Mais uma vez, a esquerda pequeno-burguesa brasileira mostra-se vergonhosamente desorientada. Agora, a desorientação aparece com os debates sobre as revelações do chamado Arquivos do Twitter, documentos revelados pelo dono da rede social, Elon Musk, que mostram a tentativa de invasão, por parte de Alexandre de Moraes, de contas de cidadãos brasileiros.
Marcia Tiburi, como é comum, não fica para trás na confusão. Publicou no portal Brasil 247 uma coluna chamada Elon Musk, Mark Zuckerberg e o controle dos meios de produção da linguagem. Segundo escreve Tiburi, Elon Musk “está em guerra contra a justiça brasileira” porque ameaça “descumprir suas determinações relacionadas ao uso das redes sociais no período das eleições no Brasil”.
Tiburi não quer discutir quais são essas determinações e de quem veio tais determinações. Ela é uma defensora da lei, se alguém mandou, tem que cumprir, não importando o resto da história.
Tal concepção completamente reacionária do direito fica encoberta porque Elon Musk é um bilionário e os prejudicados pela determinação são os bolsonaristas. Se é assim, na mente de Marcia Tiburi e da esquerda pequeno-burguesa, vale tudo.
“O bilionário não gostou, pois sendo dono de um importante meio de produção da linguagem e, assim, controlador da mente das pessoas, quer aproveitar para eleger seu candidato Donald Trump nos EUA, que usou largamente as Fake News e todo tipo de mentira e desinformação para vencer em 2017.”
No mundo encantado de Marcia Tiburi, as redes sociais são as únicas empresas dominadas por bilionários e que promovem a mentira. A Rede Globo, por exemplo, seria controlada por um conselho de trabalhadores? A Rede Globo nunca mentiu?
E a colunista não quer saber se Alexandre de Moraes age a serviço da Rede Globo e de outros bilionários. Aqui, na melhor das hipóteses, trata-se de uma briga de dois setores de bilionários. De um lado, Musk e o trumpismo, de outro, Alexandre de Moraes, Globo e Joe Biden.
Se Elon Musk é, como ela diz, um dono de “meio de produção da linguagem”, também o é o time adversário. Mais ainda, o time adversário não é controlador de “um meio”, mas de muitos e dos mais poderosos meios de comunicação. É em nome deles que Alexandre de Moraes determina que o Twitter permita ao STF acessar dados sigilosos de seus usuários, cidadãos do País. O mais grave dessa história toda é esse fato. Se Musk revelou tais documentos com o interesse X ou Y, devemos agradecer que os tenha revelado.
“Elon Musk pode acabar percebendo que seu dinheiro e seu autoritarismo não compram tudo. A ver se o Estado brasileiro tem algum poder diante do super capital internacional.”
Marcia Tiburi expressa bem a completa confusão da esquerda. Segundo ela, Musk é autoritário, mas as instituições antidemocráticas do Estado brasileiro, não. Segundo ela, Musk, ao tornar público os documentos de Alexandre de Moraes, expressaria o capital internacional demonstrando algum poder, mas ela se esquece que o resto do capital internacional está do lado de Moraes. Ela critica o bilionário Musk enquanto uma dúzia de outros bilionários ainda mais poderosos estão agindo contra os direitos do povo brasileiro.
É um espetáculo de ignorância e despolitização. Em nome de combater as supostas “fake news” de um bilionário, ela defende a supressão de direitos do povo brasileiro orquestrada por vários bilionários.
O que demonstra bem a confusão de Marcia Tiburi é o comentário de que ela mesma foi censurada, não pelo X (antigo Twitter), mas pelo Instagram: “Há poucos dias, fui censurada e fiquei sem poder postar nada no Instagram por ter escrito “A arte é sempre a maior reação” num comentário feito no perfil dos artistas Gisele Beiguelman e Lucas Bambozzi, autores do documentário Domingo no Golpe, feito exclusivamente com imagens do ataque à Brasília em 8 de janeiro. Por que essa frase tão simples foi confiscada para análise é algo preocupante.”
Marcia Tiburi nem percebeu o óbvio: 1) que Mark Zuckerberg, dono do Instagram, é adepto da política de Alexandre de Moraes, por isso ela enfrentou essa censura que talvez não enfrentasse no Twitter; 2) que a censura que ela sofreu é exatamente o que quer fazer Moraes nas redes sociais.
Diferentemente do que acredita Tiburi e a esquerda pequeno-burguesa desorientada, a política de Alexandre de Moraes é usar do poder estatal para obrigar os “donos dos meios de produção da linguagem” a censurar e a revelar informações pessoais dos cidadãos do país. No fim, basta que os bilionários aceitem essa política que, no fundo, preserva o seu poder.
“O que está por vir em termos mundiais não é nada democrático”.
De fato, a depender da política daqueles poderosos para os quais trabalha Alexandre de Moraes, direitos básicos como a liberdade de expressão e outros estão com os dias contados. Ao menos o bilionário Musk, pelos motivos dele, ajudou a deixar isso mais claro.
