em mulheres, e latinos em latinos — não corresponde à realidade dos fatos. O erro de raciocínio está em não entender que a identidade de grupo não é a variável determinante para o eleitorado; são as condições econômicas concretas que explicam o posicionamento contra o governo, visto como opressor.
Por outro lado, Harris, assim como Trump, falou durante toda a campanha de revitalizar o patriotismo e o nacionalismo americanos, na tentativa de capturar parte do eleitorado trumpista. O artificialismo do “nacionalismo” de Harris reforçou a legitimidade do discurso de Trump.
O fator Elon Musk e a influência das mídias sociais foram subestimados na definição do voto do eleitorado. A relação de Harris com personalidades neoliberais, que emergiram como grandes vencedores do capitalismo no século 21, resultou em erro de cálculo sobre o potencial de rejeição aos principais capitais com interesses econômicos no país e no exterior.
As Perspectivas do Novo Governo Trump
A vitória de Donald Trump sobre Kamala Harris nas eleições de 5 de novembro provavelmente significa uma reorientação das políticas de Washington em diversas áreas. Internamente, o vice-presidente J.D. Vance terá o papel de aplicar uma política econômica que beneficie o cidadão norte-americano. Outro fator de inovação é a incorporação de Elon Musk, que buscará reduzir o tamanho do Estado para economizar dinheiro. Musk já sugeriu a possibilidade de economizar dois trilhões de dólares por ano, o que seria significativo para o déficit orçamentário anual de seis trilhões de dólares. A economia dos EUA será o foco principal da nova equipe, com especialistas alertando sobre inflação, preços da moradia e os riscos associados à dívida pública federal de US$ 35,7 trilhões, fatores que contribuíram para a derrota democrata.
O Que a Vitória de Trump Significa para a Política Externa dos EUA?
Sobre a Ucrânia, Trump já deixou claro que não pretende continuar financiando o governo de Zelensky e a guerra por procuração. Durante seu primeiro governo, não houve novas guerras, e ele pretende seguir essa política, embora os EUA tenham investido centenas de bilhões de dólares em conflitos armados.
Quanto à OTAN, Trump deverá manter a estrutura, mas imporá mais exigências aos membros, especialmente europeus, para contribuírem com o financiamento. Desde o início do conflito na Ucrânia, os Estados Unidos forneceram mais de US$ 61 bilhões em ajuda de segurança a Kiev, mas o esgotamento dos arsenais do Pentágono resultou em uma redução na ajuda nos últimos meses. Biden ainda tenta obter mais fundos para Kiev antes de seu mandato terminar. A Rússia alertou repetidamente que a ajuda militar ocidental à Ucrânia apenas prolonga o impasse.
O Que Trump Fará no Oriente Médio?
Em relação a “Israel,” Donald Trump poderá tomar uma direção diferente em comparação com seu mandato anterior. Apesar do apoio de Benjamin Netanyahu, Trump se opõe a continuar uma guerra interminável em Gaza e no Líbano, mas não está claro se ele conseguirá encerrar o conflito, uma vez que isso contraria os interesses imperialistas na região.
Trump buscará o apoio da Arábia Saudita, mas o reino insiste em uma solução de dois estados para normalizar as relações com “Israel” e revitalizar os Acordos de Abraão. Essa abordagem pode representar uma reorientação da política externa dos EUA para a região, priorizando os interesses dos países árabes do Golfo.
As Relações entre EUA e China
As relações entre EUA e China estão no centro das tensões globais, especialmente em relação a Taiwan. Nesta campanha, o Partido Republicano adotou uma postura diferente em relação a Taiwan comparada à administração Trump de quatro anos atrás. Trump demonstrou uma atitude menos comprometida com a proteção de Taiwan e sugeriu que a ilha deveria financiar sua defesa. Trump defende que Taiwan aumente seus gastos com defesa, desvinculando-os da ajuda militar dos EUA, o que inclui a compra de armas mais ofensivas e a expansão da geração de energia nuclear.
A Marca do Governo Trump: A Imprevisibilidade
As previsões para o próximo governo Trump são apenas um esboço do que pode ocorrer. A principal característica de seu primeiro mandato foi a imprevisibilidade, refletindo tanto o estilo pessoal do presidente quanto sua base social instável e sua posição marginal em relação ao centro do poder imperialista. Certo é que a crise do regime norte-americano se aprofundará nos próximos anos, o que poderá abrir brechas para que os países oprimidos e a classe trabalhadora mundial avancem na luta contra seus inimigos.