Entre 1936 e 1939, aconteceu um dos fenômenos mais importante em toda a história da Palestina: uma verdadeira revolução. Ela é conhecida como Revolta de 1936, mas foi muto mais do que isso. O próprio Hamas traça seu surgimento para o ano de 1936. Os ingleses e os sionistas a derrotaram por meio de uma repressão violentíssima. Em 1939, organizaram uma conferência sobre a Palestina em Londres para traçar os rumos de sua colônia.
O militante trotskista norte-americano Felix Morrow analisou o evento:
“O que os árabes têm realmente para mostrar, para justificar a jubilação na Palestina e dos Estados árabes vizinhos? Ao examinar de perto, além de quaisquer promessas privadas feitas aos delegados árabes e que, como tantas vezes antes, não serão cumpridas, o texto oficial britânico de ‘sugestões’ como base para discussão futura fornece:
- Um ‘período de transição’ no qual a Grã-Bretanha continuaria a governar como antes. As ‘muitas questões’ que a Grã-Bretanha propõe resolver durante este período significam que este período durará o tempo que a engenhosidade diplomática britânica puder prolongá-lo.
- A Constituição para governar o “Estado palestino independente” que seguiria o período de transição será escrita sob a direção da Grã-Bretanha e deve conter ‘suficientes salvaguardas para os interesses britânicos’.”
Morrow acertou mais do que ele poderia imaginar. Nenhuma dessas promessas foi cumprida. Mas fica claro como os ingleses estabeleciam sua dominação do mundo árabe, fazendo acordos de longa duração que nuca seriam cumpridos. Os sionistas herdaram essa tradição, o maior exemplo são os Acordos de Oslo, um dos maiores golpes dos últimos 50 anos. Nada do que foi proposto foi cumprido por “Israel”.
Ele então faz uma interessante comparação com a Índia: “a declaração britânica compara descaradamente o procedimento para elaborar esta constituição com ‘o modo’ como a Constituição Indiana foi elaborada – em um momento em que toda a Índia está em armas contra esse documento ditado pelos britânicos!”. E ainda destaca os pontos do golpe: “o documento não contém compromissos sobre disposições para eleições democráticas de nenhum órgão legislativo, nem mesmo para representação proporcional segundo a população, o que garantiria uma maioria árabe”.
Morrow, então, coloca outro elemento crucial para entender por que os sionistas conseguem se manter na Palestina: “a atual liderança reacionária dos nacionalistas árabes recebeu bem esse desvio. Este grupo não deseja nem se beneficiaria da independência da Grã-Bretanha. Ela quer apenas o que a casta dominante no Egito e no Iraque têm: uma suculenta parceria júnior com a Grã-Bretanha como parceira sênior, na exploração comum das massas árabes. Seus interesses básicos, portanto, estão em conflito com os dos trabalhadores e camponeses árabes, cujos padrões de vida miseráveis”.
Naquele momento, como hoje, os governos árabes eram controlados pelo imperialismo. Eles foram uma peça crucial para o projeto sionista se estabelecer na Palestina. A situação era ainda pior, pois além da Jordânia, o Iraque e o Egito eram monarquias controladas pelos ingleses.
Felix, então, levanta outra questão. Como a colonização da Irlanda ajudou a formular a política do projeto sionista: “apostando tudo em provar sua utilidade para a Grã-Bretanha, os líderes sionistas buscaram construir uma ‘Ulster [norte da Irlanda] judia leal’ no meio dos árabes revoltados e, como resultado, trouxeram sobre si mesmos um ódio entre os árabes tão profundo quanto o dos republicanos irlandeses contra os ‘leais’ – à Grã-Bretanha – ulsterianos. As massas árabes não discriminam entre os revisionistas sionistas, que propõem usar ‘força física’ contra os árabes, e os sionistas regulares, burgueses ou ‘socialistas’, que propõem estabelecer uma maioria judia sob a proteção de baionetas britânicas – e as massas árabes estão certas, pois todas as vertentes do sionismo são hostis à liberdade árabe diante do domínio britânico”.
Analisando o quadro geral, fica claro como a política inglesa para a Palestina já estava muito bem definida. Na Irlanda, até hoje o norte é controlado pelos britânicos devido à população de protestantes. Já na Índia, o plano da partilha também foi implementado após a Segunda Guerra Mundial. A Índia se dividiu em dois principais países, Índia e Paquistão. O imperialismo britânico utilizou sua experiência com diversas colônias para impor a sua política na Palestina.
No fim, Morrow coloca a política que é clássica do movimento operário para a Palestina: “aceitando a posição de minoria que os árabes exigem, tal grupo judaico poderia então submeter a proposta britânica a uma exposição aguda de seu conteúdo imperialista e contra a independência, e assim acelerar a cristalização de uma liderança operária e camponesa árabe. Somente uma aliança entre os trabalhadores judeus e as massas árabes pode salvar a comunidade judaica na Palestina”.
A criação de um Estado democrático em que árabes, em maioria, e europeu judeus lutem juntos contra o imperialismo é a única forma de libertar a Palestina. Naquele momento, isso ainda era mais fácil, o Estado de “Israel” ainda não havia sido criado e não havia tantas décadas de decadência da sociedade sionista. Mas essa continua sendo a única política que poderá libertar a Palestina. Fato é que, para os europeus que migraram para o território, a única forma de se manterem é se aliando com os palestinos. A aliança com o imperialismo levará a sua ruína completa.