O Dr. Basem Naim, importante membro do birô político do Hamas, concedeu entrevista à emissora russa RT. O conteúdo foi divulgado no sítio da RT na última quinta-feira, e traz a versão dos palestinos sobre o que vem acontecendo na Palestina desde o 7 de outubro que abalou as estruturas da ocupação sionista. >>> Confira também a entrevista que o presidente do PCO, Rui Costa Pimenta, realizou com Naim no meio de fevereiro
A matéria assinada por Robert Inlakesh traz comentários do Dr. Basen Naim sobre quatro tópicos principais: o plano dos Estados Unidos de construir um porto em Gaza, o papel do Hamas na unificação política dos palestinos, a posição da Rússia na guerra em curso e a aliança regional da resistência anti-imperialista.
Porto em Gaza
A proposta dos Estados Unidos de construir um porto em Gaza, que teria partido de Netaniahu, é apresentada oficialmente como uma medida para facilitar a entrega de “ajuda humanitária”. Mesmo afirmando que o porto traria esse tipo de agilidade, Naim questiona “por que estão percorrendo esse caminho tão longo e complicado?”. Ele aponta para o fato de que, se o objetivo real é facilitar a chegada de itens necessários à população da região, existem medidas muito mais simples e rápidas:
“O caminho mais curto e fácil é obrigar Israel a abrir todas as passagens terrestres e permitir a entrada de todas as necessidades dos habitantes de Gaza e permitir que todos os organismos internacionais, incluindo a UNRWA [sigla em inglês da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Médio], trabalhem livremente no terreno.”
Além disso, ele lembra que nada disso faz sentido se a agressão sionista não for interrompida. Afinal, têm se tornado rotineiros os ataques militares contra pessoas que esperam por essa ajuda, em cenas brutais que mostram sem qualquer sombra de dúvidas que ‘Israel’ comete crimes de guerra sem qualquer preocupação.
Naim ainda alerta para o fato de que um porto construído pelos Estados Unidos poderia ser usado para aumentar a presença dos norte-americanos na Palestina, como controlar a costa marítima e a linha terrestre de oeste para leste. Ele questiona ainda como funcionaria esse porto:
“Como pode este porto de ajuda funcionar sem um parceiro no terreno? E quem é o parceiro? E como irá trabalhar esse parceiro? Como irá operar? Quem receberá o auxílio e as doações?”
A unificação política palestina
Esse é um ponto que tem sido intencionalmente ignorado pela imprensa burguesa desde o 7 de outubro. A operação Dilúvio de al-Aqsa é tratada como uma operação isolada do braço armado do Hamas, porém isso está muito longe de ser verdade. Questionado sobre a “Sala Comum”, que é o comando unificado de diversos grupos armados na Palestina, Naim falou sobre sua origem e sua implicações:
“A Sala Comum foi estabelecida há alguns anos, pouco antes da batalha da ‘Espada de Jerusalém’ em maio de 2021. E foi um passo em dois caminhos principais: por um lado, permitiu a organização e a cooperação no terreno, durante as agressões israelenses, ao mesmo tempo que coordena as operações militares com as diferentes facções.”
Naim comentou ainda sobre a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Ele afirma que o Hamas pretende ser reintegrado à OLP, porém a organização precisa de mudanças, pois “a visão política da OLP foi minada repetidamente, pela assinatura do acordo de Oslo, pela alteração da carta da OLP em 1996“. Sobre possíveis planos conjuntos com a Autoridade Palestina, Naim afirma que os acordos e documentos assinados nos últimos 17 anos “são suficientemente satisfatórios para levar à unidade se as partes forem sérias, para implementar acordos baseados no interesse nacional e isso significa excluir quaisquer intervenções externas“.
Ele ainda coloca que, mesmo buscando a libertação de todos os palestinos, eles acreditam que “a libertação de alguns líderes, não só do Hamas, mas também de outros partidos, terá um grande impacto na dinâmica interna palestina“:
“Portanto, sim, penso que é muito importante, muito crucial e muito estratégico libertar alguns dos grandes líderes nacionais de diferentes facções das prisões israelenses.”
Rússia, Palestina e Hamas
Naim destaca o importante papel da Rússia no mundo e especificamente no Oriente Médio. O governo russo tem relações de diálogo abertas com todos os grupos palestinos, podendo atuar como mediadora em acordos, o que “é muito útil para ajudar a alcançar a unidade palestina“.
A posição da Rússia no Conselho de Segurança da ONU também é apontada por ele como um fator importante, pois tem “poder de veto diante dos planos norte-americanos para minar os palestinos e a sua resistência“. Ele acrescenta que, mesmo que isso não ocorra atualmente, os russos têm capacidade militar para ajudar os palestinos, “se for viável”. Dessa forma, tendo capacidade para afetar a batalha contra a ocupação sionista.
Resistência regional contra o imperialismo
Naim expressa algo que a população da região tem muito claro há muito tempo: os Estados Unidos são o inimigo comum dos povos no Oriente Médio. Ele diz que a “Aliança de Resistência” tem se estabelecido ao longo dos anos. O Ansar Alá no Iêmen, o Hesbolá no Líbano e a Resistência Islâmica no Iraque e no Irã são exemplos dos grupos armados que têm atuado em solidariedade aos palestinos desde que a atual onda de ataques de “Israel” contra a população civil começou.
Ele expõe o cinismo dos norte-americanos, que falam sobre ajuda humanitária, mas não pressionam “Israel” a acabar com os ataques contra a população palestina. Além disso, “eles protegem a inteligência militar para obter informações da Faixa de Gaza para ajudar os israelenses a alcançar os seus objetivos” e “a maioria das armas usadas para matar mulheres e crianças na Faixa de Gaza são armas norte-americanas“.




