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Henrique Áreas de Araujo

Militante do PCO, é membro do Comitê Central do partido. É coordenador do GARI (Grupo por Uma Arte Revolucionária e Independente) e vocalista da banda Revolução Permanente. Formado em Política pela Unicamp, participou do movimento estudantil. É trabalhador demitido político dos Correios e foi diretor da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios)

Coluna

Considerações sobre a obra de Cândido Portinari

"Conhecer Portinari é conhecer o Brasil, é conhecer o povo brasileiro"

No final do ano passado, dia 29 de dezembro, completaram-se 120 anos de Cândido Portinari. O modernista, filho da lavoura de café da pequena Brodwski, no interior de São Paulo, é considerado pela maioria dos críticos de arte como o principal pintor brasileiro. E Portinari era um pintor brasileiro não só porque nasceu na terra vermelha, a “terra roxa”, da região de Ribeirão Preto, mas por pintar o Brasil, seu povo e suas cenas, dando cor e forma à nossa identidade nacional.

Portinari nasceu em 1903, filho de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil no final do século XIX. As famílias paterna e materna do pintor vieram da mesma região da Itália, mas se conheceram na lavoura de café nos campos do interior paulista. Os pais, Giovan Batista Portinari e Domenica Torquato Portinari, conheceram-se na lavoura de café e casaram-se em 1901, ele com 18 e ela com 13 anos. Cândido, ou Candinho como era chamado, foi o segundo filho do casal.

A família, no entanto, decide deixar a lavoura para tentar a vida na cidade de Brodowski, abrindo uma pequena vendinha. De infância pobre, cursou apenas o grau primário, mas interessou-se pelo desenho e pela pintura desde muito cedo. Assim que demonstrou seu interesse pelo desenho ao pai, este providenciou-lhe aulas de desenho. Aos nove anos, ajuda um grupo de pintores itinerantes contratados para restaurar a Igreja Matriz de Brodowski e logo depois ajuda um escultor contratado para decorar a frente da mesma igreja. Aos 11 anos, Cândido Portinari faz o retrato do compositor Carlos Gomes, copiando a imagem de uma cartela de cigarros. O talento do filho faz com que os pais decidam enviá-lo ao Rio de Janeiro para estudar desenho, o que acontece quando Cândido Portinari tem ainda 16 anos. Primeiro ele se matricula no Liceu de Artes e Ofícios e pouco depois ingressa na Escola Nacional de Belas-Artes, onde começa, efetivamente, a fazer parte dos círculos de artistas e intelectuais de sua época.

Portinari buscou, até o fim da vida, tratar dos temas nacionais e expressar esses temas em formas também nacionais. Ele é, nesse sentido, um modernista por excelência. Mas há em Portinari uma diferença importante em relação a seus contemporâneos.

Filho de camponeses, de origem humilde, com o ensino primário incompleto, a obra de Portinari é antes um produto de suas observações e de seu trabalho, do que de uma apreciação intelectual sobre teorias e escolas artísticas. O trabalho incessante é, aliás, uma marca do artista, apontamento comum feito por seus biógrafos, críticos, amigos e familiares. Não as cenas de trabalho tão bem retratadas pelo artista em muitas de suas obras; o trabalho mesmo, o dispêndio de energia e suor cujo objetivo é atingir um determinado resultado. É opinião comum que Portinari viveu para a pintura, a obsessão de sua vida eram seus desenhos, seus quadros, seus murais.

É verdade que Portinari vai adquirindo ferramentas para essa elaboração teórica à medida que se envolve com os artistas e intelectuais da época, que estuda a técnica e as diferentes escolas artísticas, que tem contato com a vanguarda europeia. Se Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti são filhos da elite econômica do País, o que lhes proporciona acesso ao que de mais avançado havia nas artes da época, Portinari vem de baixo.

Seria um erro, entretanto, afirmar que Portinari não se preocupou com a elaboração teórica. Na medida que tomava consciência da variedade de técnicas e de formas artísticas, o pintor procurou expressá-las a seu modo. Mas sua preocupação era a do artista que busca a melhor forma de transmitir o conteúdo que deseja.

Os primeiros modernistas – Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Di Cavalcanti – lutaram encarniçadamente para estabelecer as novas formas modernas contra o academicismo conservador. Elaboraram sua doutrina estética, polemizaram com seus adversários, procuraram fazer prevalecer suas ideias. Em suma, os primeiros modernistas se colocaram a tarefa de impor as inovações formais e as ideias estéticas que acreditavam ser revolucionárias contra o “passadismo”.

Essa primeira geração dos modernistas brasileiros lutou para estabelecer uma pintura nacional, ou seja, para adaptar as novas formas vanguardistas à realidade brasileira, trazendo as cores e as cenas do cotidiano do País. Se isso é verdadeiro, coube a Cândido Portinari a aplicação prática daquilo que os modernistas, do que poderíamos chamar de “fase heroica”, procuravam.

Portinari acaba por ser uma síntese daquilo que os modernistas defenderam nos anos anteriores. Mais ainda, coube ao pintor, tornar as conquistas e inovações formais do modernismo brasileiro reconhecidas internacionalmente. E de fato, ele se torna o principal pintor brasileiro, mais conhecido e reconhecido no mundo, considerado, juntamente com os muralistas mexicanos – Rivera, Orozco, Siqueiros – o ponto alto das artes plásticas latino-americanas.

Conhecer Portinari é conhecer o Brasil, é conhecer o povo brasileiro.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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