Entre os anos de 1947 – data em que a ONU aprovou o Plano Partilha (Resolução 181) – e 1949 – quando a organização imperialista reconheceu formalmente a criação do Estado de “Israel”, admitindo-o como membro (273) -, os sionistas e suas tropas fascistas expulsaram mais de 800 mil palestinos de suas terras. A maioria se refugiou na Cisjordânia, na Faixa de Gaza e nos países fronteiriços, isto é, Jordânia, Síria, Líbano e Egito.
Campos de refugiados foram erguidos pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Próximo Oriente (UNRWA, na sigla em inglês). À época, foi uma forma de evitar que os palestinos voltassem às suas terras. Depois de mais de sete décadas da Catástrofe (Nakba), há 68 campos de refugiados palestinos na região, 58 dos quais foram criados entre 1948 e durante os anos 1950.
Um deles é o campo de Jabalia, criado em 1948 pela ONU.
Localizado a cerca de três quilômetros ao norte da cidade de Jabalia, na Faixa de Gaza, na fronteira com os territórios ocupados (“Israel”), é o maior campo de refugiados na história do povo palestino. Em 2002, sua população era de mais de 100 mil habitantes. Possuindo uma área de apenas 1,4 km², é um dos locais mais densamente povoados do planeta.
Embora o objetivo da ONU em criar os campos de refugiados era a contenção da luta dos palestinos e a preservação de “Israel”, este objetivo falhou. Tendo sido necessário dar relativa qualidade de vida aos palestinos dos campos, por exemplo, recorrendo à criação de escolas e universidades, as medidas não só não contiveram o ímpeto dos palestinos, mas acabaram sendo um terreno propício para que esse povo martirizado organizasse sua resistência.
Não foi coincidência, então, que o início da Primeira Intifada (movimento revolucionário do povo palestino que durou de 1987 a 1993) ocorreu no Campo de Jabalia. No dia 9 de dezembro de 1987, um motorista israelense jogou seu caminhão contra um carro de civis palestinos, assassinando quatro trabalhadores, três de Jabalia. Foi o estopim que fez os palestinos desatarem uma mobilização revolucionária contra “Israel”, mesmo contando apenas com paus, pedras e, no máximo, coquetéis molotov. Releia matéria já publicada neste Diário sobre a Primeira Intifada:
Além de ter sido o estopim daquela revolução, o acontecimento também impulsionou a criação do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas, na sigla em árabe). Segundo descreve o historiador Ziad Abu-Amr, em sua obra Hamas: um contexto histórico e político, ainda no dia 10, Ahmed Yassin (um dos fundadores do partido) e outros membros da Irmandade Muçulmana na Palestina se reuniram para decidir como intervir na situação. No dia 14, foi publicado um panfleto exortando o povo palestino a resistir contra o sionismo. Segundo o referido historiador, essa foi a primeira intervenção pública do Hamas. Fato que mostra a importância do Campo de Refugiados de Jabalia na história palestina.
Sendo um local fundamental da resistência do povo palestino, o campo foi alvo de inúmeros ataques de “Israel” ao longo das décadas. Por exemplo, em 2004, durante a Segunda Intifada, as forças israelenses de ocupação puseram em prática a operação Dias de Penitência visando derrotar a resistência palestina em Gaza, especialmente o Hamas, em dois campos de refugiados: Jabalia e Beit Lahia, e também na cidade de Beit Hanoun. Na ocasião, os invasores sionistas assassinaram 130 palestinos, mas não conseguiram desmantelar o partido e seu braço armado, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam.
Após o Hamas ter ganho as eleições na Palestina em 2006, conquistando a maioria do parlamento (74 de 132 cadeiras), tornando-se formalmente o governo palestino na Faixa de Gaza, os ataques de “Israel” a campos de refugiados no enclave só se intensificaram.
Na Guerra de 2014, por exemplo, uma escola da UNWRA foi alvo da artilharia israelense, que assassinou pelo menos 15 palestinos que estavam abrigados lá. À época, o então comissário-geral da organização, Pierre Krähenbühl, declarou:
“Ontem à noite, crianças foram mortas enquanto dormiam ao lado dos pais no chão de uma sala de aula num abrigo designado pela ONU em Gaza. Crianças mortas enquanto dormiam; isto é uma afronta para todos nós, uma fonte de vergonha universal. Hoje o mundo está em desgraça.”
Atualmente, na tentativa de fazer quebrar o espírito de luta do povo palestino e fazê-lo se voltar contra o Hamas e demais organizações da resistência, os ataques das forças israelenses de ocupação (especialmente bombardeios) são sistemáticos e diários. Em 31 de outubro de 2023, um ataque aéreo resultou em 400 vítimas, sendo um mínimo de 50 mortos. Ataques já haviam sido realizados nos dias 9, 12, 22 e 31 de outubro.
Depois disso, “Israel” continuou bombardeando o campo. Poucos dias após o ataque relatado acima, os sionistas atacaram Jabalia mais uma vez, matando pelo menos 80 e ferindo centenas, segundo informações da Defesa Civil de Gaza.
Desde então, “Israel” bombardeou o campo de refugiados várias vezes nestes últimos cinco meses: novembro, dezembro, janeiro, fevereiro e março, resultando no assassinato de milhares de civis palestinos, especialmente mulheres e crianças.
No entanto, os ataques a civis não estão sendo suficientes para dobrar o povo palestino.
Ainda, em uma demonstração de abnegação por parte do povo palestino, e de que a Revolução Palestina avança, no dia 15 de março “os palestinos, recusando-se a ceder, realizam firmemente as orações de Isha e Taraweeh ao ar livre no campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, depois de a ocupação ter destruído a grande maioria das mesquitas em Gaza”, conforme noticiado pelo canal de notícias Resistance News Network:
Nesse sentido, no último dia 28, as Brigadas de Saladino, dos Comitês de Resistência Popular, bombardearam, com morteiros de 120 mm, veículos de ocupação e soldados sionistas reunidos a leste de Jabalia.
Os ataques de “Israel” contra o povo palestino, em especial contra os campos de refugiados, não irá deter a atual Revolução Palestina. Se em 1987, em condições ainda mais adversas, a Primeira Intifada teve início no campo de Jabalia, o fascismo sionista só servirá para impulsionar o povo palestino a lutar pela destruição de “Israel” e do sionismo.