“O senhor e as empresas diante de nós, sei que não é sua intenção, mas têm as mãos manchadas de sangue”. Ninguém se espantaria, nos dias de hoje, em ouvir uma frase como essa. Diante do genocídio na Faixa de Gaza e do apoio explícito de empresários ao morticínio, acusar alguém de estar com as mãos manchadas de sangue – isto é, de ser cúmplice dos atos horrendos de “Israel” – se tornou comum.
Eis que, no entanto, a frase nada tem ver com “Israel”. Não foi dirigida aos empresários brasileiros que lançaram um manifesto contra o governo Lula por apoiar a investigação do Estado sionista na Corte Internacional de Justiça, nem contra as empresas que estão apoiando o genocídio. A declaração foi proferida pelo senador republicano norte-americano Lindsey Graham contra Mark Zuckerberg, dono do conglomerado de plataformas digitais que inclui Facebook, WhatsApp e Instagram.
O congressista, enaltecido por um editorial do jornal golpista O Globo, discutia, naquele momento, a chamada regulamentação das redes sociais. Isto é, a tutela sobre o que pode ou não ser dito na Internet.
O pretexto da vez para a censura nas redes sociais é, como sempre, “o bem”. Senadores como Lindsey Graham juram que agem em nome das crianças, que estariam expostas a grandes perigos na Internet. Fica então a pergunta: há perigo maior para uma criança que viver na Faixa de Gaza sob bombardeio de “Israel”?
Para essas crianças, não há vez em O Globo. O que já escancara a sua farsa. Em seu editorial de título Cerco regulatório se fecha sobre as grandes plataformas digitais, o jornal da Família Marinho deixa claro a que vem: “os princípios da lei europeia serviram de base ao Projeto de Lei que tenta regulamentar as plataformas digitais no Brasil. Embora seja conhecido como PL das Fake News, ele tem um escopo bem mais abrangente que apenas o combate à desinformação. Impõe às empresas o ‘dever de cuidado’ com aquilo que circula em suas redes, para que façam cumprir leis já existentes no caso de racismo ou incitação ao ódio, abusos contra crianças, mulheres, idosos e outros crimes“.
No fim das contas, tudo o que O Globo quer é ampliar a censura no Brasil. É uma campanha sórdida, que apela para uma falsa defesa das crianças para defender a supressão de qualquer discussão na Internet. Isso, por sua vez, apenas comprova o caráter reacionário do Projeto de Lei 2630 (o PL das “Fake News”): é uma medida tão impopular que obriga a burguesia a fazer uma campanha apelativa, explorando temas como pedofilia e suicídio.
Enquanto isso, os verdadeiros criminosos, que estão bombardeando crianças em Gaza, seguem apoiados pela imprensa brasileira. É O Globo que tem as mãos sujas de sangue.
