Há muito, as denominadas democracias liberais foram consideradas um avanço em termos de progresso social e político. As revoluções burguesas, que começaram ainda na vigência do capitalismo mercantil ultramarino, com Holanda e Inglaterra à frente; foram as responsáveis por impulsionar; mesmo que de maneira ainda incipiente, a principal das revoluções políticas; a revolução francesa do final do século XVIII. Não podemos perder de vista que o primeiro Estado moderno adiante desse processo transformador foi Portugal, seguido pela Espanha. Essas forças revolucionárias foram progressistas, mesmo que organizadas pela ordem burguesa contra a monarquia absolutista. A última serviu como um enorme divisor de águas, um demarcador de fronteiras entre o feudalismo e o capitalismo industrial recém-chegado, mais desenvolvido. Daí resultam a república burguesa e o Estado democrático de direito.
No Brasil ainda não havíamos experimentado sequer esse sopro revolucionário, onde a república chegaria forjada a fórceps somente um século à frente. O Brasil, que no período da revolução francesa ainda era colônia, somente no final das duas primeiras décadas do início do século XIX migrava para um país independente. Nesse período histórico, duas datas marcam transições importantes como a de 1822, no grito da independência e nos acordos de coesão entre os Estados regionais e no período entre a abolição da escravidão de 1888, seguido da república burguesa de 1889.
O modelo republicano em um país independente no âmbito político e institucional caminhava de maneira autoritária e conservadora; porém, não podemos desprezar a história do país como fazem muitos livros acadêmicos das ciências humanas ao dizerem que esses períodos continuaram a desempenhar um modus operandi do atraso nacional. Mesmo com todas as heranças da reprodução arcaica, o país avançou; mesmo que repleto de contradições desde as suas origens e itinerários. De qualquer modo; como todo o país nas suas diversas etapas de desenvolvimento o Brasil carrega uma série de problemas típicos de um país atrasado e dependente, relativo aos processos que criaram e desencadearam as bases do crescimento econômico e da distribuição de renda e riqueza, assim como no âmbito político, social e cultural.
Uma modernização lenta e conservadora que somente iria conseguir escapar rumo à industrialização a partir de 1930 com o governo Getúlio Vargas; que decreta na prática o fim da chamada república velha ou primeira república. Lembrando que no primeiro ciclo de Vargas à frente da presidência (1930-45) ocorreu a partir de um golpe de Estado e a fase 1937-45 foi a fase do chamado “Estado Novo”; repleta de muita violência institucional e autoritarismo. Logo após a queda de Vargas em 1945, a denominada democracia política institucional brasileira exclui os partidos de orientação comunista e mais à frente a ditadura encerraria de maneira autoritária essa curta passagem mais democraticamente moderada.
Enquanto isso, as disputas intensas no início da fase do imperialismo do século XX com as duas grandes guerras mundiais marcaram profundamente as “democracias do ocidente”. De um lado a opção nazifascista e de outro a experiência catastrófica do stalinismo em termos democráticos, apesar de ter sido criada desde a importante Revolução Russa uma base industrial que permitiu o país desenvolver-se.
No tocante ao desenvolvimento do imperialismo e do modus operandi stalinista, campos de concentração/extermínio e guerras entre potências que aspiravam a liderança econômica, política e militar global marcaram o terreno das disputas no limiar de meados do século XX. A experiência do Estado de Bem Estar Social durou pouco e a Era do Brasil “bossa nova” menos ainda, já que ocorreu com baixo alcance e intensidade, até chegar na ditadura civil-militar de 1964, como enfatizamos.
O modelo ou “modo de vida americano” (american way of life) foi também uma ilusão de uma noite de verão; assim como todas as fantasias herdadas do teatro das sombras da burguesia desde as revoluções burguesas do século XVIII em diante. A América para os americanos teve seu auge durante a década de 1950 e logo esgotou-se, enquanto a vanguarda da dominação imperialista procurava invadir seu vizinho Cuba, provocava a guerra do Vietnã e atacava vorazmente as nações periféricas dependentes com golpes de Estado, como no Brasil a partir de 1964. Se no auge da dominação imperialista capitaneada pelos Estados Unidos a produção de guerras, golpes de Estado e toda a desordem de violência na forma de diversos terrorismos de Estado e agressão foi e ainda permanece lugar-comum, como podemos pensar em democracia? Que espécie de democracia poderia ser construída nesse ambiente hostil e perverso?
Vale salientar que esse processo foi retomado com muita força recentemente; desde a crise econômica e financeira internacional de 2008 com epicentro nos EUA. O bloco econômico das potências imperialistas representado pelo G7 expropria os países oprimidos e superexplora suas populações com ainda mais brutalidade na entrada do século XXI, tomando como exemplos a guerra da Ucrânia (OTAN) contra a Rússia, que serve aos anseios do imperialismo para coagir a Rússia e os ataques brutais do Estado sionista judeu; satélite principal de dominação no oeste da Ásia; que pratica; através do expansionismo de limpeza étnica, uma das maiores atrocidades contra povos desarmados na história da humanidade na região da Palestina. O Estado sionista nazifascista de Israel representa o que o imperialismo produziu de melhor em termos da apresentação da sua verdadeira face cruel. O ultraliberalismo do século XXI comandado pelo imperialismo, tendo os EUA à frente como grande líder do capitalismo democrático global, desmascara para o mundo o que é a democracia real; de fato.
No Brasil, de 2016 para cá; ou diria; desde a operação “Lavajato” de 2014 para cá perdeu muito em termos de assistência social mínima aos mais necessitados, especialmente; e lá se foi uma década de ataques à soberania do país com maior truculência a partir da matriz estadunidense. A “justiça burguesa” participou ativamente no golpe de Estado; assim como a vertente “democrática” parlamentar conduzida pelos maiores delinquentes políticos desde a ditadura. Os meios de comunicação da classe dominante nacional e estrangeira foram cirúrgicos no combate aos governos do PT e de toda a esquerda indiretamente. Todos representando os interesses do agronegócio, bancos, grandes comerciantes e industriais nacionais e transnacionais. Um golpe contra o povo brasileiro de conjunto operou-se no interior das tais “instituições democráticas” a mando do imperialismo reinante e sempre combinando ininterruptas vantagens já de longa data com a burguesia nacional golpista e entreguista do patrimônio nacional e seus recursos naturais.
O grande capital dominante não suporta democracia e infelizmente o atual governo Lula ainda insiste em diferenciar partidos de direita “democráticos” de outros escancaradamente avessos a civilidade. Bem; de uma coisa sabemos; a direita liberal tradicional permitiu o avanço da extrema direita quando as opções estavam ausentes para a disputa eleitoral de 2018; e, isso significa dizer, que salvar Sérgio Moro e Bolsonaro ainda é uma opção para que possam de alguma forma ser “úteis” para o serviço “sujo” de sempre, isto é, manter o controle do aparato estatal a serviço da burguesia e do imperialismo. Para que o poder permaneça nas mãos da classe dominante tanto as formas da direita tradicional quanto a chamada extrema direita são bem-vindas ao seu tempo e modo, e ainda, irão utilizar a capa democrática parlamentar e da justiça burguesa para justificar passar por cima da própria constituição quando lhes convier.
A lição que podemos tirar dessa fatídica história real é que a bendita democracia é uma ilusão; mas a maldita ditadura de véu democrático é a triste realidade que a esquerda liberal carrega sobre seus ombros e o povo amarga com a marca do brasão escaldante e do tacão de ferro do imperialismo e da ditadura da burguesia sobre seus cadáveres na forma de fome e violência.