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Francisco Weiss

Militante do PCO em São Paulo. Juntou-se ao partido em 2018, em meio à campanha da luta contra o golpe e pelo “Fora Bolsonaro”. É membro da coordenação do Grupo por uma Arte Revolucionária Independente (GARI), além de dirigente do PCO em São Paulo. Apresenta de segunda a sexta o programa Reunião de Pauta na COTV e outros programas do Canal e também da Rádio Causa Operária.

Coluna

Boulos é o que burguesia queria que Lula fosse: adestrado

Boulos não representa a política operária, não é operário e é altamente oportunista

A construção de Guilherme Boulos como um expoente da luta da esquerda é antiga: a imprensa burguesa fez grandes esforços para apresentá-lo como líder político. Pior, como “herdeiro de Lula”, alguém que remete ao “Lula mais jovem”. Poderia ser mais uma opinião de uma analista incauto, mas não é. Trata-se de uma operação consciente que tem como objetivo anular a maior liderança popular do país que é o presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Guilherme Boulos ganhou notoriedade por meio da campanha “Não vai ter Copa”, na qual tanto ele quanto o MTST não possuíam projeção nacional. A imprensa foi responsável por promovê-los com o intuito único de atacar o governo de Dilma Rousseff, buscando garantir o fracasso da Copa do Mundo no Brasil para não ser usada como propaganda pelo PT.

A projeção dada pela imprensa golpista não foi apenas através da divulgação das manifestações do “Não vai ter Copa”. Boulos ganhou de presente uma coluna semanal da Folha de S. Paulo onde aproveitava para destilar sua política esquerdista contra o governo do PT, dando, assim, uma cobertura de “esquerda” para a política golpista.

Em 2015, enquanto a direita planejava um golpe contra a presidente Dilma Rousseff, alguns setores da esquerda, como o PSOL, PCB, PSTU e o ativista Boulos do MTST, realizaram protestos contra o “ajuste fiscal”. Boulos não via uma ameaça de golpe de Estado no país e acreditava que toda essa discussão era apenas uma manobra para apoiar um governo que ele considerava “indefensável”, expressando sua opinião em uma coluna na Folha de São Paulo.

Em 2016, depois da autorização da abertura do processo de impeachment, as mobilizações começam acontecer. A “Frente Brasil Popular” foi organizada pelos grupos da esquerda como a CUT, o PT, a UNE, o PCO, o PCdoB, a CMP etc, tinha como objetivo agrupar todos os setores da esquerda para lutar contra o golpe de Estado no País.

Por último, entre Lula e Boulos, existe uma gigante diferença. O primeiro é uma verdadeira liderança, ligado aos trabalhadores e os movimentos sindicais, surgido da mobilização operária e de massas, com ampla base eleitoral e com um partido verdadeiramente grande. O segundo é apenas um indivíduo direitista que faz uma pantomina da esquerda, que finge ligação com os movimentos populares, em um partido identitário, que apoiou o golpe e com relações com o imperialismo.

Caso o fato não seja suficiente, Boulos já fez ataques à Venezuela, Cuba e Nicarágua, países que são os maiores inimigos do imperialismo na América Latina. E esta foi a declaração do mesmo quanto ao conflito Palestina e Israel: “Minha defesa dos direitos do povo palestino é pública. (…) Agora, condeno sem meias-palavras ataques violentos a civis, como os que mataram nas últimas horas 250 israelenses e 232 palestinos. Deixo minha solidariedade às vítimas e seus familiares.  Defendo uma solução pacífica e duradoura, que passe pelo cumprimento do direito internacional e das resoluções de paz.”

Veja só o raciocínio do “próximo Lula”: os palestinos mataram civis, Israel matou civis, ambos estão errados, porquê matar é errado. Grande análise, não? Sem meias-palavras: Boulos está defendendo o Estado genocida de Israel. Na verdade, Guilherme Boulos é o tipo de pessoa que condenaria as mortes de ambos os lados na Revolução de 1917. Com a “paz” e a “solução pacífica” que quer Boulos, a única coisa “duradoura” que teremos é o massacre dos palestinos.

E, ainda, para aqueles que perseveram na ilusão que é o esquerdismo de Boulos: em entrevista ao Esfera Brasil, Boulos afirmou “Espero ser o candidato de uma frente com PT, PCdoB, PV, Rede, PDT e, eventualmente, com outros partidos que podem se somar”. Pode-se observar que o a ironia do PSOL, que anteriormente criticava e repudiava a política de conciliação de classe e aliança com a direita feita pelo PT, agora adota uma postura semelhante.

Após a derrota já esperada no segundo turno, Boulos publicamente elogiou a disputa democrática com Bruno Covas e desejou sorte ao mesmo homem que colocou pedras pontiagudas embaixo das pontes, que ordenou a GMC roubar cobertores e jogar água em barracas dos moradores de rua. O sucesso na operação que tirou o PT das eleições no primeiro turno das eleições de 2020 em São Paulo garantiu o retorno de Guilherme Boulos como colunista da *Folha S. Paulo*.  

Não suficiente, em abril de 2023 um vídeo vazou de uma conversa entre Guilherme Boulos e o direitista José Luiz Datena. Na conversa gravada as escondidas, Datena atacava o PT dizendo que Lula era o problema e que o PT era um partido corrupto, e Boulos concordava com as palavras de uma das figuras mais execráveis do Brasil.

Embora os inocentes digam que o pró-imperialismo de Boulos é uma teoria da conspiração, os fatos são inegáveis: Boulos é um funcionário do Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa (IREE), do qual fazem parte Sergio Etchegoyen (general da ala golpista mais linha dura das Forças Armadas), Leandro Daiello (delegado da PF durante o golpe contra Dilma) e Raul Jungmann (ex-ministro da segurança pública durante o governo Temer).

As eleições de 2020 em São Paulo revela claramente o papel desempenhado por Boulos na arena política. A fim de estabelecer uma ampla coalizão entre partidos de esquerda e direita, visando combater Bolsonaro, foi executada uma estratégia para minimizar a importância do PT – o maior partido de esquerda. Nas pesquisas, o PT, que historicamente polariza as eleições com o PSDB na maior cidade do país, obteve apenas 1% dos votos. Espalhou-se a narrativa de que, para evitar uma possível chegada de Celso Russomano, candidato apoiado por Bolsonaro, ao segundo turno, a esquerda deveria apoiar Boulos.

No início das eleições, Boulos optou pela demagogia esquerdista e pseudo-radical. Mas à medida que o tempo passou, Boulos abrandou seu discurso até que soltou a pérola: “Não esperem de mim demonização do setor privado”.

A participação do imperialismo nessa operação da construção de imagem de Boulos também fica transparente quando a revista Times elege Boulos entre os 100 líderes emergentes do mundo, além do The Guardian publicar o artigo “Lula’s ‘heir’ sets his sights on becoming Brazil’s youngest president” (Herdeiro de Lula quer se tornar o presidente mais jovem do Brasil, tradução livre)

Porém, em sua incessante busca pelo holofote, Boulos inventou uma frente chamada “Povo Sem Medo”, que reunia setores que também faziam parte da “Frente Brasil Popular”, mas agora liderada por ele. Além de fragmentar as frentes, o que é absurdo em termos de luta unificada, a “Frente Povo Sem Medo” possuía uma característica significativa: a ausência de partidos políticos, sendo composta apenas por “movimentos”. Não podemos ignorar a semelhança com a campanha da direita contra os partidos, o que não é mera coincidência.

Considerando todo o processo que se desenvolveu até o golpe de Estado, pode-se concluir que Boulos nunca lutou contra o golpe, muito pelo contrário, contribuiu para confundir a luta contra a derrubada de Dilma Rousseff. Ainda, o psolista nunca atacou frontalmente a operação farsesca da Lava Jato e se apresentou como defensor de um “julgamento justo” para o ex-presidente, tendo, portanto, uma posição ambígua sobre a inocência de Lula. Inclusive, quando o Supremo Tribunal Federal decidiu pela suspeição de Sérgio Moro e Lula colocou a possibilidade de ser o candidato da esquerda nas eleições de 2022, o mesmo prontamente declarou que “não seria hora de pensar em eleições. “

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