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Coluna

A saga dos Bate-Bolas, de Felipe Bragança

As manifestações populares contra a burguesia

Comumente, arte se identifica com resistência política; nessa identificação, geralmente, a qualidade da arte, porque engajada, termina por se subordinar às ideologias políticas e, às vezes, pode se enfraquecer. Contudo, na história em quadrinhos “Claun – a saga dos Bate Bolas”, criada por Felipe Bragança, com arte de Daniel Sake, Diego Sanchez e Gustavo M. Bragança, isso não acontece; nela, arte e política se encontram perfeitamente equilibradas, com uma justificando a outra valendo-se de ética e beleza.

Logo na capa, com emblema de São Jorge guerreiro matando o dragão, um mascarado surge entre as chamas, cabendo indagar o que isso significa; aliás, antes de ler a HQ, muitos leitores, provavelmente, desconhecem os Bate-Bolas, suas desventuras e seus desafios.

Em linhas gerais, Bate-Bolas se formam de grupos de mascarados; contudo, eles não se identificam com gangues, constituindo-se de grupos de pessoas engajadas com valores e mitologias próprias, dramatizadas ao longo da HQ. Dessa maneira, os Bate-Bolas se aproximam de tribos, por isso mesmo, em sociedades regidas pela massificação, como a pré-capitalista existente no Brasil, mais afeita ao trabalho escravo do que ao socialismo, tais grupos terminam perseguidos e brutalmente reprimidos por forças policiais. Isso parece exagero, no entanto, basta a miscigenação antirracista vivida pelos Bate-Bolas para que eles sejam considerados elementos subversivos; tal pecha, mediante práticas combativas, termina assumida e, até mesmo, professada enquanto forma de resistência.

A saga se compõe por cinco histórias correlacionadas entre si, todas com roteiro de Felipe Bragança; a arte, porém, pertence a Daniel Sake, Diego Sanchez ou Gustavo M. Bragança, revezando-se nas HQs. Cada um desses artistas possui traços singulares, cuja diversidade não apenas valoriza graficamente o trabalho, seguindo correlacionada à fragmentação da trama, entretecida pelos seguintes temas: (1) desencontros amorosos; (2) conflitos entre as famílias componentes dos grupos de mascarados; (3) deserções seguidas de traições; (4) resistência à repressão policial; (5) presença de elementos míticos. Tudo, vale lembrar, sem cair na facilidade da construção de sequências lineares, nas quais os capítulos se encadeariam uns após os outros; longe disso, partes das histórias permanecem vagas, não por insuficiências do roteiro, mas enquanto recurso estilístico ao tratar de questões veladas, tais quais a vida nas comunidades alternativas.

Por fim, no final do álbum, encontra-se bom material fotográfico a respeito das comunidades dos Bate-Bolas, acompanhado de depoimentos e do belo mapa, com arte do Diego Sanchez, da disposição dos grupos na cidade do Rio de Janeiro.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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