A calamidade pública estabelecida no Rio Grande do Sul não é um problema de ordem ambiental. A questão é social, de ordem política, que descende desde a má fiscalização e execução das políticas de segurança ambiental no campo, com devastação de matas ciliares e terraplenagens inadequadas, até o lobby territorial e urbano apresentado ano a ano pelas empresas de construção civil no Rio Grande do Sul, que inclusive mudaram o zoneamento legal de Porto Alegre às margens do lago Guaíba.
Embora sejam temas que tratem da relação dos seres humanos com o meio ambiente, é importante deslocar o tratamento dado aos mesmos: do aspecto ambiental para o político. O fator humano é determinante nesse caso, ao contrário do que foi o terremoto da Cidade do México de 1985, por exemplo. São sequências de erros políticos que configuraram uma situação em que cidades inteiras não conseguem escoar água das chuvas, e os campos, sem seus relevos naturais, não conseguem conter a violência das enxurradas.
A interferência do ser humano na natureza é salutar, necessária ao progresso econômico e à luta de classes, sendo a pauta ambiental, via de regra, uma agenda capitalista que busca atrasar o desenvolvimento de países que ainda dependem de recursos naturais como motores de sua economia. Porém, neste caso vemos o inverso: uma burguesia dependente da exploração natural e outra da especulação, ambas vilipendiando a segurança do povo para encontrarem formas mais fáceis de fazer dinheiro.
Não foram as mudanças climáticas que destruíram o Rio Grande do Sul. Foi a burguesia e seus representantes políticos, num estado que, se um dia já teve alguma identificação com a esquerda, na figura de Leonel Brizola, neste século quase só seu viu governado por agentes neoliberais tais como o que lá está, o tucano Eduardo Leite (exceção parcialmente feita a Tarso Genro, entre 2010 e 2014). E assim foram, também, quase todos os prefeitos de suas principais cidades.