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Coluna

A resposta da Venezuela ao imperialismo

"Na Venezuela, à medida que a data da posse do Presidente Maduro se aproxima, as ameaças vêm de todos os lados"

Após os avanços da direita internacional que conseguiu a derrubada do governo de Bashar al-Assad na Síria, todos os países que se opõem ao criminoso imperialismo norte-americano e europeu passaram a ser ameaçados de invasões de terroristas das mais variadas espécies. O Iraque se tornou de repente a bola da vez, com a possibilidade de multidões de jihadistas invadirem o país a partir da própria Síria. 

Na Venezuela, à medida que a data da posse do Presidente Maduro se aproxima, as ameaças vêm de todos os lados. O torturador e assassino Edmundo González Urrutia quando membro da embaixada da Venezuela em El Salvador, já anunciou que chegará na Venezuela no dia 10 para tomar posse da Presidência. Ele foi reconhecido pelos países imperialistas como presidente eleito da Venezuela, uma ficção ainda maior que o autodesignado Juan Guaidó em 2019. 

Em resposta a estas ameaças, Maduro fez um discurso em 17 de dezembro, data de nascimento de Simón Bolívar, em que mostrou que o país está pronto para resistir a qualquer tentativa de golpe ou invasão: “Neste dia maravilhoso e impressionante, lembrando a vida imortal do Libertador, devemos dizer que a chave para tornar a paz irreversível e nossa soberania, é capacitar e organizar as pessoas a cada dia mais e mais. Estamos no caminho das grandes transformações do país, irmãos e irmãs, patriotas da Venezuela, devemos empoderar as comunidades, a classe trabalhadora, camponeses, os pescadores e todos os bairros e urbanismos.”

Este discurso tem um significado especial, porque após as eleições e a tentativa da direita de dar um golpe violento, o governo retomou o fortalecimento do poder popular chamado de poder comunal que é uma estrutura de poder paralelo ao Estado burguês, fundamentado nas estruturas territoriais de bairros e regiões e que conta com o armamento e treinamento militar do povo venezuelano. Essa é a ameaça que amedronta os imperialistas, pois foram estas estruturas que possibilitaram o fracasso das várias tentativas de invasões e golpes de Estado ocorridas anteriormente. 

Outra parte do discurso de Maduro mostra que ele está consciente da necessidade de reforçar esta alternativa de poder popular. “Não vamos perder um segundo, é um processo que será imposto pela classe trabalhadora através de uma sociedade humanizada e socialista do século XXI. O Poderoso Bloco Histórico de uma sociedade pacífica, mas armada e pronta para defender a Pátria contra qualquer ameaça, perseguição ou agressão, devemos estar preparados para garantir a paz e empoderar o povo.” Além disso, lembrou que “o velho conceito de democracia liberal, elitista e burguesa não voltará porque aqui na Venezuela a democracia é do povo com o povo e para o povo”, declarou o Presidente.

Pressão Máxima

Donald Trump ameaça aplicar a “pressão máxima” sobre a Venezuela. Para Trump, o regime de Nicolás Maduro estará no centro das atenções da sua política externa para a América Latina e que a meta será a construção de uma coalizão regional contra Caracas. O que os EUA querem é garantir que o abastecimento de petróleo não dependa mais do Oriente Médio. Ele acha que a estratégia adotada por Joe Biden de negociações e que resultou no acordo de Barbados, que previa a realização de eleições livres e a retirada de parte das mais de 900 sanções impostas pelos EUA contra Maduro, fracassou. Ocorre que posteriormente Biden exigiu a oficialização da candidatura Maria Corina Machado e o acordo virou letra-morta. O governo de Joe Biden argumenta que a estratégia de pressão máxima de Trump adotada entre 2016 e 2020 na Venezuela fracassou e provocou a maior onda de refugiados e migração na história recente da América Latina.

A equipe de Trump avisa que não descartará a negociação, mas acompanhada por pressão máxima e criação de uma coalizão regional em que o Brasil será peça chave. Eles alegam que a ideia de um conflito armado com participação dos EUA não seria a prioridade. Mas a citação da opção indica que ela poderá ser usada com a coalizão regional se encarregando das operações militares. 

A consultora Kiron Skinner teve a incumbência de apresentar a proposta de política externa do projeto 2025 de Trump. Para ela, “a liderança comunista (da Venezuela) se aproximou de alguns dos maiores inimigos internacionais dos Estados Unidos, incluindo a China e o Irã”. Ela propõe que “para conter o comunismo venezuelano e ajudar os parceiros internacionais, o próximo governo (americano) deve tomar medidas importantes para alertar os abusadores comunistas da Venezuela e, ao mesmo tempo, fazer progressos para ajudar o povo venezuelano”.

A posse de Maduro está garantida

Em 10 de janeiro de 2025, Maduro deve ser empossado presidente da República para o período 2025-2031, de acordo com a decisão da Comissão Nacional Eleitoral (CNE), ratificada pelo Superior Tribunal de Justiça (TSJ) e pelo Poder Moral. A aprovação pela Assembleia Nacional é garantida, pois o PSUV é a força majoritária.

A realidade é que o governo Maduro possui controle político efetivo, pois o governo e as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas controlam todo o território venezuelano. Não há bases ou enclaves onde o imperialismo possa se infiltrar para concentrar tropas, como fizeram na Síria.

O Brasil e a Colômbia, com os governos de Gustavo Petro e Lula da Silva, nunca estarão dispostos a envolver suas forças armadas em uma invasão para e golpe de Estado. O perigo está na Guiana, mas a logística de uma invasão a partir deste país seria muito complicada.

  O maior perigo é o estado de Zulia, que está conectado ao Mar do Caribe e pode ser uma cabeça de ponte para a invasão de forças estrangeiras. Mas este fato tornou o governo ativo na região para impedir qualquer movimentação deste tipo.

O povo venezuelano não quer uma “mudança de regime”

A população, mesmo os eleitores de Maria Corina, já virou a página. Com rancor ou alegremente, já é aceito que Maduro continuará governando por mais seis anos. Uma pesquisa da agência Hinterlaces em setembro de 2024 mostrou que 72% dos entrevistados indicaram que “concordam” com a afirmação de que “devemos fechar a etapa eleitoral e que os venezuelanos trabalhem juntos para levar o país adiante”. Apenas 26% discordaram, enquanto 2% não responderam.

Um novo país

A economia venezuelana começou a se recuperar e reduzir a inflação no segundo trimestre de 2021 e, desde então, não parou de crescer. Fechará 2024 com um crescimento de 8,5% do PIB, e com a menor inflação das últimas duas décadas. Esse crescimento favoreceu mais os grupos empresariais e estatais do que a população como um todo, mas houve um transbordamento que melhorou as condições de vida de todas as famílias venezuelanas.

Ao contrário do que acontece no Brasil, que está crescendo menos, e principalmente na Argentina, que está em recessão aguda, os resultados econômicos positivos atingem também a classe trabalhadora e os pobres. O governo Maduro levou a frente um processo de industrialização do país e de criação de uma agricultura produtora de alimentos. O resultado é que a inflação reduziu-se, os salários subiram, embora ainda sejam muito baixos, mas a crise de desabastecimento e a fome, que expulsaram milhares de venezuelanos do país, não ocorre mais. Um relatório publicado pelo jornal Infobae, insuspeito de ser chavista, informa que a pobreza atinge 51,9% da população da Venezuela. Com um país bloqueado e sujeito a sanções internacionais, os números da pobreza na Venezuela hoje são muito semelhantes aos da Argentina. A diferença é que a Venezuela ainda é um país soberano e está mudando para melhor e crescendo.

O grande problema para o imperialismo e a extrema direita local é que a população não quer uma “mudança de regime” e a direita carece de líderes confiáveis. Se a imagem do governo ainda é controversa, a imagem da direita é terrível. O último evento convocado por María Corina Machado na Plaza de la Candelária, no leste de Caracas – muito divulgado pela imprensa estrangeira – não reuniu mais de duzentas pessoas.

Atentados

Nos últimos tempos, houve atentados como o que atingiu a fábrica de Muscar da PDVSA em Monagas em 11 de novembro. 80% do gás injetado no mercado interno passa por essa usina e afeta a geração de energia elétrica e o fornecimento de gás engarrafado para uso doméstico.

Esses ataques, que visavam milhões de famílias venezuelanas para passar o Natal no escuro e sem gás de cozinha, tinham como objetivo promover a raiva popular. Até agora, o governo está conseguindo conter essas emergências, mas novos ataques não estão descartados.

O poder comunal: poder popular sem a burguesia

Os últimos movimentos do governo de Maduro foram no sentido de fortalecer o poder comunal, que é sem dúvida uma das iniciativas mais importantes do período Chávez. O poder comunal foi estruturado para ser autônomo, como um embrião de um poder autenticamente popular, e que havia sido abandonado por Maduro nos últimos anos. De fato, durante a crise econômica que começou em 2015 e durou até 2021, o poder comunal tornou-se um importante meio de mobilização popular e de interlocução da população com o Estado e o PSUV, que foi muito útil no auge da crise. 

Nos meses que antecederam as eleições presidenciais, a nomeação de um ministro das Comunas que, a partir de sua própria experiência em “El Maizal”, havia entrado em conflito com o Estado e o partido, oxigenou a relação com as experiências comunais mais poderosas. Após as eleições, essa linha de ação foi reafirmada, contribuindo para a recuperação de um importante ativo militante que havia se retirado insatisfeito com as políticas oficiais. Essa política contribui para recuperar a base de apoio político de Maduro e do PSUV, o que se expressou nas grandes mobilizações de massa antes e depois das eleições. 

A ideia de um perigo sírio para a Venezuela, alimentada pela social-democracia europeia, pela nova direita internacional e pelo novo governo Trump, não parecem ter bases sólidas. No caso venezuelano continua a vigorar a maldição de que a direita é muito forte no exterior, mas não atrai os seus compatriotas. Seus líderes são um bando de criminosos violentos que se abasteceram por décadas com dólares dos EUA com a promessa de expulsar o chavismo do governo.

O governo Biden nos EUA colocou o mundo às vésperas da Terceira Guerra Mundial com consequências imprevisíveis. Alguns analistas apontam que Donald Trump vai parar as guerras priorizando o fortalecimento do seu próprio país. A questão é que o imperialismo quer se apossar do petróleo da Venezuela, mesmo se para isso for necessária uma guerra. 

A Venezuela é um país que terá que reforçar sua soberania porque o inimigo da América Latina, Marco Rubio, está agora no Departamento de Estado. O que está em jogo é muito mais importante que a questão da Síria e espera-se que Rússia, China e Irã deixem de ser apenas espantalhos vazios e defendam um país que só não é dos BRICS por causa do veto do Brasil.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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