A mobilização dos índios de Dourados conquistou uma vitória parcial, mas importante, com a promessa de início de obras no valor superior a R$55 milhões para atender à demanda das Aldeias Bororó e Jaguapiru por água potável. O compromisso foi firmado durante reunião realizada na última quinta-feira (28) no Ministério Público Federal (MPF) em Dourados, no Mato Grosso do Sul, após dias de protestos intensos.
Apesar disso, a repressão ao movimento dos índios, liderada pelo governador Eduardo Riedel (PSDB), gerou revolta entre as comunidades. Tropas do Batalhão de Choque da Polícia Militar foram enviadas para desocupar a rodovia MS-156, resultando em feridos que precisaram de atendimento médico em hospitais da região e na invasão ilegal das aldeias.
Capitão da Aldeia Jaguapiru, Ramão Fernandes acusou a ministra dos Povos Indígenas Sonia Guajajara, de negligenciar a questão do abastecimento de água, afirmando que um pedido formal foi entregue à ministra no início da gestão federal, mas permaneceu ignorado. “Eu já fui duas vezes levar ofícios a Brasília, conversei particularmente com a ministra, entreguei os documentos nas mãos dela. Ela assinou, engavetou e até hoje não compareceu com a solução para nosso pedido”, declarou.
A repressão do governo estadual foi classificada como desproporcional pela ministra Sonia Guajajara, que afirmou: “as imagens são marcadas pelo uso considerado arbitrário e desproporcional da força por parte das autoridades de segurança”, disse a ministra, indicando que consideraria aceitável alguma força por parte da repressão contra uma manifestação de índios reivindicando água potável.
A intervenção policial resultou em pelo menos sete índios feridos, entre eles duas mulheres que seguem internadas devido a lesões no ouvido. Do lado policial, a reação dos oprimidos conseguiu deixar 12 agentes da repressão feridos e seis viaturas danificadas, segundo informações da própria PM, um feito impressionante dado a disparidade de armas, que reagiam com pedras ao ataque dos PMs com armas de fogo e bombas de efeito moral.
Além das medidas emergenciais, o Ministério dos Povos Indígenas anunciou um convênio com o governo estadual e a Itaipu Binacional, que prevê um investimento de R$ 60 milhões para modernização dos sistemas de água em oito aldeias da região, beneficiando cerca de 34 mil pessoas. O projeto tem prazo de execução previsto para janeiro de 2025, o que mantém a urgência das ações imediatas. Durante a reunião no MPF, os índios exigiram a presença da secretária estadual de Cidadania, Viviane Luiza da Silva, para assinar o compromisso de ampliar o fornecimento de água por caminhões-pipa enquanto os poços não estão prontos.
Os protestos tiveram início como forma de chamar atenção para as condições enfrentadas nas aldeias, onde milhares de pessoas vivem sem acesso básico a água potável e saneamento, o que líderes do movimento descreveram como “condições medievais”. Apesar da promessa de obras, o capitão Ramão Fernandes expressou ceticismo: “Tomara que seja verdade [a liberação da verba]. Se tivessem que resolver, já teriam resolvido antes de tudo isso acontecer”.
O protesto ganhou força após anos de negligência governamental com a comunidade camponesa. A resistência encontrou apoio entre os guarani-caiouá, povos que compõem a maioria das aldeias de Dourados, e também os índios terena.
Mesmo diante da violência policial, os manifestantes mantiveram o bloqueio da MS-156 ainda na manhã do último dia 28, desmobilizando a ação na rodovia apenas após a formalização dos compromissos no MPF. Abaixo, fotos do Termo de Compromisso firmado no MPF e enviados pelos índios à redação de Diário Causa Operária:
Por fim, o vídeo enviado também pelos manifestantes ao Diário Causa Operária com o momento em que a Tropa de Choque é desmobilizada, abandonando a rodovia: