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Fábio Picchi

Militante do Partido da Causa Operária (PCO). Membro do Blog Internacionalismo e do Coletivo de Tecnologia do Partido da Causa Operária. Programador.

Coluna

A questão da moradia é mundial

Especulação imobiliária é um problema em todos os países, especialmente no coração do imperialismo, os Estados Unidos

Nasci e vivi grande parte da minha vida em São Paulo, uma metrópole cuja população já ultrapassa a marca dos 12 milhões. Se considerarmos a Grande São Paulo, o número passa facilmente de 20 milhões de habitantes. Em resumo, é uma das cidades mais populosas do planeta e talvez a mais rica de toda a América Latina.

Apesar de toda essa riqueza, materializada nos belos arranha-céus dos grandes centros financeiros como a Avenida Paulista e, mais recentemente, a Avenida Faria Lima, problemas básicos da população paulista estão longe de serem resolvidos. Abordaremos hoje a questão da moradia, talvez a mais crítica, porque escrevemos esta colinha no último dia de nossa viagem aos Estados Unidos onde também tivemos contato com o mesmo problema e com organizações de luta que se mobilizam por esse direito básico por aqui. Mesmo nos Estados Unidos, economia mais rica da história da humanidade, o direito a um teto está longe de ser um problema resolvido.

Além de no último final de semana termos tido a honra de participar do Congresso do Partido dos Comunistas dos Estados Unidos (PCUSA), nesta semana participamos de duas reuniões da organização Vida Urbana, que atua no estado de Massachussets, mais especificamente nos entornos da cidade de Boston, outra metrópole com problemas muito familiares para os paulistanos. Tivemos essa oportunidade graças ao trabalho da companheira Tatiane Oliveira, militante do Partido da Causa Operária aqui em Boston, atuante no movimento de luta por moradia. Antes de detalharmos nossa experiência por aqui, vale contar essa história.

Durante a pandemia, a família da companheira Tati foi ameaçada de despejo. O prédio onde moravam com mais quatro famílias, que tinha em sua base três pequenos negócios, foi vendido para uma escola particular que queria o terreno para a construção de uma nova unidade. É o processo de “gentrificação” de bairros operários que busca torná-los palatáveis para setores mais abastados, de classe média, com infraestrutura como escolas particulares e outras coisas, como transporte público de qualidade, restaurantes chiques, etc. No processo de luta para ficar na sua casa, Tati aproximou-se da Vida Urbana, e a organização explicou-lhe bem o que fazer e, acima de tudo, quais eram seus direitos como inquilina.

A luta não manteve o apartamento em que moravam. Fomos ao terreno onde estava o prédio, hoje demolido. A construção da nova escola não era tão urgente que justificasse o aviso de despejo que dava apenas semanas a Tati e sua família para saírem de lá. Ainda assim, conseguiram um prazo mais humano para se realocar e hoje, Tati e sua família moram num local temporário enquanto aguardam a finalização de sua moradia final, parte de um Community Land Trust. Não encontramos uma tradução muito boa para o termo, mas, em poucas palavras, a Vida Urbana busca construir “monopólios do bem”. Através de doações ou da própria compra de terrenos nas cidades onde os aluguéis e preços de imóveis são cada vez mais altos, a organização fixa os preços de aluguel em seus próprios terrenos num patamar abaixo da média local (não acima, como se esperaria de um monopólio convencional). Há cidades europeias que seguem modelo parecido nas quais a própria prefeitura detém esse “monopólio”. É como uma estatização da moradia.

Se Vida Urbana ajudou Tati na luta por moradia, nossa companheira levou a política do PCO para eles e rapidamente se tornou uma liderança. Seu prestígio dentro da organização nos garantiu duas reuniões, uma em inglês e outra em espanhol. De cara ficamos surpresos com a organização de Vida Urbana: na reunião em espanhol havia até um intérprete para o inglês. Além de discutir uma agenda de atividades como mobilizações ou idas aos tribunais onde os casos de despejo estão sendo julgados – para pressionar o juiz – e de tratar dos problemas de cada inquilino, essas reuniões semanais têm um espaço para discussão política, do qual participamos.

Na primeira oportunidade falei um pouco sobre a especulação imobiliária e sua relação embrionária com a política neoliberal e a financeirização da economia capitalista como resposta à crise terminal que vivenciamos. Na segunda, compartilhei o pouco que sei da experiência brasileira de luta por moradia nas cidades e por terra no campo. As causas e efeitos são os mesmos, mas a forma como lutamos no Brasil e nos Estados Unidos são diferentes.

No Brasil é comum a construção de moradias improvisadas que formam as nossas favelas nas periferias das grandes cidades. São, de fato, ocupações. Assim como as ocupações que vemos nos prédios abandonados no centro de São Paulo ou aquelas organizadas pelo MST no interior do Brasil. Nos Estados Unidos, um dos principais métodos de luta é a formação de organizações como Vida Urbana, um sindicato de inquilinos, que coletivamente pressiona os proprietários a controlarem os altos aluguéis.

O trabalho de Vida Urbana é fantástico e o grau de politização de seus membros me dá muita esperança de que serão vitoriosos em mais embates além desse que envolve a companheira Tati. Não é possível conter o monstro especulativo através da expansão desses “trustes populares” que fixam os preços dos aluguéis, mas essa é uma conquista importante e leva a um confronto com a burguesia, o que inevitavelmente acelera a politização dos envolvidos. A anarquia da produção capitalista nunca resolverá a questão da moradia, tema abordado por Friedrich Engels já no final do século XIX tendo por base a capital britânica Londres.

Volto ao Brasil com vontade de ficar aqui, dado o potencial de expansão que temos. As duas experiências nos Estados Unidos, com o PCUSA e com Vida Urbana, mostram a riqueza do trabalho do PCO no exterior. Atuamos tanto com outros partidos como, através de nossos militantes, nos próprios movimentos sociais de outros países. Semana que vem trataremos em maior detalhe a experiência com Vida Urbana e teremos mais novidades em relação ao trabalho internacional.

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